FOZ
De couto beneditino a estância balnear, passando por uma efémera
independência concelhia
A existência de um povoado na Foz
do Douro perde‑se
na memória do tempo.
Mas a certidão de nascimento da
Foz, enquanto entidade de facto, é nos dada através de um documento régio de D. Afonso
Henriques que, através dele, doou à Ordem Premonstratense o actual território
da Foz, mas, como esta ordem religiosa teve, no nosso pais, uma vida breve, em
1176 voltou a doa‑la,
desta vez, à Ordem dos Beneditinos de Santo Tirso.
A Foz tornou‑se então couto dos frades de S. Bento e os diversos privilégios que lhes foram concedidos viriam a ser confirmados por vários monarcas tais como D. Afonso IV, D. Manuel, I e Filipe I.
Mas a Foz deve a sua fama e
evolução aos transportes e as vias de comunicação.
Os transportes do Porto para a
Foz, e vice‑versa,
sofreram ao longo do tempo uma evolução natural: não só porque os meios
melhoraram a nível de qualidade como também foi encurtado tempo de viagem entre
a então Praça Nova (actual Praça da Liberdade)
e esta freguesia.
De todas as linhas que existiram,
a mais curiosa, para os dias
de hoje, talvez seja a que se
denominou o “Carroção”; No dizer de Ramalho Ortigão, tratava‑se de ≪um pequeno prédio com quatro rodas, puxado por uma junta
de bois≫, onde, dentro, havia duas bancadas paralelas em que os
viajantes se sentavam.
No lado de fora, sobre uma faixa
de cor alegre, lia‑se
o nome
do proprietário — ≪Manuel José Oliveira≫ —
conhecido por toda
a gente pelo nome de ≪Manel Zé≫.
Depois do Carroção, surgiu o char‑a‑banc, uma espécie
de carruagem
com assentos laterais onde se
sentavam várias pessoas.
Outro carro famoso foi o Ripert, puxado por
cavalos, que neste tempo representou um grande avanço nas comunicações entre o
Porto e a Foz. Em 1870, o então barão da Trovisqueira foi autorizado pelo
decreto de 15 de Agosto a ≪estabelecer a sua custa na
estrada publica entre o Porto e
a povoação da Foz, podendo
prolongar‑se
até Matosinhos, um caminho‑de‑ferro para transporte de passageiros e mercadorias,
servido por cavalos.
Em 1874, a Companhia Carris de
Ferro do Porto inaugurou uma carreira de americanos entre o então Largo dos
Ferradores (actual Praça de Carlos Alberto) e o Largo de Cadouços, na Foz (agora
Largo Capitão Pinheiro Torres de Meireles), que se manteve ate 1910.
A tracção a vapor fez a sua
aparição em 1877, no trajecto entre a Boavista e Cadouços. E com tanto sucesso
que, logo em 1882, o percurso foi prolongado ate Matosinhos, ficando o trajecto
assim definido Boavista, Bessa, Fonte da Moura, Ervilha, Cadouços, Rua do
Túnel, Rua de Gondarém, Castelo do Queijo, Matosinhos.
E agora, digam lá se não é
novidade (pelo menos para muita gente) saberem que existiu uma linha de comboio
a ligar a Rotunda da Boavista a Matosinhos, passando pela Foz?!…
Em meados de 1910 a linha foi
suprimida, e em 1914 iniciou‑se o processo que visava o prolongamento da linha
eléctrica da Boavista
ao Castelo do Queijo.
Toda esta evolução fez com que a
relativa independência (que a distancia permitia) da Foz em relação ao Porto
fosse ultrapassada e a sua integração na cidade fosse um facto.
Um decreto régio de D. Maria II
(de 1836) pós fim a uma independência
concelhia que durava desde 1834.
Tal situação não causou surpresa, dado que o concelho, formado por uma só
freguesia (ainda por cima exígua) e sem capacidade financeira, estava condenado
a desaparecer.
Durante os dois anos de
autonomia, os vereadores reuniam‑se num edifício na Rua do Padre Luís Cabral (antiga Rua
Central), junto à Capela de Santa Anastácia.
A evolução populacional da Foz ao
longo de vários anos dá‑nos uma visão de como ao longo do tempo a população pouco
cresceu
e de como a relativa explosão só
se deu com o advento das comunicações.
Evolução populacional
1527 1300 hab.
1623 1571 hab.
1732 3312 hab.
1874 4800 hab.
1960 10 891 hab.
1981 12 964 hab.
2001 11 722 hab.
2011 10.997hab.
Como podemos verificar pelos
números acima fornecidos, a Foz do Douro mais do que duplicou a sua população
nos últimos cem anos, apesar de, nos últimos vinte, ter decrescido, em sintonia
com o que aconteceu no resto da cidade.
Se a evolução populacional foi
lenta, o urbanismo também o foi.
De facto, no século XIX, o
povoado limitava‑se
ao casario que se abrigava à sombra do Castelo e da Igreja.
Só numa fase posterior, finais do século XIX, inícios do século XX, mais tarde,
a freguesia cresceu no sentido
norte, ao longo da então Estrada
de Carreiros e Rua do Castelo do Queijo, (actuais avenidas do Brasil e
Montevideu).
Posteriormente, o crescimento deu‑se para nascente onde, na altura,
só havia pequenas aldeias (Passos era uma delas, que foi, depois, integrada na
freguesia de Nevogilde).
Esta evolução fez com que a Foz
do Douro se dividisse em duas:
a Foz Velha, e o seu emaranhado
de ruas e ruelas, pequenas e estreitas,
e a Foz Nova, com as suas casas
apalaçadas de uma rica burguesia
que descobriu as vantagens de
viver junto ao mar.
Excelente. Pbs Professor.
ResponderEliminarExcelente. Pbs Professor.
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