segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

LUGARES CAMILIANOS NO PORTO- I PARTE


 LUGARES CAMILIANOS NO PORTO

LIVRARIA MOREIRA DA COSTA
Inaugurada e
m 1902, fica na Rua de Avis, anteriormente Travessa da Fábrica. Foi fundada por um antigo funcionário da Livraria Ernesto Chardron, de nome José Moreira da Costa. Hoje, encontra-se na quinta geração da mesma família, o que é notável.
Este templo dos livros era local de encontro dos camilianistas da cidade do Porto.
Em 1952, a livraria promoveu um fac-símile do romance de Camilo A Infanta Capelista, uma edição limitada de uma obra que tinha sido retirado do prelo pelo autor. A descendência de Camilo, à época, intentou uma acção judicial contra a referida edição, pelo que os raríssimos exemplares que restam são uma verdadeira relíquia para os bibliófilos camilianos.


GRANDE HOTEL DE PARIS/ANTIGA HOSPEDARIA FRANCESA 
Fundado em 1846 com o nome de Hospedaria Francesa, mudou para a actual designação em 1877, sendo, portanto, o segundo hotel mais antigo do Porto (o mais antigo é o Hotel Boa-Vista, na Foz).
Começou por se situar na Praça da Batalha, à esquina da Rua de Cimo de Vila, e posteriormente mudou-se para a Rua da Fábrica, quase defronte do palacete do Visconde Laborim, conhecido por «Casa da Fábrica».
Na administração deste hotel, vamos encontrar dois nomes curiosos: Ernesto Chardron e Mathieux Lugan, donos da Livraria Internacional, precursora da Livraria Lello.
Camilo chegou a instalar-se nesta hospedaria quando veio viver para o Porto. Foi aliás aqui que se reconciliou, graças à intermediação do Dr. Ricardo Jorge, seu amigo de sempre, com Guerra Junqueiro, depois de uma zanga entre ambos.
Dada a profusão de transmontanos, além de morgados do Minho, que neste hotel se hospedavam, muitas vezes era chamado «casa transmontana no Porto». No rés-do-chão chegou a funcionar o jornal «O Nacional», periódico com que Camilo colaborou durante muito tempo.
Sobre o seu quarto neste hotel, Camilo escreveu[1
«O ar do meu quarto incomodava os hóspedes. Eu tinha dez jarras de flores sobre uma estante de livros, sobre a banca de escrita, e à cabeceira do meu leito (…). Era um lindo quarto, o meu, lindo e rico de tantas porcelanas e flores que vinham cada manhã duns hortos d’Armida onde as cultivava uma alma que as entendia e com elas falava.»

Neste local, trabalhou também a famosa cozinheira Gertrudes[2], muito referenciada por Camilo.


ACADEMIA POLITÉCNICA/ESCOLA MÉDICO-CIRÚRGICA

( Em 1843, Camilo inscreveu-se na Academia… ) Na Academia Politécnica, inscreveu-se nas disciplinas de Química e Filosofia. No ano seguinte, 1844, inscreveu-se em Botânica.
«Estudava eu Química na Academia do Porto. De dois discípulos, somente me recordo bem. Um era o melhor estudante; o outro, último da lista, seria o pior do curso, se eu lá não estivesse.»[3]
«Soou a hora do acto. Já de antemão os condiscípulos me davam os pêsames: dizia-se que eu, além de ser um parvo quimicamente falando, tinha quarenta e oito faltas, afora vinte e duas abonadas, sete negas e cinco fugidas (…). Que acto eu fiz! Desenruguei a fronte do lente, enchi de júbilo os arguentes, espantei os condiscípulos e fui aprovado nemine discrepante[4]       

Na Escola Médica, Camilo esteve dois anos, 1843/1844 e 1844/1845, tendo perdido o 2º por faltas. Em alguns dos seus livros notam-se os conhecimentos médicos de Camilo, que dele fez uso.

RUA DO ALMADA
Segundo Sousa Viterbo, «parecia, aos sábados, uma feira de gado, tanto eram os burros dos ferreiros das cercanias, que chegavam cheios de seiras de pregos e partiam carregados de verguinhas de ferro em feixes, ao longo da albarda, levados pela Rua do Almada acima, no seu trotezinho miúdo e diligente que batia os grandes lajeados da calçada com um ruído de castanholas».
Além do ar profundamente comercial desta artéria, muito marcada por lojas de ferragens, a Rua do Almada era também habitada por muita da burguesia portuense — o que não é de estranhar dado esta rua se encontrar bem perto da Praça Nova, o mais recente ponto fulcral da cidade de então.
Logo no início da rua, no número 28, viveu Ana Plácido com os seus pais e os seus irmãos; mais tarde, viria a habitar o número 378, mas desta vez com o seu marido, Pinheiro Alves, depois de se terem  casado.
Bem perto, ficava a Assembleia Portuense, onde ela viria a conhecer o homem da sua vida.


