sexta-feira, 30 de março de 2018

Cafés do Porto-III Parte


CAFÉS DO PORTO -III PARTE

CAFÉ ÂNCORA D’OURO (PIOLHO)

Inaugurado em 1883, na Praça de Parada Leitão, de frente para a fachada poente do edifício da Academia Politécnica do Porto, actual Reitoria da Universidade do Porto.
Desconhecem-se os proprietários de fundação do café. Sabe-se sim que, em 1909, o estabelecimento foi trespassado a Francisco José de Lima, antigoempregado de mesa do Café Martinho. Manteve-se, ulteriormente, na posse dafamília Reis Lima, mais concretamente, na do filho de Francisco Lima. Em1979, José Martins, José Pires e Edgar Gonçalves, tomaram posse do
estabelecimento, permanecendo seus proprietários até hoje.



CAFÉ PROGRESSO

Fundado em 24 de Setembro de 1899, na Travessa de Sá Noronha.Este café ficou conhecido pelo Botequim dos Professores, atendendo à grande quantidade de profissionais desta área que, ao longo do século XX, ali se reuniam diariamente. O prestígio deste estabelecimento também foi
reconhecido pelo facto de “servir a melhor e a mais saborosa bebida doPorto; O café de Saco”

CAFÉ MONUMENTAL

Fundado no dia 10 de janeiro de 1930 a poente da Avenida dos Aliados. O projeto do café é da autoria do  arquitecto  João Queiroz, o mesmo do Cinema Olympia e do Café Majestic.
Estabelecimento da tipologia de café-concerto, conhecido pelas suas grandes dimensões de três pisos: bar na cave, café (com um palco para a orquestra) ao nível da rua e salão com vinte e quatro bilhares no primeiro andar. Era também chamado pelo café dos " Músicos .



CAFÉ EXCELSIOR

Fundado a 1 de janeiro de 1920 no troço da Rua de Sá da Bandeira que substituiu a do Bonjardim (entre as ruas de Santo António – actual 31 de Janeiro – e Sampaio Bruno).  era conhecido pelo Café do Grêmio e muitos negócios foram feitos neste café com as contas a serem realizadas a lápis nos tampos de mármore das mesas.

CAFÉ RIALTO

Fundado em 1944, nos baixos do edifício de Rogério de Azevedo (conhecido pelo arranha-céus, por ter nove andares e ser considerado, na altura, o prédio mais alto do país), na esquina da Rua de Sá da Bandeira com a Praça D. João. 
Café projectado pelo arquirecto  Artur Andrade, no edifício do arquitecto Rogério de Azevedo, com uma pintura mural de Abel Salazar, frescos de Dordio Gomes e Guilherme Camarinha e um baixo-relevo de António Duarte.

quarta-feira, 28 de março de 2018

Cafés do Porto-II Parte


CAFÉS DO PORTO - II PARTE



CAFÉ BRASIL

Fundado em 1899, e não em 1859( como a imagem em anexo mostra), como aparece referido em todo o lado, fica  na Rua da Madeira, e deve ser o segundo café mais antigo do Porto, dos que ainda hoje existem. Fica junto ao Largo onde se realizava a Feira da Madeira e dos Passarinhos, mesmo ao lado da Estação de S. Bento.
De salientar que as duas mesas privativas que existiam nas instalações do café detinham nomes específicos: a dos cardeais (onde se sentavam Guilherme Braga, Paulo Falcão, entre outros) e a dos indígenas (sempre ocupada por Arnaldo Leite, Sampaio Bruno, Ramalho Ortigão, entre outros).



Café Brasil 



CAFÉ CENTRAL

Café Central 
Fundado em meados do século XIX, na esquina entre a antiga Rua de D. Pedro e a actual Sampaio Bruno. Em 1897 é transferido para o quarteirão dos Congregados (local exacto onde, mais tarde, se localizou o Café Imperial).
Encerrou em 1933, quando o prédio foi demolido para que se construísse, no seu lugar, o edifício que veio a albergar o Café Imperial.





CAFÉ ASTÓRIA

Fundado a 12 de Março de 1932 no edifício das Cardosas, na esquina com a Praça de Almeida Garrett (de frente à estação de S. Bento.
seu nome é inspirado, tal como vários hotéis espalhados pelo mundo, na
designação do célebre Astória nova-iorquino, fundado pela família Astor. Pelo facto de abrir muito cedo (por volta das sete horas da manhã), servia de último local de passagem dos noctívagos.



