RUA DUQUE DE SALDANHA
A toponímia portuense tem algumas particularidades. Uma delas é o facto da mesma personagem ser homenageada em locais diferentes da cidade. Um deles é João Carlos Gregório Domingos Vicente Francisco de Saldanha Oliveira e Daun, neto do marquês de Pombal e conhecido na História pelos títulos de Duque de Saldanha e Marechal Saldanha.
A rua Duque de Saldanha é uma artéria que liga o Largo Baltasar Guedes (o fundador do Colégio dos Órfãos) ao Campo 24 de Agosto (que homenageia a data da Revolução Liberal de 1820). Esta via foi aberta nos finais do século XIX nos terrenos da Quinta do Reimão, ou do Cirne, que foi comprada pelos capitalistas de então, Eduardo Pinheiro e Ferreira Cardoso, que também têm direito a nome de rua nas imediações da artéria que hoje estamos a tratar. Estes homens urbanizaram a já citada quinta e as ruas, que nasceram então, homenageiam muitos vultos do século XIX português. Na Foz, Saldanha também é lembrado pelo título (Marechal) outorgado por D. Pedro IV antes das derradeiras batalhas da Guerra Civil de 1832-34 que pôs os liberais no poder. Aqui, a rua com o seu nome liga a Praça de Liège (que até 1914 se chamou Largo do Monte da Luz) à Praça de Goa.
Mas quem foi este personagem? Verdadeiro “Condottiere” à Portuguesa, começa absolutista e colabora na Vilafrancada onde D. Miguel dizima as esperanças dos liberais. Em 1826, já maçónico, dirige o levantamento do Porto que obriga D. Maria II a aceitar a Carta Constitucional. Depois passa para os Liberais Radicais até 1835 quando deserta para os Moderados. Em 1846, dirige a Guerra Civil causada pela Patuleia e comanda os Cartistas contra os Radicais (que antes apoiava) que bate com violência. Em 1851, com a ajuda de José Passos, derruba os Cartistas e ajuda a impor a Regeneração que vem dar origem ao período da Monarquia Constitucional. Em 1870 (com 80 anos!) faz um novo golpe (a Saldanhada) que o mantem no poder até ser afastado por D.Luis. Vai então para Londres, como embaixador, onde falece em 1876 com 86 anos.
Confusos com estas mudanças e ziguezagues políticos? Não é para menos. Mas há mais: acusado de peculato por uns, detestado pela rainha que preferia Palmela... Saldanha tem ainda tempo para cobiçar a fortuna de Dona Antónia Ferreira (Ferreirinha) e força o casamento com a filha desta. Vendo-se rejeitado, persegue-as com um regimento, o que as obriga a fugir do país para a Galiza, até cair em desgraça junto do rei.
Como se pode ver, a tradição de alguns políticos mudarem de campo conforme os interesses do momento vem de longe, mas este Saldanha representava em si o pior do século XIX: prepotência, saque do aparelho do Estado e incapacidade de seguir a fase de modernização que toda a Europa estava a viver à boleia da industrialização e que poderia ter sido aproveitada para transformar um país eternamente adiado.
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