terça-feira, 25 de setembro de 2018

Sinagoga Mekhor Haim

Sinagoga Mekhor Haim - Sinagoga Kadoorie




A Sinagoga Kadoorie foi um velho sonho, tornado realidade pelos judeus portuenses. Vai ter o seu primeiro dia de existência quando em 1928 o terreno é adquirido e a primeira pedra é lançada em 30 de Junho de 1929. Nas suas fundações e como acto simbólico foram colocadas num tubo de ferro 18 moedas portuguesas do ano de 1929. A compra do terreno só foi possível graças ao contributo de diversas pessoas de diversos países, sobressaindo a família Rothschild, pela sua generosa contribuição. A cerimónia de lançamento da primeira pedra foi acompanhada por diversas individualidades. Estiveram presentes entidades de diferentes comunidades judaicas e de entre os convidados encontrava-se o líder da comunidade de Lisboa, Mosés Amzalak.
IMG_4451Mas, apesar do optimismo que o momento proporcionava, os tempos eram de mudança. A construção de uma Sinagoga ao lado do Colégio Alemão (que na época ficava onde hoje está um empreendimento pertencente à Associação de Moradores do Campo Alegre), não agradou a muitos dos membros da comunidade alemã e, na década de trinta, tal situação não augurava nada de bom.
Na Europa, Hitler e o nazismo eram a grande realidade dos anos 30 e esse clima vai também reflectir-se na nossa cidade: as famílias germânicas que estavam à frente dos destinos do Colégio Alemão eram simpatizantes da causa nazi, pelo que vão solicitar à Câmara do Porto o plantio de um renque de árvores, que ainda hoje podemos observar, para que os meninos alemães não tivessem que, ao sair do colégio, encarar a Sinagoga.
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A instauração da ditadura militar depois do golpe de estado de 28 de Maio de 1926 vem trazer nuvens sombrias e os anos de chumbo estavam a chegar ao nosso país. O clima já não era propício a uma afirmação dos descendentes dos marranos; o regime nascido em 1933, o Estado Novo, não escondia as suas simpatias para com o nazismo emergente na Alemanha e esta realidade tinha consequências.
Entretanto a construção da Sinagoga entrava num período crítico: o dinheiro escasseava as obras ficaram paradas durante bastante tempo. Em 1933 os filhos de Elly Kadoorie, milionário judeu de Hong Kong, ofereceram 5000 libras para a conclusão das obras, com a obrigação desta ostentar o nome Kadoorie. A mulher de Sir Elly Kadoorie era uma sefardita de origem portuguesa de nome Laura Matos Moncada. Por força desta acção, o Presidente Honorário da Comunidade passou a ser, até hoje, Sir Elly Kadoorie, falecido em 1944 depois de ter estado num campo de concentração japonês.
A edificação da Sinagoga é, no fundo, o resultado das contribuições de diversas proveniências: Londres, Paris, Hong Kong, Amesterdão e outros.
Finalmente chegou o dia tão aguardado pela comunidade judaica do Porto, ou seja, a inauguração da Sinagoga Kadoorie Mekor Haïm, a 16 de Janeiro de 1938. O «Jornal de Notícias» do dia seguinte relatava: «Os israelitas do Porto inauguraram ontem a Sinagoga Mekor Haim (Fonte de Vida), na Rua Guerra Junqueiro, para serviço litúrgico da comunidade judaica (…)».
IMG_4520Na inauguração estiveram presentes numerosos representantes de diversas comunidades judaicas. Do Porto, além do Capitão Barros Basto e da sua própria família, estiveram também as famílias polacas, russas, lituanas e alemãs que constituíam o grosso da Comunidade, bem como alguns portugueses marranos já convertidos ao judaísmo oficial; de Lisboa, Mosés Amzalack e de Trás-os-Montes muitos marranos para ali se dirigiram expressamente. A humildade destes marranos era de tal ordem que muitos deles ficaram a aguardar o término do serviço religioso (cuja técnica não dominavam) nas escadas do exterior. As cerimónias religiosas foram realizadas pelos rabinos, Diesendruck e J. Hertz e pelo Sr. Samuel Rodrigues. Todo o evento seguiu o ritual hebraico e coroou os esforços de muitos anos de uma comunidade que, apesar de escassa em número, deveria estar orgulhosa do acontecido. A pequena comunidade israelita do Porto era constituída essencialmente por judeus asquenazitas, que  tinham vindo para a cidade para praticarem o comércio, vindos de diversos países do leste europeu como a Polónia, Ucrânia, Lituânia e Rússia. Não deixa de ser uma ironia, num país de sefarditas, que entre 1493 e 1496 era praticamente a Judeia do mundo, os portugueses eram a minoria na comunidade do Porto. Alguns já na época perguntavam porquê um templo com aquelas dimensões, o maior da Península Ibérica, numa região onde os judeus escasseavam…