Café Chave D'Ouro-1927
CAFÉ CHAVE D’OURO

Fundado em 1920.
Este café sempre foi frequentado por empregados do comércio portuense
daquela área geográfica da cidade.






CAFÉ PORTAS DO OLIVAL

Fundado no ano de 1853, tudo aponta para que seja o mais antigo café do Porto, que ainda hoje existe. no Campo dos Mártires da Pátria (antigo Largo da Porta do Olival – actual Cordoaria), na parte compreendida entre as embocaduras das antigas ruas de Trás e Caldeireiros.
Na cave do café podemos encontrar parte da Muralha Fernandina, que tinha uma das portas principais nesta zona . A Porta do Olival, que veio dar o seu nome ao café


segunda-feira, 26 de março de 2018

Botequins/Cafés do Porto - I Parte


BOTEQUINS/ CAFÉS DO PORTO
Outrora os cafés foram um dos locais mais importantes da sociabilidade burguesa e não só
Trocavam-se ideias, debatiam-se políticas, nasceram correntes estéticas, sua importância para o quotidiano citadino levou Garrett a afirmar isto:
"O viajante experimentado e fino chega a qualquer lugar, entra no café, observa-o, examina-o, estuda-o, e tem conhecido o país em que está. O seu Governo, as suas Leis, os seus Costumes, a sua Religião. Levem-me de olhos tapados onde quiserem. Não me desvendem senão no Café e prometo-lhes que em menos de 10 minutos, lhes digo a terra em que estou, se for país sublunar”.  
Também era local de venda de bebidas. Encontro de ideias, de jornalistas. Era para muitos uma extensão do escritório. Muitos negócios se fizeram nos cafés...
Ao longo desta semana iremos visitar cafés/ botequins que fizeram, fazem, parte do imaginário portuense. Para uns um regresso ao passado, memórias se calhar já esquecidas, para outros a novidade de no Porto já terem existido tantos cafés e botequins.
Os botequinseram em geral pequenos e com pouca luminosidade. O asseio andava arredio. Em regra geral tinham uma porta verde tipo “ Saloon” que permitia a quem estava cá fora ver  o que se passava lá dentro.
Alguns autores consideravam estes cafés uns antros mal cheirosos e pouco convidativos
Mistura de cafés, cervejaria, bar, taberna, casa de pasto. Eis os principais botequins:


BOTEQUIM DO  PEPINO ( Ficava no Muro dos Bacalhoeiros )
Foi depois transferido em 1871  para o Beco do Forno Velho.
Arnaldo Gama, no seu livro O Génio do Mal, escreve: “O Botequim do Pepino tinha as traseiras imundíssimas voltadas para um pequeno largo, que por uma travessa sempre suja comunica com o  Cima do Muro"

Botequim do Amaro - Por cima do muro da Ribeira existiu este botequim, no qual foi fundado, em 4/11/1876, o Clube Fluvial Portuense, pelos entusiastas do remo David José de Pinho e o proprietário do botequim José Pereira de Santo Amaro, onde se manteve durante dois anos, passando para a Rua de S. João, 13 2º andar com o nome Café do Rio Douro

O Botequim ficava à direita, defronte à porta da Igreja dos Congregados
adossado à Muralha Fernandina.
BOTEQUIM DO FRUTUOSO/CAFÉ DA PORTA DE CARROS
Fundado em 1820 junto à Porta de Carros da muralha Fernandina – antigo Largo da Porta de Carros, próximo da actual Estação de S. Bento, mesmo  defronte à Igreja dos Congregados.
Pertencia a José Frutuoso Aires Gouveia(pai do ilustre arcebispo de Calcedónia, António Frutuoso Aires de Gouveia Osório, bispo do Algarve e de Betsaida ).próprio café era, na época, inclusivamente, conhecido pelo Café do Frutuoso.

