quarta-feira, 4 de julho de 2018

Judeus Oriundos do Porto

JUDEUS  ORIUNDOS DO PORTO 


Aboab, Emanuel (1555-1628)
Intelectual, nasceu no Porto onde foi educado pelo seu avô, Abraão Aboab. Viveu em Itália, nomeadamente em Pisa e daqui partiu para Corfu, na Grécia, onde conviveu com Orazio del Monte, sobrinho do Duque de Urbino, que o protegeu. Posteriormente regressou a Itália, Veneza, onde foi rabino. Foi autor de um livro de direito tradicional, onde elencou as personalidades que mais defenderam esse mesmo direito, que foi publicado pelos seus descendentes em Amsterdão, em 1629.


Baruch, Ralph (1923)
Fugidos à Alemanha nazi, os pais de Ralph e este chegam a Lisboa depois de uma odisseia por vários países para, posteriormente, tentarem chegar aos Estados Unidos. De Lisboa vêm para o Porto e aqui são ajudados pelo Capitão Barros Basto e pela família. Daqui partem no navio Niassa para o continente americano e chegam a Nova Iorque, onde uma nova vida os espera. Tal situação só foi possível graças à ajuda de Max Azancot, cunhado do Capitão Barros Basto, que só à sua conta e valendo-se da sua qualidade de advogado, terá auxiliado a fuga de muitos judeus. Nos Estados Unidos, Baruch vai tornar-se anos depois o presidente de um império ligado à televisão, a Viacom, que englobava a CBS, e agora também a VH1, Viva, MTV, Paramount Pictures e mais. Ganhou um Emmy, além de outras distinções e é ainda hoje considerado uma referência no mundo audiovisual norte-americano.


Beigel, Eliezer
Judeu de origem polaca é filho de Nathan Beigel, o presidente da Comunidade Israelita do Porto que sucedeu a Barros Basto em 1948. Ainda hoje, aos 80 anos de idade, faz parte dos órgãos sociais dessa Comunidade a que também presidiu.
É também uma figura muito respeitada comércio portuense.


Castelo Branco, Camilo (1825-1890)
Um dos mais prolíferos escritores portugueses de sempre. É também um dos autores que mais usa a temática judaica na sua obra. Vários livros nos falam de judeus, rituais cripto-judeus e nota-se uma compaixão da sua parte pelas perseguições, ódios e incompreensões de que foram alvo ao longo dos tempos. Livros onde a temática judaica é central, ou importante: O Judeu, 1866 (este livro fala-nos de António José da Silva); O Olho de Vidro, 1866; Cavar em Ruínas, 1867; A Caveira da Mártir, 1875-76; Boémia do Espírito, 1886. Neste último livro Camilo diz-nos que a sua família, por parte do pai, é de ascendência judaica e estudiosos confirmam esta realidade, inclusive com a divulgação de processos encontrados nos arquivos da Inquisição onde se mencionam antepassados de Camilo que foram inquiridos pelos esbirros do Santo Ofício. O próprio Capitão Barros dizia que a leitura de alguns dos livros de Camilo o sensibilizaram para a questão dos marranos.

Costa, Uriel da

Uma das personagens mais controversas do judaísmo portuense. Nascido Gabriel da Costa, em 1579 na Rua das Flores e não em 1590, como muitos biógrafos afirmam. Foi o investigador Mendes dos Remédios que numa aprofundada pesquisa na Universidade de Coimbra onde Uriel cursou Direito Canónico, descobriu a data real do nascimento. Os seus pais, Bento da Costa e Sara da Costa eram cristãos-novos. Foi católico até aos 22 anos e, a partir daqui, as dúvidas começam a atormentá-lo o que o leva a estudar o judaísmo talvez para encontrar as respostas para as suas inquietações mais profundas. Abandona o Porto e vai viver para Amesterdão, cidade conhecida pela sua relativa, tolerância para com as confissões religiosas. É aqui que muda o nome de Gabriel para Uriel da Costa ou Uriel Abadot, mas também vai usar o pseudónimo de Adam Romez. Mas nem aqui o seu espírito belicoso vai ter paz pois edita o panfleto intitulado «Tratado da Imortalidade da Alma», onde nega a possibilidade da imortalidade da alma. Este libelo é uma resposta às acusações lançadas sobre si pelo seu adversário Samuel da Silva. Luta contra a visão mais ortodoxa do judaísmo e vai fazer muitas inimizades e rancores, o que leva a que seja excomungado não só pela Sinagoga de Amesterdão, como também pelas de Hamburgo e Veneza, com quem a Sinagoga holandesa mantinha estreitas relações. Uma situação que também deve ter perturbado Uriel da Costa é o facto de a sua mãe se ter reconciliado com a comunidade: O medo de correr o risco de ficar insepulta por causa das heresias do seu filho levaram-na a rever a sua atitude, o que deverá ter desgostado um homem perturbado e dado a desequilíbrios como era Uriel. Após avanços e recuos, a que não falta a acusação de que tentou assassinar um adversário e vendo-se totalmente ostracizado pela comunidade, vai suicidar-se em 1640. Agustina Bessa Luís, em 1984, dedicou a Uriel da Costa uma biografia intitulada «Um Bicho na Terra»: nesta obra a romancista vai afirmar que para ele a tragédia
era amar a sua religião e odiar a disciplina que ela impõe. Um homem que não acreditava na transcendência, nos dogmas, nos milagres, na imortalidade e afins não poderia sentir-se bem nem no catolicismo, nem no judaísmo, nem em religião alguma.