PRAÇA NOVA
Real Clube dos Encostados - Passeio das Cardosas
Lugar central do Porto oitocentista, era aqui que tudo acontecia; por isso, não é de estranhar que Camilo fosse um dos «hóspedes» habituais desta zona da cidade.
[
Era também por aqui que campeava a burguesia que viria a servir de inspiração a Camilo — muitas das personagens-tipo que podemos encontrar nos seus livros foram de certeza ficções de gente que ele conheceu ou com quem se cruzou no seu dia-a-dia. Camilo servir-se-ia dos defeitos e contradições dessas pessoas, fazendo-os alvo da sua chacota e ironia mordaz
No gaveto da Praça da Liberdade com a Igreja dos Congregados ficava o Café Guichard — aberto de 1820 a 1857 —, lugar de encontro da geração de Camilo. Os cafés, aliás, tiveram uma enorme importância para o aparecimento de muitos literatas e jornalistas, e, como alguém disse um dia, «rivalizaram com a Academia para a formação cívica e intelectual do Porto do século xix e primeira metade do século xx.»

«Em 1849 (…) o Café Guichard, a que eu chamaria uma colmeia onde se emelavam doces favos de espírito, se aquele botequim não fosse antes um vespeiro que desferia, às revoadas, ferretoando os bócios dos gordos filistinos da "Assembleia" e as macias espáduas lácteas das suas consortes no coração e nos ádipos (…).»

            O Passeio das Cardosas foi rebaptizado por Camilo, que passou a chamá-lo de «Pasmatório dos Lóios», «Real Clube dos Encostados» ou «Aquário dos Imbecis». 

No gaveto das Cardosas com o Largo dos Lóios existia a Livraria Moré — a livraria que publicou a primeira edição de Amor de Perdição e de Memórias do Cárcere.
Do outro lado, junto à Rua do Almada, ficava a famosa Casa Lino, uma loja de artigos para caça e pesca que ficou conhecida, porém, por ser local de tertúlia e cavaqueira, por onde passou toda a gente que era gente, no Porto. Em 1933, José Saraiva, que aqui trabalhou, publicou um livro intitulado À Porta do Lino, onde nos fala dos gloriosos tempos daquela casa.



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[1] Branco, Camilo Castelo (1870), A Mulher Fatal.
[2] Ver esta entrada no capítulo «As Mulheres no Universo Camiliano».
[3] Branco, Camilo Castelo (1867), Cavar em Ruínas.
[4] Idem.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Julgamento de Camilo Castelo Branco e Ana Plácido


Julgamento de Ana Plácido e Camilo Castelo Branco



Ana Plácido em jovem
No dia 15 de Outubro de 1861, deu-se início ao julgamento de Ana Augusta Plácido e Camilo Castelo Branco, que terminou no dia 17 do mesmo mês. Decorreu no Tribunal Criminal do Porto, na então Travessa da Picaria, um arruamento que não existe mais — hoje é o lado norte da Praça de Filipa de Lencastre, gaveto com a Rua da Picaria, onde já esteve instalado o Restaurante Portuense (actualmente, existem no mesmo espaço estabelecimentos comerciais da área da restauração).


O processo foi entregue ao juiz José Maria de Almeida Teixeira de Queirós, pai de Eça de Queiroz, que posteriormente foi substituído (diz-se que Manuel Pinheiro Alves, sabendo-o amigo do casal, conseguiu que ele fosse transferido para Vila Franca de Xira). Mas, voltando ao julgamento, de que estavam de facto acusados os réus?

Ao abrigo do artigo 401 do Código Penal da época, eram acusados do crime de adultério. O artigo dizia:



«O adultério da mulher será punido com o degredo temporário.

1. O co-réu adúltero, sabedor de que a mulher é casada, será punido com a mesma pena, ficando obrigado às perdas e danos que devidamente se julgarem.

2. Somente serão admissíveis contra o adúltero as provas de flagrante delito ou as provas resultantes de cartas ou outros documentos escritos por ele.»



            De seguida, transcrevemos ipsis verbis a informação disponível acerca deste processo e que pode ser consultada na página do Museu do Tribunal da Relação do Porto, vulgo Tribunal de Justiça:



«Por queixa de Manuel Pinheiro Alves, marido de Ana Augusta Plácido, foi instaurado processo de querela, por adultério, contra Camilo Castelo Branco e aquela Ana. O processo foi objecto de despacho lavrado, em 22 de Dezembro, pelo juiz José Maria de Almeida Teixeira de Queirós, pai de Eça de Queiroz, titular daquele Tribunal Criminal, sito na Praça D. Filipa de Lencastre, na esquina com a Rua da Picaria. A queixa foi assinada pelo advogado Alexandre Couto Pinto e os acusados tiveram como defensor Marcelino de Matos que também havia de defender, noutro processo, o  Zé do Telhado.

​Camilo e Ana acabaram por ser pronunciados, ela por adultério e ele por ter copulado com mulher casada, por decisão do Tribunal da Relação do Porto, já que o juiz Queirós apenas pronunciara a Ana. Isto por que só o adultério da mulher era punível e, relativamente ao homem comparticipante, a punibilidade pressupunha o flagrante delito (sós e nus na mesma cama) ou a existência de cartas ou outro documento escrito. O flagrante não se verificava e apenas existia uma carta dirigida a um tio (informador de Pinheiro Alves da infidelidade da mulher) de Ana, mas em que não era mencionado o nome desta. Na sequência da pronúncia, Ana Plácido e, mais tarde, Camilo recolheram à Cadeia da Relação. Depois de muitos incidentes (pedidos de escusa de juízes, recursos), chegando o processo a subir ao Supremo Tribunal de Justiça, foi efectuado o julgamento, num ambiente extremamente emotivo, correspondente à grandiosidade do escândalo. Estava ao rubro a curiosidade das provectas virgens, das matronas desocupadas e dos conquistadores frustrados, além dos seráficos moralistas de fachada. Se a Relação ultrapassara a desadequação legal à evolução se senso comum, pronunciando ambos os Réus, considerando que “seria um contra-senso inqualificável que esse homem que a teve teúda e manteúda já nesta cidade na Rua da Picaria, já em Lisboa e na Foz: que a foi tirar ao Convento da Conceição em Braga aonde se achava, para assim continuar com ela uma vida de escândalo e imoralidade que afecta a sociedade em geral ficasse impune...”, o júri, acaba, de forma oposta, por tornear aquela desadequação, não considerando provados quesitos fundamentais. A sentença, proferia em 17 de Outubro de 1861 (peça que, presentemente, não se encontra no processo por ter desaparecido), limitou-se a absolver os acusados e emitir mandados de soltura.»