                                                                                                                                                  ( Cont.)







sábado, 24 de março de 2018

Avenida dos Aliados



A Avenida dos Aliados começou a ser rasgada em 1916. Para que esta realidade se impusesse foi necessário demolir alguns arruamentos e dezenas de casas. Ruas como a de Elias Garcia ( já se tinha chamado de Rua do Bispo  e depois Rua de D.Pedro), Rua do Laranjal e Rua dos Lavadouros vão desaparecer para sempre para que surja a nova realidade.
Tudo começou com a demolição na então Praça Nova do palacete barroco onde esteve instalada a Câmara do Porto, isto em 1 de Fevereiro de 1916, com a presença do 1º ministro, Afonso Costa, e do presidente da República, Bernardino Machado.
A partir daqui a monumentalidade da Avenida dos Aliados vai se impor e podemos encontrar nesta edifícios de arquitectos como Marques da Silva, Rogério de Azevedo, Pardal Monteiro, entre outros.
Os elementos escultóricos  são de Henrique Moreira.





quinta-feira, 22 de março de 2018

Miragaia e a Alfândega

Local onde se construiu a Alfândega do Porto.
Em parte corresponde ao antigo Caminho de Miragaia a que se refere a vereação de 5 de Junho de 1405: “mandarom ao procurador da cydade que fezese correger… o camjnho de myragaya ataa casa de fernam Coutinho”. Também denominada no passado por Rua da Nova Alfândega, nome que aliás é o correcto e lhe foi dado por edital de 29 de Maio de 1872 
            A Rua da Nova Alfândega é uma serventia à qual o Roteiro do Porto para 1915 atribui um comprimento de 789 metros 
            A Rua Nova da Alfândega recebe o nome do estabelecimento aduaneiro que aí se localiza, hoje dimensionado para outras actividades, e cuja construção, no exacto lugar onde o Rio Frio desagua no Douro, teve início em 1859, sob o risco do engenheiro C. F. G. Coulson (ou Colson), técnico do ministério das Obras Públicas.
            Gastaram-se na obra cerca de 1.200 contos, alguns dos quais mediante recurso a empréstimo. De registar que, por Carta de Lei de 4 de Setembro de 1869, o Município foi autorizado a contrair um empréstimo de 200 contos para esse efeito. Sofreu entretanto obras de requalificação, tendo por base um projecto do arquitecto Eduardo Souto Moura, a fim de albergar a VIII Cimeira Ibero-Americana (1998) e o Museu de Transportes e Comunicações.
            Iniciados, a 11 de Abril de 1867, os trabalhos de abertura desta artéria, que vai da Rua do Infante à Rua de Monchique, ficaram concluídos por volta de 1871. Foi construída de modo a ficar num plano bastante superior ao rio, a fim de evitar os nefastos efeitos das cheias.
            A sua abertura, para ligação ao novo edifício sacrificou várias outras ruas e vielas do Bairro dos Banhos (Rua dos Banhos, da Munhota ou Minhota, da Porta Nova, do Reguinho, onde tinha nascido Júlio Dinis,da Ourivesaria, das Boas Mulheres do Mestre, do Calca Frades, da Rondela e do Forno Velho) para além de mais de 200 habitações. 
            Frente  à Rua de S. Francisco, aquele pequeno trecho desnivelado que ainda hoje se vê corresponde ao que resta de uma velha artéria, também desaparecida denominada por “tanoaria da Fonte da Rata” (referenciada em documento datado de 1759) onde estanciavam os tanoeiros com suas oficinas.

            Integrava, em 1860, a chamada Estrada da Foz.

quarta-feira, 21 de março de 2018

Praça Mouzinho de Albuquerque/Rotunda da Boavista


Em cima  Praça de Mouzinho de Albuquerque, vulgarmente chamada de Rotunda da Boavista
Tem este nome desde 30 de Dezembro de 1897.  Antes tinha sido Praça da Boavista e houve uma tentativa de lhe chamar Praça da Glória. Imitação da Praça da Etoile de Paris, com diversas ruas que irradiam dela, tal como na " Rotunda". 
Como podem ver na foto de cima,  à  esquerda  vê-se a antiga estação dos STCP, onde agora , e desde 2004 a Casa da Música. à direita podem ver o palacete e os seus jardins.onde hoje está o Centro Comercial Brasília, inaugurado em 1976, sendo o 2º mais antigo do país.
Na foto de baixo, podem observar  o tal  palacete com  mais pormenor. Nas suas traseiras, numas casas que lá existiam  faleceu Júlio Brandão ( 1869-1947 ), um autor muito esquecido, mas que está homenageado numa rua do chamado Bairro de Guerra Junqueiro,

terça-feira, 20 de março de 2018

Palacete(s) da Avenida da Boavista

Outra perspectiva do palacete vendo-se ao lado o palacete do Visconde de Lobão, ainda hoje existente

Palacete que pertenceu ao capitalista   António Júlio Machado (a mulher Maria Augusta era a Condessa de Netancur).  Ardeu, diz-se que por causa de um descuido de uma empregada, que deixou distraidamente um ferro em brasa em cima de uma tábua.
No seu lugar construí-se o edifício que alberga o " Bingo do Boavista", gaveto da Avenida da Boavista com a Rua de Belos Ares, onde durante muitos anos, até ao seu recente falecimento, viveu o professor Óscar Lopes.