Cymerman, Henrique


Nascido no Porto em 1959. Filho de Ozias Leão Cymerman, já falecido, e de Cotta Benarroch. Seus pais estavam ligados à actividade industrial, mas o processo pós 25 de Abril, gerador de um caos no que respeita à actividade económica, fizeram com que saíssem do país, indo viver para Barcelona. Henrique Cymerman é licenciado pela Universidade de Telavive em Ciências Sociais, além de um mestrado em Ciências Políticas e Sociologia. Actualmente é correspondente de uma estação de televisão privada e de um canal público de rádio portugueses. Recentemente visitou o Papa Francisco juntamente com o seu grande amigo, o rabino argentino Abraham Skorka (professor de Bíblia e literatura rabínica no Seminário Rabínico da Argentina e no Jewish Theological Seminary of America), tornando‑se talvez no primeiro jornalista a visitar um papa na sua residência particular.


Dov, Ben (Menasseh Kniszinsky Ben‑Dov)

Judeu de origem lituana que fez parte das primeiras direcções da Comunidade Israelita do Porto. Os serviços que prestou à Comunidade foram de tal ordem importantes que
se tornou, juntamente com Barros Basto, num membro benemérito da Comunidade Israelita do Porto. Os alunos da yeshivá tinham por ele uma grande afeição e diziam que era tão grande a sua força física que era capaz de levantar dois homens ao mesmo tempo. Judeu ortodoxo, conta‑se que uma vez foi buscar a neta à escola e que ouviu um menino gentio dizer que um dia casaria com ela. Volvidos dois meses, Ben Dov abandonou Portugal, levando toda a família.


Lopes, Isabel Ferreira
Actual Vice‑presidente da Comunidade Israelita do Porto. Neta do Capitão Barros Basto. Seguindo as pisadas da mãe e da avó, foi ela quem requereu à Assembleia da República a reabilitação do avô, tendo a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias declarado, em 29 de Fevereiro de 2012, que «A condenação de Arthur Barros Basto pela decisão do Concelho Superior de Justiça Militar no processo de disciplina militar nº 6/1937 é justificada factualmente e motivada valorativamente por intolerância religiosa e por um preconceito anti‑semita verdadeiramente indisfarçáveis na análise dos autos daquele processo. Arthur Barros Basto foi «separado do exército» devido a um clima genérico de animosidade contra si motivado pelo facto de ser judeu, de não o encobrir, e, pelo contrário, de ostentar um proselitismo enérgico convertendo judeus portugueses marranos e seus descendentes. Numa época histórica matizada pelo sentimento anti‑semita, em que as mais abjectas teses acerca de raças superiores e inferiores pululavam pela Europa, Portugal não ficou totalmente imune a essas ideias — tal como nenhum outro país europeu desse tempo — e a sentença que vitimou Arthur Barros Basto é disso a prova mais plena e lamentável. Reabilitar Arthur Barros Basto é reconhecer um erro trágico cometido há mais de sete décadas, regenerando com isso o presente e o futuro dos portugueses, que se quer livre, democrático e tolerante. Com a reabilitação póstuma de Barros Basto serão todos os portugueses a serem ilibados de uma injustiça cometida contra um homem, mas que acabou por manchar todo um colectivo».


Jeffries, Dale
Actual presidente da Comunidade Israelita do Porto, à qual está ligado há 30 anos. É compositor musical. Divide a sua vida entre o Porto e Miami.