 advogado de defesa de Camilo foi o Dr. Marcelino de Matos (1824-1868 ( é bem,1865 )), que viria a ser pai do Dr. Júlio de Matos (1856-1922), pioneiro da psiquiatria em Portugal.




A pedido de Camilo, este jurista defenderia, mais tarde, Zé do Telhado, que se livrou da forca, de facto, mas foi condenado a 15 anos de degredo na então chamada África Ocidental Portuguesa (Angola).

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

PORTO - TRANSFORMAÇÕES URBANÍSTICAS E VIDA CULTURAL


TRANSFORMAÇÕES  URBANÍSTICAS  E VIDA CULTURAL
Câmara Municipal do Porto- 1930



APÓS A IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA A CIDADE INICIOU UMA MUDANÇA URBANÍSTICA QUE SE VAI FAZER SENTIR NO SEU CENTRO CÍVICO.



A IDEIA DE ELÍSIO DE MELO, VEREADOR DA CÂMARA DO PORTO, ERA CONSTRUIR UMA AVENIDA CENTRAL E NOVOS PAÇOS DO CONCELHO.

NO ENTANTO O PROJECTO DE BARRY PARKER, UMA IMAGEM NEO CLÁSSICA CONDIZENTE COM A ARQUITECTURA QUE PREDOMINAVA NA CIDADE, FOI ALTERADA PELA ENTRADA EM CENA DE MARQUES da SILVA, O ARQUITECTO MAIS INFLUENTE DE ENTÃO.



ESTE, INFLUENCIADO PELAS BEAUX ARTS PARISIENSES VAI DAR UM SENTIDO MAIS ECLÉTICO À AVENIDA DOS ALIADOS. MARQUES DA SILVA TINHA REGRESSADO DE PARIS EM 1896 E  LOGO COMEÇOU A MOSTRAR AO QUE VINHA.
A SUA PRIMEIRA GRANDE OBRA É A ESTAÇÃO DE S. BENTO,  INAUGURADA EM 1 DE MAIODE 1915, APESAR DO COMBOIO JÁ TER CHEGADO À GARE NOS FINAIS DO SÉCULO XIX (1896).
José Marques da Silva  -  1867-1949

OUTRO EDIFÍCIO DESTE TEMPO É AQUELE QUE FOI MANDADO CONSTRUIR PELA COATS & CLARK NA RUA DUQUE DE LOULÉ, ANOS DEPOIS A EMPRESA FOI PARA GAIA E O IMÓVEL FOI VENDIDO À EDP.



O BAIRRO IGNÊS TAMBÉM É DESTE TEMPO E  FOI UMA TENTATIVA DE DAR RESPOSTA ÀS NECESSIDADES DE HABITAÇÃO DOS ESTRATOS PEQUENA BURGUESIA URBANA.





EM 1920  INICIOU-SE A CONSTRUÇÃO DA CENTRAL DA PICARIA. O EDIFÍCIO SERIA

INAUGURADO EM 1925 OBRA DE R. TOUZET. ERA A SEDE DA “ ANGLO PORTUGUESE

TELEPHONE COMPANY LDA”


APESAR DA DESTRUIÇÃO DO CAFÉ GUICHARD, O MAIS CÉLEBRE DO SEU TEMPO, CONSTRUIRAM-SE  NESTA ALTURA DOIS CAFÉS QUE FICARAM CÉLEBRES: O CHAVE D’OURO, 1920 E O MAJESTIC, 1921


EM 1917 A AVENIDA DA BOAVISTA CHEGA FINALMENTE AO MAR… 







A  RENASCENÇA  PORTUGUESA




EM 1912 É FUNDADA NO PORTO UM MOVIMENTO CULTURAL QUE VIRIA A MARCAR

A SOCIEDADE PORTUGUESA.

TEIXEIRA DE PASCOAES ( O SEU MENTOR ), LEONARDO COIMBRA, JAIME CORTESÃO,

ÁLVARO PINTO, ENTRE OUTROS,  QUERIAM DAR CONTEÚDO  FECUNDO À REVOLUÇÃO REPUBLICANA, PROMOVENDO ASSIM UMA MAIOR CULTURA AO POVO PORTUGUÊS.