A avenida da Boavista começou a ser projectada em 1854, como o comprova a planta, desse ano, de Joaquim da Costa Lima Júnior, a sua conclusão duraria quase um século, uma vez que foi em 1917 que se abriu até ao mar. 
Inicialmente era chamada de Rua da Boavista,mas a partir de  até 1890, foi chamada  de avenida
 “A pedido de alguns moradores da rua da Boavista, a Exma Câmara Municipal resolveu dar o nome de Avenida da Boavista à parte da mesma rua, compreendida entre a de Santa Isabel e a Fonte da Moura”.

Gustavo Adolfo Gonçalves de Sousa foi o seu autor  que lhe fixou, desde logo, uma largura de quarenta metros.
O último terço, construído sobre a parte de um pequeno vale, desviou algumas das linhas de água que a zona da Vilarinha, com origem a sudoeste do planalto da Senhora da Hora. Este antigo ribeiro está hoje reduzido ao pequeno regato do Queijo que desagua, encanado, alguns metros a norte do velho fortim com o mesmo nome. De registar que, por deliberação camarária de 21 de Novembro de 1918, ao troço que vai da Fonte da Moura ao Castelo do Queijo foi dado o nome de Avenida de Eça de Queirós, entretanto abolido e nunca entrou na toponímia oficial. Também esteve para ser chamada de Avenida de Portugal, Avenida Oliveira Salazar, Avenida Francisco  Sá Carneiro. 
Nunca nenhum destes nomes vingou.
A avenida é a maior de Portugal com os seus sete quilómetros de extensão.










segunda-feira, 19 de março de 2018

Comício de Norton de Matos no Porto


Comício da candidatura do General Norton de Matos no  dia 23 de Janeiro de 1949. 

O comício do dia 9 no campo do Salgueiros já tinha sido muito concorrido, mas este excedeu as expectativas. Mais de 150.000 pessoas, numa época onde a PIDE controlava tudo e todos. Os transportes públicos foram proibidos  para desmotivar as pessoas, mas nem isso impediu. O local foi o Centro Hípico do Porto, à Fonte da Moura, no Porto. Algumas das  figuras das comissão eleitoral  depois viriam a fazer parte do imaginário da oposição. Mário Soares, Salgado Zenha, Virgínia Moura,  Almirante Tito de Morais, Duarte Leite, Eduardo Santos Silva.  Como as eleições não eram livre nem isentas, a candidatura do velho general ( já tinha 80 anos ), desistiu do pleito eleitoral  e Óscar Carmona ( 1869-1951 ),  foi reeleito,  vindo a falecer a  18 de Abril de 1951, sendo substituído pelo General Craveiro Lopes.