           É nossa opinião que no entender do Capitão Barros Basto nem outra coisa poderia ser. Primeiro, o Capitão estava imbuído de que a Obra do Resgate ia trazer para a superfície todos, e seriam algumas dezenas de milhares, os descendentes de marranos que estavam disseminados pelo norte e centro do país e, como tal, a Sinagoga tinha que corresponder a esse número crescente. Segundo, o Capitão queria que os judeus se sentissem orgulhosos da sua Sinagoga, que pedia meças aos templos católicos disseminados pela cidade. Logo ali, bem perto, tinha um exemplo claro dessa realidade. A obra é da autoria dos arquitectos Augusto Santos Malta e Artur Almeida Júnior. Rogério de Azevedo também vai ter intervenção na obra, mas de uma forma discreta e já na parte final.
Para se apurar da grandeza do edifício, a Sinagoga aquando da sua inauguração possuía, como hoje, para além de uma sala de culto com 230 lugares, biblioteca, sala de aula, tipografia, apartamento do rabino e ainda um balneário ritual, mikvé em hebreu. Com a sua escola, Eben-Mussad (Pedra do Alicerce), O Patronato dos Trabalhadores, Hassut Hapoalim e o jornal «Há-Lapid» que também aqui estava instalado, era o órgão oficial da comunidade.
É considerada a maior Sinagoga da Península Ibérica. Em janeiro de 2013 a Sinagoga fez 75 anos e a comunidade celebrou o aniversário com um evento que teve a participação do presidente da Comunidade, o americano Dale Jeffries, do embaixador de Israel em Portugal e de judeus de todo o mundo. As cerimónias foram conduzidas pelos rabinos Daniel Litvak (rabino oficial da comunidade), Abraão Serruya, Eli Rosenfeld e pelos membros do comité religioso da Sinagoga, que dividem a sua vida entre o Porto e Golders Greeen, em Londres.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGZVftzI2806yPYu-Z0RvI488w8xAbdUO-6icmIn3vFah0nzKi0VEA-_8HiIO1-jjv2sior_OK7aFnCdvbv10JJnG2HlB3EJNMb470hvTYYMSngx5paQhOg-tV4Xbyt-dqS25iIk7qZYY/s1600/untitled.pngA Sinagoga tem um valor simbólico acrescido, tanto para os judeus portuenses como para o judaísmo mundial. Na lista de membros beneméritos da comunidade estão personalidades judaicas das mais relevantes do século xx, como Cecil Roth, Edouard Rothschild, Elly Kadoorie, Rabino Chefe David de Sola Pool e a comunidade conta, ainda hoje, entre os seus membros, com judeus de origens tão diversas como Egipto, Índia, Inglaterra, Bélgica, Canadá, Brasil, Rússia, Estados Unidos da América, Polónia, Espanha, Israel, Portugal, México e Venezuela.
              O edifício erguido tem um valor simbólico acrescido, tanto para os judeus portuenses como para o judaísmo mundial. Numa época onde o nazismo punha fogo a dezenas e dezenas de Sinagogas pela Europa fora, em Portugal era inaugurada uma em contraciclo. Ao longo da sua existência ela sempre foi amada, respeitada e preservada pela comunidade judaica portuense. Nunca foi vilipendiada nem dela nunca ninguém se aproveitou. Tomaram conta do «palácio», durante as frias décadas da ditadura e até hoje, famílias como Barros Basto, Kniszinsky, Beigel, Schumann, Finkelstein, Cymerman, Openhaim, Prezman, Lemchen, Flitterman, Tillo e Jeffries.
É fascinante pensar que numa cidade de uma região onde ao longo do século xx escassearam os judeus, nunca essa realidade se reflectiu na Sinagoga. Ela sempre foi tratada com esmero e enlevo pelos filhos de Israel que habitam a nossa região.











quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Capitão Barros Basto



CAPITÃO BARROS BASTO - II PARTE

Mas a nível militar as coisas também não estavam a correr melhor. O Estado Novo, nascido em 1933, estava a impor a sua marca autoritária. Aliás, o próprio movimento Obra do Resgate estava também a incomodar algumas autoridades, especialmente as religiosas pois viam que muitos dos novos judeus, que mesmo tendo sido baptizados anteriormente, estavam a fugir do seio da Igreja Católica. Então o Capitão começou a ser colocado cada vez mais longe do Porto, tendo sido exonerado do comando da Direcção da Casa da Reclusão, sua residência fixa, sendo que o escândalo que rebentou agravou mais ainda a situação.
Dada a fragilidade das provas, os processos penais instaurados, primeiro na policia de segurança pública e, posteriormente, por via de nova denúncia anónima no Tribunal Militar, foram logo derrubadas e o Capitão foi ilibado das graves acusações que lhe haviam sido imputadas. Mas o mal estava feito: o exército abre-lhe um processo disciplinar alegando que as cerimónias da circuncisão a que Barros Basto assistia eram imorais e incompatíveis com a sua situação de militar! Todo o processo ignorou propositadamente que a cerimónia e ritual da circuncisão (brit milá, em hebreu) são inerentes à religião judaica e é o sinal da aliança entre Deus e os homens. Deus, através de Abraão, indicou a este e aos seus descendentes a execução desta cerimónia. Curioso: em 1894 o oficial francês Alfred Dreyfus é acusado de traição num processo todo ele tingido de antissemitismo, que viria a ficar na história e manchada a reputação do exército francês. Três décadas depois o caso repete-se, desta vez em Portugal, mas o Capitão Barros Basto não vai ter o seu Émile Zola para o defender nas páginas dos jornais. O processo disciplinar, terminado em Julho de 1937, acarretou a sua saída compulsiva do exército. Sete meses depois, em 16 de Janeiro de 1938, vê uma das obras da sua vida, a Sinagoga, a ser inaugurada.
Já afastado do exército, vai ter uma acção determinante no período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ajudando centenas e centenas de judeus a fugirem do ódio nazi.
IMG_4462Entretanto os tempos eram outros, o ambiente político não era favorável à sua acção, à grandeza da obra que encetou. A Obra do Resgate não era compatível para um homem só. Lentamente esta vai caindo no esquecimento e muitos judeus voltaram a temer pela exposição pública da sua religiosidade e regressam ao anonimato de sempre e, à medida que os tempos iam passando, a sua religiosidade ia-se diluindo até se perder...
O Capitão vai ficando debilitado, desmotivado, deprimido, situação a que também não foi alheia a doença e posterior morte por tuberculose de um filho, no início da década de 50.
Barros Basto, aliás Ben-Rosh, faleceu em 1961 e foi sepultado em Amarante, sua terra natal, envergando a sua farda de militar e com a bandeira nacional cobrindo o caixão. Dois dias antes de falecer disse à sua filha: «Um dia a justiça vai ser feita». Foi, mas muito tarde.
Homem denso e culto, ao mesmo tempo provido de uma simplicidade que só os grandes sabem ter. Dizia-nos alguém que com ele conviveu, que tinha sempre uma história para contar, mesmo a pessoas de mais baixa instrução ou condição social. A sua ligação à Escola Filosófica Portuense, e ao Grupo Renascença, que teve na revista Águia o seu apogeu, mostram que o Capitão pertencia à elite do, e parafraseando um título de Sampaio Bruno, Porto Culto. Conviveu com Teixeira Rego, e Leonardo Coimbra, entre outros.
Intervém a nível cívico e politico. Empenhou-se na campanha do MUD (Movimento da Unidade Democrática), em 1945. A Obra do Resgate personificou também a resistência à Igreja Católica e ao imobilismo de uma sociedade conservadora, com atavismos de séculos.
O processo ardiloso e cobarde que lhe montaram, mostra o quanto ele era perigoso para o status quo de então e gerador de muitas invejas.
vol_sinagoga_portoTerá sido o Capitão Barros Basto algo ingénuo em algumas das suas acções? Talvez. Deverá ter pensado que o Estado Novo e hierarquia da Igreja Católica iam deixar em paz a Obra do Resgate. Mas tal não aconteceu, como sabemos.
O estranho é que, em 1978, quatro anos depois do 25 de Abril de 1974, o exército português vem insistir junto da família, que entretanto tinha começado o processo para a reabilitação do Capitão, que este tinha sido condenado por actos homossexuais! Precisamente aqueles pelos quais ele tinha sido absolvido à época. Para quem tinha conquistado uma Cruz de Guerra não merecia tanto laxismo por parte das entidades militares e em plena democracia.
Em 31 de Outubro de 2011, com o apoio do bastonário da Ordem dos Advogados Portugueses, a neta do Capitão, Sra. Dra. Isabel Ferreira Lopes, actual vice-presidente da Comunidade Israelita do Porto, deu entrada no parlamento português uma petição para reabilitar a memória de Barros Basto. Finalmente a 29 de Fevereiro de 2012 todos os parlamentares, por unanimidade, votaram a sua reabilitação e foi oficialmente concluído que o Capitão fora vítima da sua condição de judeu e, como tal, alvo de uma discriminação política e religiosa. Uma outra resolução foi votada, com o nº 11972012, em que se recomenda ao governo que proceda a uma reintegração de Barros Basto no Exército a título póstumo, «em categoria nunca inferior àquela a que o militar em causa teria direito se sobre o mesmo não tivesse sido instaurado o processo que levou ao seu afastamento». Só a persistência da Sra. Dra. Isabel Ferreira Lopes, alicerçada nas s
uas convicções, educada numa família de sólidos valores, onde era comum e face às injustiças vividas as mulheres dizerem às mais novas que as «lágrimas vertem-se para dentro».
A justiça tardou, mas chegou… «Tudo se ilumina para aquele que busca a luz», lembram-se? Uma outra divisa que o Capitão usou foi Adonai li ve-lo irá, ou seja, «O Senhor está comigo e nada receio».
Como curiosidade, o Capitão Barros Basto é tio-bisavô da conhecida actriz Daniela Ruah.


