terça-feira, 30 de janeiro de 2018

FORNECEDORES PORTUENSES DA CASA REAL 


Ser fornecedor da Casa Real era prestigiante, apesar de muitas vezes não dar lucros...
O universo dos fornecedores estava muito ligado aos lojistas, fornecedores e artífices, sendo o ramo do vestuário (a nível nacional) o mais representado. Em 1887, no Porto, apenas um membro da elite burguesa, o dono de um estabelecimento de modas, era fornecedor da casa Real.
Eram as pequenas lojas que sentiam necessidade de ostentar, nas portadas, no papel de carta e nas embalagens, o emblema real. Social e economicamente insegura, a sanção dos monarcas dava-lhes uma vantagem competitiva em relação às demais.
No Porto, tivemos diversos estabelecimentos comerciais, industriais, de ensino e até mesmo ordens religiosas, que antepunham ou intercalavam ao nome por que eram conhecidas a designação de «Real».
Assim tínhamos no final da monarquia diversas casas comerciais com esta característica.
Real Tipografia e Litografia Lusitana. Ficava na então Rua de D. Fernando, actual Rua da
 Bolsa. Casa fundada em 1865 por Apolinío da Costa Reis e agraciada com o título de «Real» em 14 de Novembro de 1877.

Real Fábrica Social. Ficava esta casa no Alto da Fontinha e foi uma das mais importantes fábricas de chapéus do país. Foi a primeira firma a fabricar os famosos chapéus de coco, que tiveram uma óptima aceitação em Portugal. Hoje resta a memória numa rua que ostenta o nome “ Rua da Fábrica Social “ e numa das partes das ruínas da mesma está sedeada a Fundação José Rodrigues, repartida por um espaço de cinco mil metros quadrados, citando o Mestre ”. … A Fundação é um estuário das artes, que integra ateliês e estúdios que serão arrendados a jovens criadores….” Deste modo, os jovens artistas podem partilhar experiências e ideias com o mestre José Rodrigues, que manterá o seu espaço de trabalho na antiga fábrica de chapéus.
Do espólio da fundação, destaque para a colecção particular de desenhos de José Rodrigues, que integra autores como Almada Negreiros, Soares dos Reis, Júlio Resende ou Henrique Pousão. De grande valor é também colecção de artes decorativas do arquitecto Pádua Ramos: dois mil objectos do século XV até aos nossos dias.
Real Hospital de Crianças Maria Pia
Foi inaugurado no dia 1 de Janeiro de 1883, na casa da família Chaves à Carvalhosa. Alguns anos depois transitou para as instalações onde ainda se encontra hoje. O terreno foi oferecido, para esse fim, pela viúva do Conselheiro José Pereira Cardoso, D. Maria Emília Cabral.
O remate no frontispício conserva ainda, bem saliente, o escudo real português.

Real Colégio dos Meninos Órfãos de Nossa Senhora da Graça  
Situava-se no local onde hoje está a reitoria da Universidade do Porto e onde já esteve a Academia Politécnica. Foi este colégio fundado pelo Padre Baltasar Guedes em 1651, tendo sido os seus estatutos dados por D. João IV que lhe outorgou o título de «Real» e consentiu que os órfãos usassem hábito branco com a cruz da Ordem de Cristo ao peito. Aquando da morte do seu fundador em 1693, tinham saído formados do Colégio 212 religiosos, 39 sacerdotes, 8 mestres de teologia, 6 doutores em cânones e leis, 2 qualificadores da Inquisição e 1 Bispo.

Real Teatro de S. João.- Foi inaugurado oficialmente em 15 de Maio de 1798 e foi construído a expensas de um grupo de capitalistas da época. O primeiro subscritor das acções foi o Corregedor Francisco de Almada e Mendonça (Almada, filho).
Este fabuloso teatro foi diversas vezes remodelado ao longo dos anos, nomeadamente nos anos de 1822, 1838, 1856, 1870 e 1888.
O título de «Real» só lhe veio com D.Pedro IV e D. Maria II, após o Cerco do Porto.
Mas continuando uma mais do que dispensável tradição que o Porto tinha em relação a incêndios nas casas de espectáculos, em 1908 um pavoroso sinistro destruiu -o completamente, sendo construído um outro com traço de Marques da Silva.

Real Coliseu Portuense.- A mais famosa praça de touros que a cidade do Porto conheceu foi inaugurada em 28 de Julho de 1889.
O local escolhido foi na então Rotunda da Boavista (actual Praça Mouzinho da Silveira). A entrada principal fazia-se pelo sítio onde anos depois foi edificado o Tabernáculo Baptista (Igreja Evangélica do Porto, fundada em 1908). Para se aquilatar da grandeza deste redondel, basta dizer que a lotação era para 8.000 espectadores.
Em 5 de Março de 1894, aquando das Festas Henriquinas, efectuou-se nesta praça uma famosa corrida em honra da família real, à qual assistiram o príncipe herdeiro Luís Filipe e o então infante, depois rei de Portugal, D. Manuel II.

Real Clube Fluvial Portuense. -  constituído por um grupo de amigos em 4 de Novembro de 1876. O seu mentor foi David José Pinho, que no primeiro andar no antigo café Amaro, ao Muro da Ribeira. Posteriormente passou para a Tv. Da Rua de S. João (actual Rua do Club Fluvial Portuense), daqui passou para as actuais instalações na Rua Aleixo da Mota, junto ao Largo do Ouro. O feito mais notável da novel Instituição, foi a conquista em 1881, de dois primeiros prémios nas importantes regatas realizadas em Cascais e que tinham o patrocínio de D. Carlos. Este brioso comportamento valeu-lhes o título de “Real “, por parte do monarca que como sabemos era um grande apreciador deste desporto.

Real Clube Portuense. – Este clube foi fundado em 1857. As suas primeiras instalações ficavam no edifício na Antiga assembleia Portuense (esta havia sido fundada em 1834) no então chamado palacete da Praça da Trindade e que era pertença de D. Antónia, a Ferreirinha da Régua.

Nos dias que correm (e desde 1924) está instalado no prédio do Conde de Vizela à Rua Cândido dos Reis. Nos seus salões realizaram-se os mais deslumbrantes e selectos bailes, mormente os dedicados à família real portuguesa. O primeiro baile foi dedicado a D. Pedro V e dos infantes D. Luís (futuro rei, dada a morte precoce de D. Pedro V). O último foi dedicado a D. Manuel II em 1908. 

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