ANTÓNIO CARNEIRO, LEONARDO COIMBRA, TEIXEIRA REGO, HERNÂNI CIDADE, CASAIS MONTEIRO, SANT'ANNA DIONÍSIO, AARÃO DE LACERDA E DELFIM SANTOS.
AFONSO DUARTE, AUGUSTO SANTA RITA, AFONSO LOPES VIEIRA, FERNANDO PESSOA, ANTÓNIO CORREIA DE OLIVEIRA COLABORARAM ATRAVÉS DA REVISTA ÁGUIA


A REVISTA ÁGUIA, FOI PUBLICADA ENTRE 1912 E 1932.
 COM O APROFUNDAR DA CRISE DA I REPÚBLICA, VEIO AO DE CIMA AS DIFERENÇAS ENTRE AS DIVERSAS  SENSIBILIDADES E JAIME CORTESÃO, ANTÓNIO SÉRGIO E RAUL PROENÇA ( ESTES ÚLTIMOS TINHAM ENTRADO POSTERIORMENTE)  AFASTAM-SE CRIANDO A PRIMEIRA CISÃO.



ALGUNS DESTES MEMBROS VÃO ESTAR NA  ORIGEM DA UNIVERSIDADE POPULAR DO PORTO, CRIADA EM 9/6/1912.  AQUI ERAM MINISTRADOS DIVERSOS CURSOS, CONFERÊNCIAS E OUTRAS ACTIVIDADES  CULTURAIS. TINHAM COMO OBJECTIVO A FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO DOS  ADULTOS.



EM 22 DE MARÇO DE 1911 É CRIADA A UNIVERSIDADE DO PORTO,  INCORPORANDO A

ACADEMIA  POLITÉCNICA,  A ESCOLA MÉDICA CIRÚRGICA, ALÉM DE CIÊNCIAS MATEMÁTICAS,FÍSICO-QUÍMICAS, HISTÓRICO NATURAIS, FACULDADE DE MEDICINA, FARMÁCIA,ENGENHARIA E UMA FACULDADE DE COMÉRCIO.

A UNIVERSIDADE DO PORTO FOI INAUGURADA EM 16 DE JULHO  DE 1911 O SEU 1º REITOR FOI O MATEMÁTICO GOMES TEIXEIRA. 



AS FACULDADES DE  DIREITO, LETRAS E UMA ESCOLA NORMAL, NÃO FORAM CONTEMPLADAS.A CRIAÇÃO DA FACULDADE DE LETRAS DÁ-SE EM 1919, POR PRESSÃO DE LEONARDO COIMBRA,MINISTRO DA INSTRUÇÃO PÚBLICA. EM 1928 UM HOMEM DO PORTO, ALFREDO DE MAGALHÃES,EXTINGUE A FACULDADE DE LETRAS E SÓ EM 1961! É QUE ESTA  FOI AUTORIZADA A LECCIONAR.



EM 1912 É FUNDADA A LIVRARIA ACADÉMICA.

FUNDADOR: Joaquim Guedes da Silva



AARÃO DE LACERDA, JAIME CORTESÃO, LEONARDO COIMBRA, TEIXEIRA DE PASCOAES E TANTOS OUTROS  FORAM TRANSFORMADOS  EM CLIENTES CERTOS E AMIGOS FIÉIS.



EM 1948 NUNO CANAVEZ VEM COMO MARÇANO TRABALHAR PARA ESTA CASA…  ATÉ HOJE…



A INVICTA FILM É CRIADA  EM 1917 NA PRELADA, TORNANDO-SE POSTERIORMENTE

OS MAIORES ESTÚDIOS DE CINEMA DA PENÍNSULA IBÉRICA. NUNCA ESQUECER O PAPEL PIONEIRO DO PORTO NO QUE AO CINEMA DIZ RESPEITO, JÁ QUE FOI AURÉLIO PAZ DOS REIS 
O INTRODUTOR DO MESMO EM PORTUGAL.

Invicta Film Estúdios da Prelada

EM MAIO DE 1917 É CRIADO O CONSERVATÓRIO DE MÚSICA DO PORTO E FOI

OFICIALMENTE INAUGURADO EM 9 DE DEZEMBRO DE 1917 NO PALACETE DOS VISCONDES DE VILARINHO DE S. ROMÃO. 


O CORPO DOCENTE ERA CONSTITUÍDO POR RAIMUNDO DE MACEDO,LUÍS COSTA, ÓSCAR DA SILVA, MOREIRA DE SÁ, CARLOS DUBINI, ENTRE OUTROS. MOREIRA DE SÁ ERA FOI O SEU PRIMEIRO  DIRECTOR.







EM 1923 É FUNDADA A ORSEC, OFICINAS DE RÁDIO SOM E CINEMA, NO ENTANTO  AS PRIMEIRAS EMISSÕES DE RÁDIO JÁ VINHAM DE 1920. EM 1932 É FUNDADA A IDEAL

RÁDIO COM SEDE NA RUA DE ALFERES MALHEIRO. É AQUI QUE EM 17 DE ABRIL DE 1945 É DIFUNDIDO O PRIMEIRO PROGRAMA DA VOZ DOS RÍDICULOS.

EM FEVEREIRO DE 1953 A FUSÃO DA ORSEC, IDEAL RÁDIO, PORTO RÁDIO, ENTRE OUTROS, DARÁ ORIGEM À SOCIEDADE EMISSORA DO NORTE REUNIDOS.


domingo, 11 de novembro de 2018

AS FREGUESIAS DO PORTO E A SUA ENTRADA NA CIDADE


COMO E QUANDO  É QUE AS 15  FREGUESIAS DO PORTO  FORAM ENTRANDO PARA A CIDADE INVICTA




O Porto das Freguesias, as Freguesias do Porto

Até aos finais do século xvi a cidade do Porto é constituída apenas por uma freguesia, a da Sé.
Em 1583, o então Bispo do Porto, D. Frei Marcos de Lisboa, com o argumento de uma melhor administração eclesiástica e pastoral, divide a Sé em quatro novas freguesias: Sé, S. Nicolau, Vitória e S. João Baptista de Belmonte, marcando-lhes os limites de uma forma tão rigorosa que ainda hoje podemos fazer o levantamento toponímico através deles.