FIM



sábado, 15 de setembro de 2018

Capitão Barros Basto - I Parte

Basto, Barros (Capitão) (1887-1961)
Abraham Israel  Ben-Rosh
Artur Carlos de Barros Basto

Tudo se ilumina para aquele que busca a luz

capUma máxima da doutrina Oryam, criada por Artur Carlos de Barros Basto ou Abraham Israel Ben Rosh.
Nascido em Amarante, filho de José Carlos de Barros Basto e de Maria Ernestina Bessa Fortes. A filha da madrinha de Maria Ernestina casou com o Capitão Sidónio Pais, quarto Presidente da República e assassinado em 1918. Existem também fortes possibilidades de ser aparentada a Agustina Bessa Luís.
Militar de carreira, foi consecutivamente alferes (1912), tenente (1916) e capitão (1918). Durante a sua carreira militar foi agraciado com os seguintes títulos: medalhas de cobre e de prata de Bom Comportamento, Medalha da Vitória, Medalha da Cruz de Guerra e Oficial da Ordem Militar de Aviz,  da Ordem de Cristo e da Ordem Militar da Torre e Espada. Foi um dos heróis da Grande Guerra (1914 -1918).
foto_barros_bastoHomem singular, com uma personalidade incomum e dotado de uma grande capacidade de trabalho e com a particularidade de ser considerado um visionário. Foi também um republicano convicto e um dos homens que hasteou a bandeira republicana na Câmara Municipal do Porto após a revolução do 5 de Outubro.
O passado judaico da sua família foi-lhe revelado pelo avô, que confidencia ao neto o seu passado de cristão-novo. Por apelo das suas raízes judaicas foi o fundador do Oryaniamo em 1910, uma escola filosófica alicerçada em valores morais.
Foi também um dos pioneiros do escutismo em Portugal. Criou no Porto uma escola de adueiros, do árabe ad-duuar > aduar, que significa acampamento; na prática era o embrião do escutismo, mas com uma forte componente pedagógica.
Dado o seu fervor republicano, vai embrenhar-se na luta política e partidária aderindo ao Partido Popular, uma dissidência do Partido Evolucionista de António José de Almeida.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/58/Barros_Basto_e_Lea_Azancot.jpgEsteve noivo de uma aristocrata, mas quando a família desta soube das raízes judaicas de Barros Basto, logo intentou abortar o casamento, desiderato que veio a conseguir. Em Lisboa, onde estava aquartelado, conhece uma jovem judia, Lea Israel Montero Azancot. Apesar da amizade que mantinha com Mosés Amzalak (que viria a ser seu padrinho de casamento), figura cimeira da comunidade judaica de Lisboa, Barros Basto verifica que a CIL (Comunidade Israelita de Lisboa) não reúne condições para constituir um tribunal rabínico a fim de o aceitar formalmente no povo judeu. Face a esta situação viaja para Tânger, em Marrocos e aqui, junto da comunidade judaica local, segue os trâmites exigidos e, em 24 de Dezembro de 1920, com 33 anos, é considerado oficialmente judeu.
Barros basto e a sua mulher Lea Azancot
