domingo, 4 de novembro de 2018

A FOZ E A SUA EVOLUÇÃO


FOZ



De couto beneditino a estância balnear, passando por uma efémera independência concelhia



A existência de um povoado na Foz do Douro perdese na memória do tempo.

Mas a certidão de nascimento da Foz, enquanto entidade de facto, é nos dada através de um documento régio de D. Afonso Henriques que, através dele, doou à Ordem Premonstratense o actual território da Foz, mas, como esta ordem religiosa teve, no nosso pais, uma vida breve, em 1176 voltou a doala, desta vez, à Ordem dos Beneditinos de Santo Tirso.










A Foz tornouse então couto dos frades de S. Bento e os diversos privilégios que lhes foram concedidos viriam a ser confirmados por vários monarcas tais como D. Afonso IV, D. Manuel, I e Filipe I.

Mas a Foz deve a sua fama e evolução aos transportes e as vias de comunicação.

Os transportes do Porto para a Foz, e viceversa, sofreram ao longo do tempo uma evolução natural: não só porque os meios melhoraram a nível de qualidade como também foi encurtado tempo de viagem entre a então Praça Nova (actual Praça da Liberdade)

e esta freguesia.

De todas as linhas que existiram, a mais curiosa, para os dias

de hoje, talvez seja a que se denominou o “Carroção”; No dizer de Ramalho Ortigão, tratavase de um pequeno prédio com quatro rodas, puxado por uma junta de bois, onde, dentro, havia duas bancadas paralelas em que os viajantes se sentavam.

No lado de fora, sobre uma faixa de cor alegre, liase o nome

do proprietário — Manuel José Oliveira — conhecido por toda

a gente pelo nome de Manel Zé.

Depois do Carroção, surgiu o charabanc, uma espécie de carruagem

com assentos laterais onde se sentavam várias pessoas.

Outro carro famoso foi o Ripert, puxado por cavalos, que neste tempo representou um grande avanço nas comunicações entre o Porto e a Foz. Em 1870, o então barão da Trovisqueira foi autorizado pelo decreto de 15 de Agosto a estabelecer a sua custa na estrada publica entre o Porto e

a povoação da Foz, podendo prolongarse até Matosinhos, um caminhodeferro para transporte de passageiros e mercadorias, servido por cavalos.

Em 1874, a Companhia Carris de Ferro do Porto inaugurou uma carreira de americanos entre o então Largo dos Ferradores (actual Praça de Carlos Alberto) e o Largo de Cadouços, na Foz (agora Largo Capitão Pinheiro Torres de Meireles), que se manteve ate 1910.

A tracção a vapor fez a sua aparição em 1877, no trajecto entre a Boavista e Cadouços. E com tanto sucesso que, logo em 1882, o percurso foi prolongado ate Matosinhos, ficando o trajecto assim definido Boavista, Bessa, Fonte da Moura, Ervilha, Cadouços, Rua do Túnel, Rua de Gondarém, Castelo do Queijo, Matosinhos.

E agora, digam lá se não é novidade (pelo menos para muita gente) saberem que existiu uma linha de comboio a ligar a Rotunda da Boavista a Matosinhos, passando pela Foz?!…

Em meados de 1910 a linha foi suprimida, e em 1914 iniciouse o processo que visava o prolongamento da linha eléctrica da Boavista

ao Castelo do Queijo.

Toda esta evolução fez com que a relativa independência (que a distancia permitia) da Foz em relação ao Porto fosse ultrapassada e a sua integração na cidade fosse um facto.

Um decreto régio de D. Maria II (de 1836) pós fim a uma independência

concelhia que durava desde 1834. Tal situação não causou surpresa, dado que o concelho, formado por uma só freguesia (ainda por cima exígua) e sem capacidade financeira, estava condenado a desaparecer.

Durante os dois anos de autonomia, os vereadores reuniamse num edifício na Rua do Padre Luís Cabral (antiga Rua Central), junto à Capela de Santa Anastácia.

A evolução populacional da Foz ao longo de vários anos dános uma visão de como ao longo do tempo a população pouco cresceu

e de como a relativa explosão só se deu com o advento das comunicações.


Evolução populacional

1527 1300 hab.



1623 1571 hab.



1732 3312 hab.



1874 4800 hab.



1960 10 891 hab.



1981 12 964 hab.



2001 11 722 hab.



2011 10.997hab.



Como podemos verificar pelos números acima fornecidos, a Foz do Douro mais do que duplicou a sua população nos últimos cem anos, apesar de, nos últimos vinte, ter decrescido, em sintonia com o que aconteceu no resto da cidade.

Se a evolução populacional foi lenta, o urbanismo também o foi.

De facto, no século XIX, o povoado limitavase ao casario que se abrigava à sombra do Castelo e da Igreja.

 Só  numa fase posterior, finais do século XIX, inícios do século XX, mais tarde, a freguesia cresceu no sentido

norte, ao longo da então Estrada de Carreiros e Rua do Castelo do Queijo, (actuais avenidas do Brasil e Montevideu).

Posteriormente, o crescimento deuse para nascente onde, na altura, só havia pequenas aldeias (Passos era uma delas, que foi, depois, integrada na freguesia de Nevogilde).

Esta evolução fez com que a Foz do Douro se dividisse em duas:

a Foz Velha, e o seu emaranhado de ruas e ruelas, pequenas e estreitas,

e a Foz Nova, com as suas casas apalaçadas de uma rica burguesia

que descobriu as vantagens de viver junto ao mar.


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