sábado, 15 de setembro de 2018

Capitão Barros Basto - I Parte

Basto, Barros (Capitão) (1887-1961)
Abraham Israel  Ben-Rosh
Artur Carlos de Barros Basto

Tudo se ilumina para aquele que busca a luz

capUma máxima da doutrina Oryam, criada por Artur Carlos de Barros Basto ou Abraham Israel Ben Rosh.
Nascido em Amarante, filho de José Carlos de Barros Basto e de Maria Ernestina Bessa Fortes. A filha da madrinha de Maria Ernestina casou com o Capitão Sidónio Pais, quarto Presidente da República e assassinado em 1918. Existem também fortes possibilidades de ser aparentada a Agustina Bessa Luís.
Militar de carreira, foi consecutivamente alferes (1912), tenente (1916) e capitão (1918). Durante a sua carreira militar foi agraciado com os seguintes títulos: medalhas de cobre e de prata de Bom Comportamento, Medalha da Vitória, Medalha da Cruz de Guerra e Oficial da Ordem Militar de Aviz,  da Ordem de Cristo e da Ordem Militar da Torre e Espada. Foi um dos heróis da Grande Guerra (1914 -1918).
foto_barros_bastoHomem singular, com uma personalidade incomum e dotado de uma grande capacidade de trabalho e com a particularidade de ser considerado um visionário. Foi também um republicano convicto e um dos homens que hasteou a bandeira republicana na Câmara Municipal do Porto após a revolução do 5 de Outubro.
O passado judaico da sua família foi-lhe revelado pelo avô, que confidencia ao neto o seu passado de cristão-novo. Por apelo das suas raízes judaicas foi o fundador do Oryaniamo em 1910, uma escola filosófica alicerçada em valores morais.
Foi também um dos pioneiros do escutismo em Portugal. Criou no Porto uma escola de adueiros, do árabe ad-duuar > aduar, que significa acampamento; na prática era o embrião do escutismo, mas com uma forte componente pedagógica.
Dado o seu fervor republicano, vai embrenhar-se na luta política e partidária aderindo ao Partido Popular, uma dissidência do Partido Evolucionista de António José de Almeida.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/58/Barros_Basto_e_Lea_Azancot.jpgEsteve noivo de uma aristocrata, mas quando a família desta soube das raízes judaicas de Barros Basto, logo intentou abortar o casamento, desiderato que veio a conseguir. Em Lisboa, onde estava aquartelado, conhece uma jovem judia, Lea Israel Montero Azancot. Apesar da amizade que mantinha com Mosés Amzalak (que viria a ser seu padrinho de casamento), figura cimeira da comunidade judaica de Lisboa, Barros Basto verifica que a CIL (Comunidade Israelita de Lisboa) não reúne condições para constituir um tribunal rabínico a fim de o aceitar formalmente no povo judeu. Face a esta situação viaja para Tânger, em Marrocos e aqui, junto da comunidade judaica local, segue os trâmites exigidos e, em 24 de Dezembro de 1920, com 33 anos, é considerado oficialmente judeu.
Barros basto e a sua mulher Lea Azancot
No ano seguinte, em 1921, casa com Lea Azancot, curiosamente bisneta de um rabino de Tânger. O casal vem para o Porto e aqui reside na Avenida da Boavista, número 854, perto da Rotunda da Boavista (hoje com o nome oficial de Praça Mouzinho de Albuquerque). Do casal nascem dois filhos, Nuno e Miryam. Quando chegam ao Porto verificam que existe na cidade um grupo de judeus ashkenazim que se dedica ao comércio. Estes não têm condições para exercer o seu culto dado não haver na cidade nenhuma Sinagoga, aliás nem sequer havia um Sepher Torah (Rolo da Lei), indispensável para as cerimónias. Mas Barros Basto não era homem para desanimar e aluga no Porto, na então Rua de Elias Garcia, no nº 84, um apartamento para servir de Sinagoga. Esta rua já não existe pois foi destruída para dar origem à Avenida dos Aliados. Corria no leito do actual passeio ascendente da avenida. Em Lisboa consegue emprestado um Rolo da Lei. Posteriormente a Sinagoga transita para a Rua do Poço das Patas, no nº 37, 2º andar (actual Rua de Coelho Neto).
Talvez por andarem sempre em mudanças, começa aqui o sonho de os judeus do norte terem uma Sinagoga construída de raiz. Em 1923, com os já citados ashkenazim,   nasce a CIP (Comunidade Israelita do Porto).
Entre 1924 e 1925 o Capitão Barros Basto é procurado por indivíduos portugueses que se intitulavam de judeus e que eram, afinal, os marranos. Em 1926 forma-se o Portuguese Committee e a Obra do Resgate arranca em força em 1927. Esta Obra visava fazer um levantamento dos marranos com o fim de tentar trazê-los para a modernidade. No mesmo ano começa a publicar-se o Jornal «Há-Lapid», onde é essencialmente o Capitão Barros Basto quem publica artigos, estudos e outras temáticas, tendo o judaísmo como pano de fundo. O jornal «Há-Lapid» logo granjeia uma enorme popularidade e recebe diversos pedidos de assinaturas de judeus de todo o mundo. A Anglo-Jewish Association, a Spanish and Portuguese Congregation de Londres e a Aliance Israélite (Universelle) fundaram o Portuguese Marranos Committee, uma instituição criada para ajudar os marranos a enveredarem pelo judaísmo tradicional. Esta instituição tinha que escolher entre a comunidade de Lisboa e a do Porto para do Porto para canalizar os apoios que se estavam a constituir com o fim de ajudar os judeus portugueses. Perante as duas realidades não teve dúvidas: a obra do Porto era mais consistente, melhor estruturada e, além do mais, tinha um líder carismático, o Capitão Barros Basto. Havia ainda a distância: o Porto era muitíssimo mais próximo de Trás-os-Montes e esta situação não era uma questão de somenos importância numa época de difíceis acessibilidades.
capMas não se pense que a questão era pacífica. A comunidade de Lisboa achava que as crianças criptojudaicas trazidas para o judaísmo ortodoxo pelo Capitão Barros Basto deviam ir para Lisboa e lá, juntamente com as outras crianças judias, serem educadas pela comunidade lisboeta!
Entretanto o sonho da construção de uma Sinagoga de raiz avança. Em 31 de Dezembro de 1934 uma caluniosa denúncia anónima avisava a polícia de que no Instituto Teológico Judaico, que tinha sido criado pelo Capitão em 1929, se faziam actividades imorais. Não passava de uma jogada difamatória encetada por indivíduos que nunca foram identificados, mas que se presume terem sido figuras próximas do https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSZ_fwGcN-lBTow4cyapN4Ou2RdYTRvjfhPsW8kpRVLisSEQ9nFtgCapitão Barros Basto e que o quereriam ver fora da direcção da CIP.

                                                                                      ( Cont.)

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