terça-feira, 30 de janeiro de 2018

RUA DE MIGUEL BOMBARDA



A artéria que liga a rua de Cedofeita à rua da Boa Nova evoca desde a implantação da República o nome do médico e psiquiatra Miguel Bombarda. Mas nem sempre foi assim pois, se consultarmos as plantas da cidade referentes ao século XIX, vemos que a rua ostentava o nome de rua do Príncipe. Na planta de Clark de 1833, a rua ia só até à rua do Rosário; na de Costa Lima (1839), tinha já a sua fisionomia actual. Mas existe um facto curioso: é que o jornal “Crónica Constitucional” (jornal oficial do Porto durante o Cerco) chamou-lhe sempre rua Nova do Príncipe!
Mas quem era este príncipe? Era o futuro D. João VI, “O Clemente” que foi mais tempo príncipe regente que rei. D. João VI assumiu a regência por doença de sua mãe, D. Maria I, até 1816, ano da morte desta, mas com a côrte já no Brasil onde se instalou desde a primeira das invasões francesas em 1807. Como já referi, após a implantação da República, o nome da rua foi mudado (assim como dezenas de outras) para homenagear um republicano famoso e só assim é que se compreende que o nome não ostente o “Dr.”, como seria normal, o que prova que mais que o médico se estava a imortalizar na toponímia o político. Por ironia do destino, Miguel Bombarda morreu na antevéspera da queda da monarquia – assassinado por um doente mental, Aparício Rebelo dos Santos, militar paranoico.
Miguel Bombarda nasceu em 1851 no Rio de Janeiro e o seu interesse pela psiquiatria deu-se muito cedo, pois logo em 1877 publicou um ensaio subordinado ao tema “Delírio das Perseguições”. No início do século XX, já era presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa e, em 1906, organizou o XV Congresso Internacional de Medicina. Nos
últimos anos da sua vida envolveu-se na política, assumindo alguma radicalidade, nomeadamente nas posições anticlericais.
No entanto, a imagem que ficou foi a de um homem dotado de uma capacidade intelectual notável, exemplar típico do médico
com uma grande influência social e política. Hoje, a rua é conhecida principalmente por albergar cerca de quinze galerias de arte (a rua e as suas adjacências) o que lhe dá, sobretudo nos dias de inaugurações – que são sempre ao sábado, um ar cosmopolita, o que já levou a chamar à zona o “Soho” do Porto, em referência ao conhecido bairro intelectual londrino.
Para terminar, será curioso referir que a pequena artéria que liga a rua Miguel Bombarda à travessa do Carregal, e que desde 1941 se chama Diogo Brandão, era a rua particular Miguel Bombarda.

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