sábado, 17 de março de 2018

A " Salamancada" - Anatomia de um Desastre Anunciado


A “SALAMANCADA” E O PORTO – ANATOMIA DE UM DESASTRE ANUNCIADO


Em 1 de Julho de 1881 os grandes capitalistas e as principais casas financeira do Porto juntam-se para a constituição de um sindicato financeiro (tendo por detrás, Henrique de Burnay, a maior fortuna do seu tempo e uma das cem maiores da Europa).
O objectivo deste sindicato era concretizar a ligação ferroviária do Porto a Salamanca, através de Barca D´Alva
Era uma forma de tentar com que a projectada linha de caminho de ferro, linha esta que era do interesse espanhol, Salamanca Vilar Formoso e Salamanca -Barca D´Alva, se preocupasse mais com o prolongamento da linha da Beira Alta e não com a ligação á cidade do Porto.
Era um objectivo para dois, três anos e era uma forma do mercado espanhol estar acessível aos interesses capitalistas portuenses.
Era no dizer dos responsáveis pelo sindicato uma “urgência fatal e inadiável”, já que qualquer
demora produziria “danos verdadeiramente irreparáveis.
O prazo máximo para a concretização das linhas era de três anos, o que ficou consignado no caderno de encargos.
Este processo subiu ao parlamento e vai ter luz verde dos ministros da Fazenda e das Obras Públicas, Fontes Pereira de Melo e Hintze ribeiro.
Aqui funcionou o lobby do Partido Regenerador, a direita monárquica, que arregimentou as câmaras municipais da sua cor política para, estas concordarem com o plano.
A oposição ao projecto era não só encabeçada pelo Partido Progressista, a esquerda monárquica, assim como os Republicanos, que eram uma força em ascensão.
Ambos não queriam que o governo estivesse de uma forma tão ligado a um projecto que era da iniciativa privado e com os bancos a colaborarem com ele de uma maneira que ia ao arrepio da própria lei.
Mas em rigor não era bem assim, o único deputado republicano no parlamento, Elias Garcia, Grão-Mestre da Maçonaria, nunca fez nenhum discurso contra o sindicato e no Porto, outro republicano, Rodrigues de Freitas, até escreveu um artigo a favor do mesmo…
Foi no fundo uma luta entre as duas grandes famílias politicas de então. O Bloco central da época. Mas também foi uma luta entre o Porto e Lisboa, fazendo vir ao de cima velhas querelas regionais versus centralistas.
Os que estavam a favor, e estamos a falar da dita opinião publica, isto é a opinião que os jornais publicavam, diziam que o caminho de ferro era o motor do desenvolvimento, o que não deixava de em parte estar certo.
Outro argumento dizia que se a Espanha era o nosso grande cliente comercial, fazia sentido ter boas comunicações com uma região, Salamanca, que com os cerca de 200.000 habitantes era, e dada a proximidade geográfica, uma prioridade absoluta.
A cidade do Porto, diziam eles, seria a grande privilegiada por esta iniciativa e se ela não se fizesse viria a ruína comercial e industrial.
Também diziam que se isto não se fizesse seria a Figueira da Foz a grande beneficiaria desta inação.
Era o sonho da linha internacional, já que a ligação, Salamanca Hendaia, levaria os produtos para a Europa desenvolvida.
Os que criticavam diziam que a economia do país não suportava mais aventuras económicas, os impostos tinham sido aumentados em 6% por causa da nossa debilidade financeira e que a fome era uma realidade em vários pontos do país e por isso havia prioridades.
Outros diziam que sendo Portugal um país pobre, não fazia sentido construir um caminho de ferro…em Espanha e quando nem Trás os Montes nem o algarve tinham um só quilómetro de via férrea.
Diziam também que o argumento de que a Figueira da Foz seria a grande beneficiária se a linha não se fizesse era ridículo pois, se a Barra do Douro era difícil e complicada, o que dizer do Porto da Figueira que só permitia barcos de pequeno calado.
Mas o projecto foi para a frente e com um aval económico do governo apesar deste antever algumas limitações de ordem financeira, como por exemplo, não exceder os 135 contos anuais.
Mas tudo correu mal. O trajecto foi mal desenhado, as estações ficavam longe dos aglomerados principais.
O mesmo traçado era demasiado acidentado, o que aumentava o seu custo por quilómetro.
Uma ignorância nos assuntos mais técnicos da construção assim como fraude na entrega da empreitada.
Um troço, e grande, teve que ser feito duas vezes!
Sub empreitadas dadas a “amigos” com lucros excecionais para quem entregava a empreitada pois o custo base era de por exemplo 100 e dada a subempreitada a 50!! E dava mesmo assim lucro a estes contratados.
