terça-feira, 30 de janeiro de 2018

OS ARQUITECTOS E A CIDADE – I

Marques da Silva

José Marques da Silva nasceu em Paranhos no ano de 1869. Seu pai, Bernardo Marques da Silva, foi o fundador da primeira empresa mecânica de mármores que a cidade conheceu. Esta situação foi importante para Marques da Silva, já que foi possível ao futuro arquitecto ter a ajuda económica dos pais aquando da sua ida para o estrangeiro a fim de concluir os estudos. Na Escola de Belas Artes, Marques da Silva teve aulas com os melhores professores da época: Geraldo Sardinha, Marques de Oliveira, Soares dos Reis, etc.
Em 1889, vai para Paris para concluir os estudos e aqui convive com Teixeira Lopes, Veloso Salgado e com os franceses Binot e Chamut, entre outros.
Em 1896, com o curso já concluído, concorre ao Monumento a Afonso de Albuquerque (com a colaboração de Teixeira Lopes) e obtém o terceiro lugar. Concorre ainda ao projecto do Monumento ao Infante, no Porto e ao projecto da reconstrução dos Jerónimos. De referir que este projecto esteve exposto em Paris na Exposição Universal de 1900, mas que se perdeu na vinda para Portugal por causa de um naufrágio que o navio sofreu!
De regresso ao nosso País é encarregue de dirigir as obras da Igreja de S. Torcato em Guimarães e, em 1902, é nomeado professor do Instituto Industrial e Comercial do Porto. Em 1907, é nomeado professor de arquitectura da Academia Portuguesa de Belas Artes por vaga, devido ao falecimento de seu mestre José Geraldo Sardinha.
Em 1912, é nomeado director da Escola de Belas Artes. Em colaboração com a Câmara Municipal do Porto, trabalhou no projecto da Avenida dos Aliados (apesar da autoria do plano ser do inglês Barry Parker). É no Porto que Marques da Silva teve o grosso da sua produção. Das suas inúmeras obras temos a salientar:
- Estação de S. Bento (1896-1900), construída no local onde esteve durante séculos o Convento de S. Bento de Avé-Maria;
- Monumento à Guerra Peninsular (1909), na Praça Mouzinho de Albuquerque (Rotunda da Boavista), aqui com a colaboração do escultor Alves de Sousa;
- Teatro S. João (1909), no local onde esteve instalado outro teatro com o mesmo nome, mas que foi devorado pelo fogo em 1908;
- Edifício dos “Grandes Armazéns Nascimento” (1914) onde posteriormente foram instaladas as “Galerias Palladium” e onde hoje está a “C&A” e a “FNAC”;
- Edifícios da “Nacional” e do Banco Inglês (actual BBVA) (1919) que estão no início da Avenida dos Aliados, à esquerda e à direita respectivamente;
- Liceus Alexandre Herculano (1914) e Rodrigues de Freitas (1918);
- Capela-mor da nova igreja de Cedofeita;
- Casa de Serralves (1925);
- Casa-Atelier onde Marques da Silva viveu, na Praça Marquês de Pombal, 44 e onde está instalada a Casa Museu dedicada ao legado do Arquitecto.
Em quase todas as obras de Marques da Silva, e no dizer do arquitecto Nuno Tasso de Sousa, “emerge uma cultura afrancesada, majestosa e sensível à grande urbanidade”. Face ao que foi acima exposto, podemos afirmar que, pela quantidade e qualidade da obra, Marques da Silva é sem dúvida o arquitecto que mais marcou o Porto no século XX. Não só no que construiu, mas também na influência que teve nos arquitectos modernistas, como Manuel Marques, Rogério Azevedo, Januário Godinho, etc., assim como nas gerações sucessivas com nomes como Fernando Távora, Júlio de Brito, Siza Vieira, Souto de Moura, etc., nomes que tornaram famosa a Escola do Porto.


Para perpetuar a memória do arquitecto na toponímia da cidade, a Câmara Municipal do Porto decidiu em 1964 mudar o nome da então Viela da Friagem para Rua do Arquitecto Marques da Silva. Esta artéria fica na zona do Bom Sucesso e liga as ruas do Campo Alegre e Gonçalo Sampaio.

Sem comentários:

Enviar um comentário