Litvak, Daniel (Rabino)
É o actual rabino da Sinagoga do Porto e preside ao comité religioso da Comunidade Israelita do Porto. De origem lituana mas nascido na Argentina, Litvak divide actualmente a sua vida entre Israel e o Porto. A sua supervisão de produtos como sendo casher é reconhecida pelo Grão Rabinato de Israel e por grandes organizações mundiais de casherut.


Losa, Ilse (1913‑2006)
Escritora de origem alemã nascida em Bauer, Hannover. Em 1930 é obrigada a sair da Alemanha dado terem começado por esta altura a perseguição aos judeus. Vai para Inglaterra mas, devido ao anti‑semitismo que encontrou, parte para Portugal em 1934. A escolha da cidade do Porto como destino justifica‑se pelo facto de o seu irmão mais velho já cá viver. Aqui conhece o arquitecto Arménio Losa, com quem casa em 1935. A partir daqui enceta uma carreira literária que a vai tornar numa das mais famosas escritoras, especialmente de literatura infantil, da segunda metade do século xx. Os seus livros O Mundo em que Vivi e Sob Céus Estranhos, narram a sua visão da cidade do Porto nos anos de chumbo da guerra. Ao longo da sua vida profissional dedicou‑se à tradução e viu a sua carreira literária ser consagrada com a obtenção de vários prémios. Em 1992 é homenageada pelo Goethe Institut, vindo a falecer em 2006.


Roth, Cecil (1899‑1970)
Professor inglês, natural de Londres, Cecil Roth tornou‑se famoso por ter divulgado, num estilo que o notabilizou pelo brilhantismo, a existência dos marranos, no livro História dos Marranos, de 1932, mas só traduzido para português em 2001. Antes já tinha publicado The Religion of Marranos, em 1931. É membro benemérito da Comunidade Israelita do Porto.


Samuel, Schwarz (1880‑1953)
Judeu polaco, nascido perto de Lódz. Samuel Schwarz conclui o curso de engenharia de minas em 1904, vindo trabalhar para Portugal depois de ter passado por vários países, incluindo Espanha, onde tomou conhecimento da existência dos sefarditas. Em Portugal viveu em Belmonte e, após o contacto com os descendentes dos cristãos‑novos, escreveu a obra Os Cristãos‑Novos em Portugal no Século XX, em 1925. Escreveu ainda outras obras dedicadas ao judaísmo em Portugal. Apesar de não ser um historiador, Samuel Schwarz foi o responsável pelo conhecimento no estrangeiro dos marranos portugueses. Por causa da sua acção vão fundar‑se diversos comités de ajuda pró marranos e enceta uma amizade com o Capitão Barros Basto.


Santos, António Ribeiro dos (1745‑1818)
Nascido no Porto, na freguesia de Massarelos, em 1745. Homem culto e cosmopolita, Ribeiro dos Santos licenciou‑se em direito na Universidade de Coimbra. Homem inserido no Espírito
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das Luzes, dotado de conhecimentos enciclopédicos, sobressaiu na historiografia e nos estudos relacionados com a linguística. Os seus estudos sobre o povo e a cultura hebraica foram pioneiros e tornaram‑se uma referência. Reorganizou a Real Biblioteca Pública da Corte, antepassada da Biblioteca Nacional. Depois de uma vida dedicada à cultura veio a falecer em Lisboa, em 1818.


Steinhardt, Inácio Kremer
Judeu de origem polaca e nascido em Lisboa em 1933. É investigador, tradutor, empresário, jornalista, ensaísta e estudioso do judaísmo em Portugal. Desde muito cedo que se sentiu atraído para o estudo da história dos judeus em Portugal e para a pesquisa dos vestígios do judaísmo e do cripto‑judaísmo. Autor de inúmeros livros, entre os quais Ben‑Rosh. Biografia do Capitão Barros Basto, com Elvira de Azevedo Mea (1997) e Raízes dos Judeus em Portugal (2012). Foi homenageado pela Comunidade Israelita do Porto em 12 de Junho de 2012 por relevantes serviços prestados à Comunidade e ali considerado o maior conhecedor da história das comunidades judaicas portuguesas actuais.


Zimler, Richard
Escritor nascido em Nova Iorque em 1956 e naturalizado português em 2002. Apesar de não ser um judeu religioso é um amigo da Comunidade Israelita do Porto. Obras principais: O Último Cabalista de Lisboa (1996); Meia‑Noite ou o Princípio do Mundo (2003); Os Anagramas de Varsóvia (2009); A Sétima Porta (2010); A Sentinela (2013).




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