Abóbadas mal construídas. Pontes que ameaçavam ruir, travessas usadas sem terem em conta o clima da zona. Em suma erro atrás de erro, corrupção, nepotismo.
Mesmo assim a obra Salamanca Vilar Formoso ficou pronta, cinco anos depois do inicio da obra, que deveria estar concluída em três.
A empreitada Salamanca à Barca D´Alva só foi inaugurada seis anos depois…
Mas, como é óbvio, os credores do sindicato batiam á porta deste para reaverem o seu dinheiro investido.
Em março de 1888 os bancos dirigem um pedido de auxilio ao Governo, porque os prejuízos de um negócio em que eles estavam proibidos pela lei da época de participarem, estava a ser ruinoso para os balanços dos mesmos.
A banca do sindicato estava endividada em 4000 contos, com encargos de 600 contos anuais, provocadas pelo défice na exploração e quer dos “encargos dos capitais desembolsados e das obrigações criadas”!!
Só a exploração da linha dava um prejuízo de 80 contos de reis todos os anos.
Acionistas do Sindicato Financeiro
Era no dizer dos bancos que pedira ajuda ao Governo, uma calamidade económica para os sete bancos envolvidos e que a cidade do Porto também se iria ressentir deste desastre financeiro.
Solicitaram ao governo que lhes desse a exploração do Porto de Leixões e dobrar lhe s a garantia de juro.
Nova polémica no parlamento, a oposição queria uma comissão de inquérito aos custos astronómicos e que se averiguasse a profunda corrupção de que todo o processo enfermava.
O governo acudiu aos bancos e entregou a exploração de Leixões a uma empresa que o Sindicato viesse a criar.
A companhia chamou-se Companhia das Docas do Porto e Caminhos de Ferro peninsulares.
No entanto as acções desta companhia estavam nas mãos dos bancos apesar de não terem nenhuma cotação.
Mas dá-se a crise de maio de 1891, os bancos já debilitados pelos investimentos colossais que tinham feito poderiam entrar em bancarrota e através de uma lei de Julho de 1891 o governo vem em auxilio dos bancos do Porto. Mas com um preço bem alto.
A partir desta data deixavam de poder emitir moeda, de que os bancos se ufanavam e era motivo de orgulho para a cidade do Porto.
Como os bancos não tinham condições para pagar as despesas de exploração da linha, esta passou para as mãos do estado.
Foram ainda obrigados a fundirem os sete bancos, em dois.
Desaparecia para sempre o Banco Mercantil, fundado em 1856, o Banco União, criado também em 1856, a Nova Companhia de Utilidade Pública, fundada em 1864, o Banco Português, fundado em 1875 e o Banco de Comércio e Indústria, criado em 1876.
Todos foram fundidos no Banco Comercial do Porto (banco já tratado por mim, durante esta semana dedicada à Banca do Porto e que podem ler noutra página deste blogue.).
Oliveira Martins, voz avisada, e conhecedor dos meandros financeiros, ele que foi ministro das Finanças, diziam que os anos oitenta do século XIX tinha criado uma classe de plutocratas.
De facto, sim, a ganância, a avidez e a cobiça, típica do capitalismo não regulado e vigiado, criou esta situação altamente lesiva para a cidade do Porto.
O grande vencedor desta situação foi o Conde de Burnay. Uma figura do seu tempo e que corporiza todos os vícios deste tempo.
É ela que dá a ideia da criação do Sindicato, participa nele, mas de uma forma ligeira e sem grande empenho financeiro, comprou jornalista para escreverem e criarem um clima que fosse favorável ao projecto.
Deram lhe grandes facilidades em concluir negociações em nome do Sindicato todas as compras são da sua responsabilidade, locomotivas, traves e todo o tipo de material necessário para a conclusão da empreitada.
Lucrou de uma forma fabulosa com as encomendas que mandava fazer, recebeu 360 contos sobre lucros, que ainda vinha aí!!
Negociou a derrota da banca do Porto e da sua agora extinta faculdade emissora.
Em suma depois de ter quase levado a banca da cidade à falência, vai gerir a sua liquidação e fusão com outros!!
Boicotou, mentiu ameaçou. Como dizia Rafael Bordalo Pinheiro; Burnay “Compra, Vende, Troca, Empresta, Põe, Repõe, Fia, Jura e Faz”.
E dizia com toda a inocência do mundo que apenas queria ser útil ao país!!
E que dizer da cidade do Porto que em 24 de Outubro de 1930 decidiu dar o seu nome a um arruamento na zona do Monte Aventino!!
Porquê? Só porque começou a sua actividade na cidade do Porto? E foi aqui que começou a dar nas vistas para os negócios, com o aluguer de parte do Palácio de Cristal para um bazar?
Um tiro no pé na minha opinião. E numa cidade com tantos nomes para se homenagear nas ruas portuenses, a começar pela D. Antónia, a “Ferreirinha da Régua.