A freguesia de S. João Baptista de Belmonte foi efémera. De facto, passados apenas quatro anos, foi extinta e a sua população distribuída pelas freguesias da Vitória e de S. Nicolau. Com a pressão demográfica a acentuar-se, a cidade começa a ter noção de que as muralhas começavam a ser um espartilho quanto ao desenvolvimento da urbe. Esta situação obriga, então, à criação de mais duas freguesias, estas já fora das muralhas: Miragaia e Santo Ildefonso.

Em 9 de Outubro de1710 a Mesa Grande da Relação, organismo do Estado que superintendia a criação de freguesias e municípios, amplia a área da cidade com a inclusão das freguesias de Cedofeita e de Massarelos. Dada a sua enorme extensão, a freguesia de Santo Ildefonso é dividida em duas, tendo sido criada a freguesia do Bonfim, com cerca de 295 hectares.

Não podemos esquecer que, na margem esquerda do rio, as freguesias de Mafamude e de Santa Marinha pertenciam à jurisdição do Porto. Esta situação só é alterada após o arredondamento das freguesias passando, a partir desta altura, a fazer parte do concelho de Vila Nova de Gaia.

Em inícios do século xix o panorama do Porto é o de uma cidade com sete freguesias, numa área de10,6 Km². Em 1836 são anexadas à cidade por decreto as freguesias de S. João da Foz, Lordelo e Campanhã, altura em que são retiradas para sempre as freguesias gaienses. Com a evolução e o crescimento da cidade do Porto não podemos esquecer-nos que o século xix foi o momento áureo desta cidade esta atira os seus tentáculos para a zona mais ocidental da região sendo, por isso, natural que as freguesias da zona até vissem com bons olhos a sua inclusão no Porto. Em 1837 a área da cidade aumenta com a inclusão de Paranhos, ficando a mesma com uma área de 30 km², o triplo do que contava em 1710. Em 1895 foram fixados novos limites com a junção de Ramalde, Aldoar e Nevogilde. Finalmente, em 1898 os lugares da freguesia de Campanhã, que ficavam na parte exterior da Circunvalação, passaram para aquela freguesia, ficando o Porto com a fisionomia que hoje ostenta: uma cidade cercada no seu crescimento pelo mar, pelo rio e pela Circunvalação.

Hoje a cidade do Porto tem 42 Km², 15 freguesias e cerca de 247 000 habitantes, de acordo com o Censos de 2011, o que dá uma densidade populacional de 6 000 habitantes por km².

Mas como é que esta população evolui? E terá sido o Porto sempre a segunda cidade do País?

Como é facilmente entendível, não é fácil reconstituir a evolução da população da cidade desde tempos medievos, pois foi só em 1864 que se realizou o primeiro censo com metodologia científica. Até aqui deparamos com um longo período em que são escassos os levantamentos populacionais. Esta situação obriga a diversos cruzamentos de dados, mas mantemos a noção de que a fiabilidade não é muito elevada porquanto não sabemos quais os critérios utilizados nem com que fins. 
Com as ressalvas defendidas vamos tentar fazer uma análise da população ao longo dos tempos. 
No século xii o Porto é a terceira cidade do reino. A que tem maior densidade populacional é a de Braga (Lisboa ainda era muçulmana), com cerca de 5 000 habitantes, seguida de Coimbra a cidade mais a sul do Portugal de então, com uma população idêntica à de Braga. Carlos de Passos diz-nos que no período da muralha dita sueva (agora sabemos que é tardo-romana) a população do Porto é de 2 000 habitantes mas, como o autor não refere a fonte, atrevemo-nos a pensar que se tratava de um número exagerado. De salientar que a população de Portugal conta, à época, com cerca de 400 000 habitantes para uma superfície de 34 000 Km². Já com a muralha fernandina, construída em 1376, o Porto tem cerca de 8 500 habitantes, que era amplamente ultrapassado pela densidade populacional de Lisboa, com os seus cerca de 65 000 habitantes, o que a torna na grande cidade do reino, marcando desde essa época uma macrocefalia que perdura até aos nossos dias. A segunda cidade continua a ser Braga, com mais de 10 000 habitantes, passando o Porto a ser a terceira cidade do reino, ultrapassando Coimbra.

Em 1527-1532 D. João II decide ordenar o primeiro censo efectuado em território nacional. O mesmo mostrou que Portugal tinha, na época, cerca de 1 200 000 habitantes, sendo nessa altura o Porto já a segunda cidade do país, com 13 5oo habitantes, e Lisboa cerca de 50 000 a 55 000 habitantes (era a grande cidade da península).

Em 1622, D. Rodrigo da Cunha, no seu catálogo dos bispos do Porto, confere para o Porto 14 500 habitantes. Em 1787 foi ordenado novo censo e o padre Rebelo da Costa confere para o Porto 63 500 habitantes.

Como já disse o primeiro censo efectuado com rigor científico foi em 1864 e este censo mostra que o Porto conta na época com 89 349 habitantes. No censo de 1900, e já com as 15 freguesias definitivas, o Porto tem 167 955 pessoas a residir na cidade, continuando a população a aumentar até atingir o seu pico populacional no censo de 1981, com 330 199 habitantes.