No ano seguinte, em 1921, casa com Lea Azancot, curiosamente bisneta de um rabino de Tânger. O casal vem para o Porto e aqui reside na Avenida da Boavista, número 854, perto da Rotunda da Boavista (hoje com o nome oficial de Praça Mouzinho de Albuquerque). Do casal nascem dois filhos, Nuno e Miryam. Quando chegam ao Porto verificam que existe na cidade um grupo de judeus ashkenazim que se dedica ao comércio. Estes não têm condições para exercer o seu culto dado não haver na cidade nenhuma Sinagoga, aliás nem sequer havia um Sepher Torah (Rolo da Lei), indispensável para as cerimónias. Mas Barros Basto não era homem para desanimar e aluga no Porto, na então Rua de Elias Garcia, no nº 84, um apartamento para servir de Sinagoga. Esta rua já não existe pois foi destruída para dar origem à Avenida dos Aliados. Corria no leito do actual passeio ascendente da avenida. Em Lisboa consegue emprestado um Rolo da Lei. Posteriormente a Sinagoga transita para a Rua do Poço das Patas, no nº 37, 2º andar (actual Rua de Coelho Neto).
Talvez por andarem sempre em mudanças, começa aqui o sonho de os judeus do norte terem uma Sinagoga construída de raiz. Em 1923, com os já citados ashkenazim,   nasce a CIP (Comunidade Israelita do Porto).
Entre 1924 e 1925 o Capitão Barros Basto é procurado por indivíduos portugueses que se intitulavam de judeus e que eram, afinal, os marranos. Em 1926 forma-se o Portuguese Committee e a Obra do Resgate arranca em força em 1927. Esta Obra visava fazer um levantamento dos marranos com o fim de tentar trazê-los para a modernidade. No mesmo ano começa a publicar-se o Jornal «Há-Lapid», onde é essencialmente o Capitão Barros Basto quem publica artigos, estudos e outras temáticas, tendo o judaísmo como pano de fundo. O jornal «Há-Lapid» logo granjeia uma enorme popularidade e recebe diversos pedidos de assinaturas de judeus de todo o mundo. A Anglo-Jewish Association, a Spanish and Portuguese Congregation de Londres e a Aliance Israélite (Universelle) fundaram o Portuguese Marranos Committee, uma instituição criada para ajudar os marranos a enveredarem pelo judaísmo tradicional. Esta instituição tinha que escolher entre a comunidade de Lisboa e a do Porto para do Porto para canalizar os apoios que se estavam a constituir com o fim de ajudar os judeus portugueses. Perante as duas realidades não teve dúvidas: a obra do Porto era mais consistente, melhor estruturada e, além do mais, tinha um líder carismático, o Capitão Barros Basto. Havia ainda a distância: o Porto era muitíssimo mais próximo de Trás-os-Montes e esta situação não era uma questão de somenos importância numa época de difíceis acessibilidades.
capMas não se pense que a questão era pacífica. A comunidade de Lisboa achava que as crianças criptojudaicas trazidas para o judaísmo ortodoxo pelo Capitão Barros Basto deviam ir para Lisboa e lá, juntamente com as outras crianças judias, serem educadas pela comunidade lisboeta!
Entretanto o sonho da construção de uma Sinagoga de raiz avança. Em 31 de Dezembro de 1934 uma caluniosa denúncia anónima avisava a polícia de que no Instituto Teológico Judaico, que tinha sido criado pelo Capitão em 1929, se faziam actividades imorais. Não passava de uma jogada difamatória encetada por indivíduos que nunca foram identificados, mas que se presume terem sido figuras próximas do https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSZ_fwGcN-lBTow4cyapN4Ou2RdYTRvjfhPsW8kpRVLisSEQ9nFtgCapitão Barros Basto e que o quereriam ver fora da direcção da CIP.

                                                                                      ( Cont.)