PS - Este texto é baseado  num trabalho do  Professor Fernando de  Sousa dedicado a esta temática. O quadro anexo foi retirado desse trabalho. 

sexta-feira, 16 de março de 2018

Banco Borges & Irmão



BANCO BORGES & IRMÃO

O Banco Borges & irmão foi fundado em 1937.
No entanto a sua génese remonta a 1884 quando dois irmãos, António Nunes Borges (1857-1939) e Francisco António Borges (1860-1939), fundaram no Porto uma casa de câmbios, que durou até 1910.
Entre esta data e 1937 foi Casa Bancária e partir daqui ficou com a designação comercial de Banco Borges & irmão, até 1996 data em que foi incorporado no Banco Português de Investimento.
Se em 1884 dissessem que a Casa António Nunes Borges & Irmão se iria tornar num dos pilares do mundo financeiro, não só do Porto, como também do país, muito não acreditariam.
No entanto em 1884, data da elevação a banco, como acima citamos, a cidade tinha inúmeros bancos e casas bancárias. A cidade vivia uma nova fase de dinamismo económico, depois da crise de 1876, e segundo os anuários da época a citada contava com:
Oito bancos com sede na cidade, 21 agências ou caixas filiais de   bancos nacionais,
Uma filial de um banco inglês, sete casas bancários e dezanove casas de câmbios!
O banco começa a prosperar, a aumentar as instalações alugando e comprando os edifícios contíguos ao banco nas ruas de Sá da Bandeira e Bonjardim, aproveitando também para diversificar o seu ramo de negócios.
Assim, em 1910, além da banca o BBI tinha interesses em outras áreas, tais como; tabacos, fósforos, lotarias e vinhos.
Em 1910 a Casa Bancária tinha um estatuto de sociedade ilimitada e com agência em Lisboa.
Em 1912 dá-se a expansão para o Rio de Janeiro aproveitando o boom da emigração para o Brasil e a necessidade que os emigrantes tinham de ter um banco a quem confiassem as suas poupanças.
Em 1918 é fundada a Sociedade dos Vinhos Borges, o que mostra a importância daquele negócio no seio da actividade do grupo.
Em 1919 Manuel Pires Fernandes ( era pai de Maria Borges, que viria a casar com Francisco Borges, um dos donos do banco. D. Maria Borges foi a alma do Teatro Rivoli durante décadas ), entrou para a sociedade, juntamente com José Nunes Fonseca, uma forma do grupo ganhar mais músculo dado que aquele era dono do Teatro Nacional, antepassado do Teatro Rivoli.
Apesar das vicissitudes da época, turbulência política, golpe militar do 28 de Maio de 1926, o banco continua a sua expansão e em 1926 abre uma agência em Braga, 1916, Ovar, 1927 e Matosinhos, 1931.
A expansão continua, os depósitos em 1932 batem recordes e em 21 de Agosto de 1937 é criado o Banco Borges & Irmão SARL, com o capital social de 15.000 contos.
Em 1837 o banco estava em sétimo lugar no que respeita ao capital e reservas, mas em depósitos, cerca de 250.000 contos, era o quinto do ranking nacional.
Os anos pós-morte dos fundadores são de expansão continua e o capital e o seu aumento são prova disso. Em 1942, é de 30.000 contos e em 1950 já é o dobro.
Estes anos também são de expansão da rede de agências, tais como, Gondomar, Vilar Formoso, Lourosa, etc.
Na cidade do Porto abre agências no Carvalhido, Areosa, Praça de Carlos Alberto.
Esta expansão também se faz sentir em Lisboa com abertura de novas agências.
Em 1964 o banco tem 30 estabelecimentos, 13 agências,10 dependências urbanas no Porto, cinco em Lisboa, um posto de câmbios em Vilar Formoso e um correspondente no Rio de Janeiro.
Em 1975, 11 de março, dá-se a nacionalização de quase toda a banca, mas mesmo assim o BBI é um banco em expansão e pilar do sistema financeiro, além de cabeça de um grupo multifacetado.
Em 1995 o banco possui, 175 agências em Portugal, representações em França, Estados Unidos, África do Sul e Venezuela.
Segundo o relatório de 1989 o banco possuía mais de 4000 trabalhadores o que aquilata a sua importância no seio do mundo bancário nacional.
Em 1996 a Holding Bancária BPI/SGPS adquire além do BBI o Banco de Fomento Exterior.
Em 1998 dá-se a fusão do Banco Fonsecas & Burnay, do Banco Borges & Irmão, do Banco do Fomento Exterior, dando origem ao BPI/ Banco Privado de Investimentos.
É o fim da marca BBI, que marcou a sociedade portuguesa durante o século XX e uma referência para milhares de emigrantes espalhados pelo mundo.