A partir desta data a densidade populacional começa a decair, tendo a cidade no ano de 2001 apenas 262 928 habitantes. No último censo, datado de 2011, podemos apreciar um novo decréscimo populacional para os 240 000 habitantes.

Estes números mostram-nos uma descida de mais de 60 000 habitantes em duas décadas, ou seja, uma média de 3 300 por ano.

São vários os factores que sustentam esta decadência contínua e que são de natureza essencialmente económica, já que o processo de terciarização do centro levou ao abandono da população para a periferia, o que provocou o aumento dos concelhos limítrofes, com Vila Nova de Gaia à cabeça que é, sem dúvida, o concelho mais populoso do Grande Porto, contando com mais de 300 000 habitantes.

Mas este fenómeno afecta também concelhos como Matosinhos, Gondomar, Maia e Valongo, que têm vindo a aperceber-se que a sua população aumenta à custa da cidade do Porto. Este fenómeno parece não ter fim, já que o alto preço dos terrenos na cidade provoca uma especulação imobiliária, resultando no facto de os casais mais jovens se terem visto na necessidade de procurar noutras paragens da Área Metropolitana do Porto casas a preços mais acessíveis.

Esta situação levou a que recentemente o historiador Hélder Pacheco tivesse considerado que «() existe uma conspiração contra a cidade por parte de todos os agentes que provocam a debandada da população.», (in Porto de S. João, Vol. II)

É curioso assinalar que apenas as freguesias mais ocidentais da cidade (as últimas a entrar para a urbe) conseguem atenuar esta sangria. Mas este fenómeno não é exclusivo do Porto. Lisboa também sofre do mesmo problema, tendo visto a sua população decair de uma forma sistemática desde os anos 70. Hoje a sua população tem menos 260 000 habitantes em relação àquela época, beneficiando essencialmente Sintra.

Em relação ao Porto, como vai longe o tempo em que um relatório da Câmara do Porto, emanado em 1962, dizia que a cidade tinha capacidades para ter uma população de 500 000 habitantes! Hoje tem cerca de metade e em 2021, nos próximos censos, corremos o risco de ainda termos menos população, especialmente no Centro Histórico e na Baixa tradicional, já que os novos habitantes não devem colmatar os que partem,  especialmente pelos processos de gentrificação .

domingo, 4 de novembro de 2018

A FOZ E A SUA EVOLUÇÃO


FOZ



De couto beneditino a estância balnear, passando por uma efémera independência concelhia



A existência de um povoado na Foz do Douro perdese na memória do tempo.

Mas a certidão de nascimento da Foz, enquanto entidade de facto, é nos dada através de um documento régio de D. Afonso Henriques que, através dele, doou à Ordem Premonstratense o actual território da Foz, mas, como esta ordem religiosa teve, no nosso pais, uma vida breve, em 1176 voltou a doala, desta vez, à Ordem dos Beneditinos de Santo Tirso.










A Foz tornouse então couto dos frades de S. Bento e os diversos privilégios que lhes foram concedidos viriam a ser confirmados por vários monarcas tais como D. Afonso IV, D. Manuel, I e Filipe I.

Mas a Foz deve a sua fama e evolução aos transportes e as vias de comunicação.

Os transportes do Porto para a Foz, e viceversa, sofreram ao longo do tempo uma evolução natural: não só porque os meios melhoraram a nível de qualidade como também foi encurtado tempo de viagem entre a então Praça Nova (actual Praça da Liberdade)

e esta freguesia.

De todas as linhas que existiram, a mais curiosa, para os dias

de hoje, talvez seja a que se denominou o “Carroção”; No dizer de Ramalho Ortigão, tratavase de um pequeno prédio com quatro rodas, puxado por uma junta de bois, onde, dentro, havia duas bancadas paralelas em que os viajantes se sentavam.

No lado de fora, sobre uma faixa de cor alegre, liase o nome

do proprietário — Manuel José Oliveira — conhecido por toda

a gente pelo nome de Manel Zé.

Depois do Carroção, surgiu o charabanc, uma espécie de carruagem

com assentos laterais onde se sentavam várias pessoas.

Outro carro famoso foi o Ripert, puxado por cavalos, que neste tempo representou um grande avanço nas comunicações entre o Porto e a Foz. Em 1870, o então barão da Trovisqueira foi autorizado pelo decreto de 15 de Agosto a estabelecer a sua custa na estrada publica entre o Porto e

a povoação da Foz, podendo prolongarse até Matosinhos, um caminhodeferro para transporte de passageiros e mercadorias, servido por cavalos.

Em 1874, a Companhia Carris de Ferro do Porto inaugurou uma carreira de americanos entre o então Largo dos Ferradores (actual Praça de Carlos Alberto) e o Largo de Cadouços, na Foz (agora Largo Capitão Pinheiro Torres de Meireles), que se manteve ate 1910.

A tracção a vapor fez a sua aparição em 1877, no trajecto entre a Boavista e Cadouços. E com tanto sucesso que, logo em 1882, o percurso foi prolongado ate Matosinhos, ficando o trajecto assim definido Boavista, Bessa, Fonte da Moura, Ervilha, Cadouços, Rua do Túnel, Rua de Gondarém, Castelo do Queijo, Matosinhos.

