AS ILHAS DO PORTO ( I PARTE ) -
As
ilhas são ao nível do urbanismo o facto mais saliente da cidade na segunda
metade do século dezanove e que perduraram até aos nossos dias.
Elas
foram a resposta que a cidade conseguiu dar às populações que demandaram a urbe
a partir de 1860, em busca de melhores condições de vida que a industrialização
nascente prometia.
As
ilhas são um fenómeno típico do Porto e dos municípios vizinhos, bem
diferenciadas do fenómeno lisboeta.
Aqui,
na capital, encontramos os pátios (locais onde alojaram os milhares de
forasteiros que foram à procura dos empregos criados à boleia da nossa tímida
industrialização). que se calhar vêm da influencia muçulmana.
As
ilhas do Porto têm alguma semelhança com as “back to back houses”, de Leeds e
outras cidades britânicas.
Esta
realidade terá a ver a com a influencia que a comunidade britânica exerceu no
Porto?
Numa
forma simplificada, podemos dizer que as ilhas são filas de pequenas casas de
um só piso, construídas nas traseiras das casas burguesas e com uma ligação à
rua feita por um pequeno corredor perpendicular à artéria principal. A cidade
do Porto passou de cerca de 90.000 habitantes em 1864 para quase 170.000 em
1900, isto é quase duplicou a população num espaço de pouco mais de 30 anos.
Este acréscimo deveu-se quase todo à imigração das populações rurais do Norte
que vieram para a cidade em busca de melhores condições de vida.
Só
que os baixos salários que vinham usufruir apenas lhes permitiam o acesso às habitações
mais económicas que existiam, as ilhas, O crescimento das ilhas acompanharam
sempre o crescimento populacional, assim entre 1864 e 1900 foram construídas
mais de 10.000 habitações nas ilhas o que correspondeu a 63 % do volume de
construções na cidade!
A
população das ilhas era constituída essencialmente por gente ligada à
indústria. Em grande parte dos lares, ambos os adultos e pelo menos um filho
trabalhavam nas inúmeras fábricas que do Bonfim (a Manchester portuense) a
Cedofeita marcavam a paisagem da cidade. Assim não é de estranhar que num estudo
efectuado pelo Dr. Ricardo Jorge se chegasse à conclusão que em 1899 11.129
casas, nas ilhas, albergavam 50.000 habitantes, tendo chegado a um máximo de
60.000 nos anos 40 do século XX. Hoje a população alojada em ilhas é de cerca de
11.000 habitantes.
As condições de vida eram péssimas. As casas eram fracas com deficientes
condições de alojamento, insalubres e grande parte delas sobre ocupadas. As
rendas, regra geral ocupavam 10% dos rendimentos disponíveis indo 80 % para a
alimentação onde o pão ocupava lugar cimeiro. A população das ilhas vivia num
outro mundo em relação à cidade burguesa e comercial e como estavam escondidas
de todos logo foram chamadas de “ Ilhas “ .Ilha do Vilar, na Rua do Vilar |
“
Foi a eclosão da peste bubónica de 1899 que obrigou a cidade e os seus
responsáveis a olharem de frente para o problema. Situação que só começou a ser
um facto a partir dos anos 40 na vereação do Dr. Mendes Correia. Mas não foi só
a Bubónica a dizimar a população das ilhas outras doenças encontraram aqui
pasto fértil para a propagação e dizimação de uma população fragilizada pelas
péssimas condições de vida. Por isso não é de estranhar que a Tuberculose (a tísica,
como se dizia na altura) em 1833 a Cólera que repetiu em 1855 e 1892, febre-amarela
em 1850 e 1855. De todas estas doenças não há duvidas que a Tuberculose é que
dizimou mais vítimas, chegando a ser responsável por 1700 óbitos na zona do
Porto, isto é um terço do país! Ainda hoje a Tuberculose tem uma taxa de
incidência na zona do Porto três vezes superior ao do resto do país. Por isso
ainda hoje ecoam as palavras do Dr. Ricardo Jorge que chamava ao Porto a sua
cidade cemiterial!
Apesar
das ilhas hoje já não serem a face mais visível da habitação popular, são os
bairros sociais, o facto é que toda a gente da cidade se lembra de Ilhas
emblemáticas, tais como: A Ilha do Leal, A Ilha Herculano, a Ilha do Vilar,
Parceria e Antunes etc. Por isso não é de estranhar que alguns autores
considerem as ilhas como o subconsciente do Porto e nelas apesar da pobreza
sórdida (ou por causa dela) se tenham criado laços de solidariedade social
entre os seus habitantes que ajudaram a minorar as condições humilhantes de
existência.
Lembro-me da Ilha da Corticeira nas redondezas das Fontainhas no Porto, lugar altamente perigoso e bastante degradado.
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