Basto, Barros (Capitão) (1887-1961)
Abraham Israel
Ben-Rosh
Artur Carlos de Barros Basto
Tudo se ilumina para
aquele que busca a luz
Uma máxima da doutrina
Oryam, criada por Artur Carlos de Barros Basto ou Abraham Israel Ben Rosh.
Nascido em Amarante, filho de José Carlos
de Barros Basto e de Maria Ernestina Bessa Fortes. A filha da madrinha de Maria
Ernestina casou com o Capitão Sidónio Pais, quarto Presidente da República e
assassinado em 1918. Existem também fortes possibilidades de ser aparentada a
Agustina Bessa Luís.
Militar de carreira, foi
consecutivamente alferes (1912), tenente (1916) e capitão (1918). Durante a sua
carreira militar foi agraciado com os seguintes títulos: medalhas de cobre e de
prata de Bom Comportamento, Medalha da Vitória, Medalha da Cruz de Guerra e
Oficial da Ordem Militar de Aviz, da
Ordem de Cristo e da Ordem Militar da Torre e Espada. Foi um dos heróis da
Grande Guerra (1914 -1918).
Homem singular, com uma
personalidade incomum e dotado de uma grande capacidade de trabalho e com a
particularidade de ser considerado um visionário. Foi também um republicano
convicto e um dos homens que hasteou a bandeira republicana na Câmara Municipal
do Porto após a revolução do 5 de Outubro.
O passado judaico da sua família foi-lhe revelado
pelo avô, que confidencia ao neto o seu passado de cristão-novo. Por apelo das
suas raízes judaicas foi o fundador do Oryaniamo em 1910, uma escola filosófica
alicerçada em valores morais.
Foi também um dos pioneiros do escutismo em
Portugal. Criou no Porto uma escola de adueiros, do árabe ad-duuar > aduar, que significa acampamento; na prática era o
embrião do escutismo, mas com uma forte componente pedagógica.
Dado o seu fervor
republicano, vai embrenhar-se na luta política e partidária aderindo ao Partido
Popular, uma dissidência do Partido Evolucionista de António José de Almeida.
Esteve noivo de uma aristocrata, mas quando a
família desta soube das raízes judaicas de Barros Basto, logo intentou abortar
o casamento, desiderato que veio a conseguir. Em Lisboa, onde estava
aquartelado, conhece uma jovem judia, Lea Israel Montero Azancot. Apesar da
amizade que mantinha com Mosés Amzalak (que viria a ser seu padrinho de
casamento), figura cimeira da comunidade judaica de Lisboa, Barros Basto
verifica que a CIL (Comunidade Israelita de Lisboa) não reúne condições para
constituir um tribunal rabínico a fim de o aceitar formalmente no povo judeu.
Face a esta situação viaja para Tânger, em Marrocos e aqui, junto da comunidade judaica local, segue os trâmites
exigidos e, em 24 de Dezembro de 1920, com 33 anos, é considerado oficialmente
judeu.Barros basto e a sua mulher Lea Azancot |
No ano seguinte, em 1921, casa com Lea Azancot,
curiosamente bisneta de um rabino de Tânger. O casal vem para o Porto e aqui
reside na Avenida da Boavista, número 854, perto da Rotunda da Boavista (hoje
com o nome oficial de Praça Mouzinho de Albuquerque). Do casal nascem dois
filhos, Nuno e Miryam. Quando chegam ao Porto verificam que existe na cidade um
grupo de judeus ashkenazim que se
dedica ao comércio. Estes não têm condições para exercer o seu culto dado não
haver na cidade nenhuma Sinagoga, aliás nem sequer havia um Sepher Torah (Rolo da Lei),
indispensável para as cerimónias. Mas Barros Basto não era homem para desanimar
e aluga no Porto, na então Rua de Elias Garcia, no nº 84, um apartamento para
servir de Sinagoga. Esta rua já não existe pois foi destruída para
dar origem à Avenida dos Aliados. Corria no leito do actual passeio ascendente
da avenida. Em Lisboa consegue emprestado um Rolo da Lei. Posteriormente a
Sinagoga transita para a Rua do Poço das Patas, no nº 37, 2º andar (actual Rua
de Coelho Neto).
Talvez por andarem sempre em mudanças, começa
aqui o sonho de os judeus do norte terem uma Sinagoga construída de raiz. Em
1923, com os já citados ashkenazim, nasce a CIP (Comunidade Israelita do Porto).
Entre 1924 e 1925 o Capitão Barros Basto é
procurado por indivíduos portugueses que se intitulavam de judeus e que eram,
afinal, os marranos. Em 1926 forma-se o Portuguese Committee e a Obra do Resgate
arranca em força em 1927. Esta Obra visava fazer um levantamento dos marranos
com o fim de tentar trazê-los para a modernidade. No mesmo ano começa a
publicar-se o Jornal «Há-Lapid», onde é essencialmente o Capitão Barros Basto
quem publica artigos, estudos e outras temáticas, tendo o judaísmo como pano de
fundo. O jornal «Há-Lapid» logo granjeia uma enorme popularidade e recebe
diversos pedidos de assinaturas de judeus de todo o mundo. A Anglo-Jewish
Association, a Spanish and Portuguese Congregation de Londres e a Aliance
Israélite (Universelle) fundaram o Portuguese Marranos Committee, uma
instituição criada para ajudar os marranos a enveredarem pelo judaísmo
tradicional. Esta instituição tinha que escolher entre a comunidade de Lisboa e a do Porto para do
Porto para canalizar os apoios que se estavam a constituir com o fim de ajudar
os judeus portugueses. Perante as duas realidades não teve dúvidas: a obra do
Porto era mais consistente, melhor estruturada e, além do mais, tinha um líder
carismático, o Capitão Barros Basto. Havia ainda a distância: o Porto era
muitíssimo mais próximo de Trás-os-Montes e esta situação não era uma questão
de somenos importância numa época de difíceis acessibilidades.
Mas não se pense que a
questão era pacífica. A comunidade de Lisboa achava que as crianças
criptojudaicas trazidas para o judaísmo ortodoxo pelo Capitão Barros Basto
deviam ir para Lisboa e lá, juntamente com as outras crianças judias, serem
educadas pela comunidade lisboeta!
Entretanto o sonho da construção de uma Sinagoga
de raiz avança. Em 31 de Dezembro de 1934 uma caluniosa denúncia anónima
avisava a polícia de que no Instituto Teológico Judaico, que tinha sido criado
pelo Capitão em 1929, se faziam actividades imorais. Não passava de uma jogada
difamatória encetada por indivíduos que nunca foram identificados, mas que se
presume terem sido figuras próximas do Capitão Barros Basto e que o quereriam ver fora
da direcção da CIP.
( Cont.)
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