E agora, digam lá se não é novidade (pelo menos para muita gente) saberem que existiu uma linha de comboio a ligar a Rotunda da Boavista a Matosinhos, passando pela Foz?!…

Em meados de 1910 a linha foi suprimida, e em 1914 iniciouse o processo que visava o prolongamento da linha eléctrica da Boavista

ao Castelo do Queijo.

Toda esta evolução fez com que a relativa independência (que a distancia permitia) da Foz em relação ao Porto fosse ultrapassada e a sua integração na cidade fosse um facto.

Um decreto régio de D. Maria II (de 1836) pós fim a uma independência

concelhia que durava desde 1834. Tal situação não causou surpresa, dado que o concelho, formado por uma só freguesia (ainda por cima exígua) e sem capacidade financeira, estava condenado a desaparecer.

Durante os dois anos de autonomia, os vereadores reuniamse num edifício na Rua do Padre Luís Cabral (antiga Rua Central), junto à Capela de Santa Anastácia.

A evolução populacional da Foz ao longo de vários anos dános uma visão de como ao longo do tempo a população pouco cresceu

e de como a relativa explosão só se deu com o advento das comunicações.


Evolução populacional

1527 1300 hab.



1623 1571 hab.



1732 3312 hab.



1874 4800 hab.



1960 10 891 hab.



1981 12 964 hab.



2001 11 722 hab.



2011 10.997hab.



Como podemos verificar pelos números acima fornecidos, a Foz do Douro mais do que duplicou a sua população nos últimos cem anos, apesar de, nos últimos vinte, ter decrescido, em sintonia com o que aconteceu no resto da cidade.

Se a evolução populacional foi lenta, o urbanismo também o foi.

De facto, no século XIX, o povoado limitavase ao casario que se abrigava à sombra do Castelo e da Igreja.

 Só  numa fase posterior, finais do século XIX, inícios do século XX, mais tarde, a freguesia cresceu no sentido

norte, ao longo da então Estrada de Carreiros e Rua do Castelo do Queijo, (actuais avenidas do Brasil e Montevideu).

Posteriormente, o crescimento deuse para nascente onde, na altura, só havia pequenas aldeias (Passos era uma delas, que foi, depois, integrada na freguesia de Nevogilde).

Esta evolução fez com que a Foz do Douro se dividisse em duas:

a Foz Velha, e o seu emaranhado de ruas e ruelas, pequenas e estreitas,

e a Foz Nova, com as suas casas apalaçadas de uma rica burguesia

que descobriu as vantagens de viver junto ao mar.


segunda-feira, 29 de outubro de 2018

A EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DO PORTO AO LONGO DOS SÉCULOS



A EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DO PORTO AO LONGO DOS SÉCULOS



Até aos finais do século XVI a cidade do Porto é constituída apenas por uma freguesia, a da sé.
Em 1583, o então Bispo do Porto, D. Frei Marcos de lisboa, com o argumento de uma melhor administração eclesiástica e pastoral, divide a Sé em quatro novas freguesias: Sé, S. Nicolau, Vitória e s. João Baptista de Belmonte, marcando-lhes os limites de uma forma tão rigorosa que
ainda hoje podemos fazer o levantamento toponímico através deles
A freguesia de S. João Baptista de Belmonte foi efémera. De facto, passados apenas quatro anos, foi extinta e a sua população distribuída pelas freguesias da Vitória e de S. Nicolau. Com a pressão demográfica
a acentuar-se, a cidade começa a ter noção de que as muralhas começavam a ser um espartilho quanto ao desenvolvimento da urbe. Esta situação obriga, então, à criação de mais duas freguesias, estas já fora das muralhas: Miragaia e Santo Ildefonso.
Em 9 de outubro de1710 a Mesa Grande da Relação, organismo do Estado que superintendia a criação de freguesias e municípios, amplia a área da cidade com a inclusão das freguesias de Cedofeita e de Massarelos. Dada a sua enorme extensão, a freguesia de Santo
Ildefonso é dividida em duas, tendo sido criada a freguesia do Bonfim, com cerca de 295 hectares.
Não podemos esquecer que, na margem esquerda do rio, as freguesias de Mafamude e de Santa Marinha pertenciam à jurisdição do Porto. Esta situação só é alterada após o arredondamento das freguesias passando, a partir desta altura, a fazer parte do concelho de vila
Nova de Gaia.
Em inícios do século XIX o panorama do Porto é o de uma cidade com sete freguesias, numa área de10,6 Km². Em 1836 são anexadas à cidade por decreto as freguesias de s. João da Foz, Lordelo e Campanhã, altura em que são retiradas para sempre as freguesias gaienses.
Com
a evolução e o crescimento da cidade do Porto, o século XIX foi o momento áureo desta cidade a urbe tripeira atira os seus tentáculos para a zona mais ocidental da região sendo, por
isso, natural que as freguesias da zona até vissem com bons olhos a sua inclusão no Porto. Em 1837 a área da cidade aumenta com a inclusão de Paranhos, ficando a mesma com uma área de 30 km², o triplo do que contava em 1710. Em 1895 foram fixados novos limites com a junção
das freguesias de Ramalde, Aldoar e Nevogilde. Finalmente, em 1898 os lugares da freguesia de Campanhã, que ficavam na parte exterior da Circunvalação, passaram para aquela freguesia, ficando o Porto com a fisionomia que hoje ostenta: uma cidade cercada no seu crescimento
pelo mar, pelo rio e pela Circunvalação.
Hoje a cidade do Porto tem 42 Km², 15 freguesias, esqueçam a lei de 2012 que vi fazer as uniões de freguesias, e cerca de 247 000 habitantes, de acordo com o Censos de 2011, o que dá uma densidade populacional de 6 000 habitantes por km².
Mas como é que esta população evolui? E terá sido o Porto sempre a segunda cidade do País?
Como certamente entendemos, não é fácil reconstituir a evolução das gentes da cidade desde tempos medievos, pois foi só em 1864 que se realizou o primeiro censo com metodologia científica. até aqui deparamo-nos com um longo período em que são escassos os levantamentos populacionais. Esta situação obriga a diversos cruzamentos de dados, mas mantemos a noção de que a fiabilidade não é muito elevada porquanto não sabemos quais os critérios utilizados nem com que fins.
Com as ressalvas defendidas vamos tentar fazer uma análise da população ao longo dos tempos.
No século XII o Porto é a terceira cidade do futuro reino de Portugal. a que tem maior densidade populacional é a de Braga (Lisboa ainda era muçulmana), com cerca de 5 000 habitantes, seguida de Coimbra a cidade mais a sul do Portugal de então, com uma população idêntica à de Braga. Carlos de Passos diz-nos que no período da muralha dita sueva (agora sabemos que é tardo-romana) a população do Porto é de 2 000 habitantes, mas, como o autor não refere a fonte, atrevemo-nos a pensar que se tratava de um número exagerado. De salientar que a população de Portugal conta, à época, com cerca de 400 000 habitantes para uma superfície de 34 000 Km². Já com a muralha fernandina, construída em 1376, o Porto tem cerca de 8 500 habitantes, que era amplamente ultrapassado pela população de lisboa, com os seus cerca de 65 000 habitantes, o que a torna na grande cidade do reino, marcando desde essa época uma macrocefalia que perdura até aos nossos dias. a segunda cidade continua a ser Braga, com mais de 10 000 habitantes, passando o Porto a ser a terceira cidade do reino, ultrapassando Coimbra.
Em 1527-1532 D. João II decide ordenar o primeiro censo efectuado em território nacional. o mesmo mostrou que Portugal tinha, na época, cerca de 1 200 000 habitantes, sendo nessa altura o Porto já a segunda cidade do país, com 13 5oo habitantes, e Lisboa cerca de 50 000 a 55 000 habitantes (era a grande cidade da península).
Em 1622, D. Rodrigo da Cunha, no seu catálogo dos bispos do Porto, confere para o Porto 14 500 habitantes. Em 1787 foi ordenado novo censo e o padre Rebelo da Costa diz nos que o Porto tem 63 500 habitantes.
Como já referimos anteriormente, o primeiro censo efectuado com rigor científico foi em 1864 e este censo mostra que o Porto conta na época com 89 349 habitantes. no censo de 1900, e já com as 15 freguesias definitivas, o Porto tem 167 955 pessoas a residir na cidade, continuando a população a aumentar até atingir o seu pico populacional no censo de 1981, com 330 199 habitantes.
A partir desta data a população começa a decair, começando o despovoamento citadino.
A cidade no ano de 2001 apenas 262 928 habitantes. No último censo, datado de 2011, podemos apreciar um novo decréscimo populacional para os 240 000 habitantes.
Estes números mostram-nos uma descida de mais de 60 000 habitantes em duas décadas, ou seja, uma média de 3 300 por ano.
São vários os factores que sustentam esta decadência contínua e que são de natureza essencialmente económica, já que o processo de terciarização do centro levou ao abandono da população para periferia, o que provocou o aumento dos concelhos limítrofes, com
Vila Nova de Gaia à cabeça que é, sem dúvida, o concelho mais populoso do Grande Porto, contando com mais de 300 000 habitantes.
Mas este fenómeno afecta também concelhos como Matosinhos, Gondomar, Maia e Valongo, que têm vindo a aperceber-se que a sua população aumenta à custa da cidade do Porto. Este fenómeno parece não ter fim, já que o alto preço dos terrenos na cidade provoca uma
especulação imobiliária, resultando no facto de os casais mais jovens se terem visto na necessidade de procurar noutras paragens da Área Metropolitana do Porto casas a preços mais acessíveis.
Esta situação levou a que recentemente o historiador Hélder Pacheco tivesse considerado que «(1) existe uma conspiração contra a cidade por parte de todos os agentes que provocam a debandada da população.»,
É curioso assinalar que apenas as freguesias mis ocidentais da cidade (as últimas a entrar para a urbe) conseguem atenuar esta sangria. Mas este fenómeno não é exclusivo do Porto. Lisboa também sofre do mesmo problema, tendo visto a sua população decair de uma forma sistemática desde os anos 70. Hoje a sua população tem menos 260 000 habitantes em relação àquela época, beneficiando essencialmente Sintra.
Em relação ao Porto, como vai longe o tempo em que um relatório da Câmara do Porto, emanado em 1962, dizia que a cidade tinha capacidades para ter uma população de 500 000 habitantes! Hoje tem cerca de metade e com uma estrutura da população tão distorcida que
levou o conhecido geógrafo Álvaro Domingues a dizer que o Porto é uma cidade habitada por velhos-pobres e novos-ricos.
Com os processos de turistificação e gentrifricação em curso, a população da cidade está em mudança e nos próximos censos, em 2021, iremos ver reflectidos nos números esta mesma mudança.

(1) Porto de s. João, vol. II)