quinta-feira, 26 de julho de 2018

BREVE DICIONÁRIO DE TERMOS JUDAICOS- V PARTE



BREVE DICIONÁRIO DE TERMOS JUDAICOS- V PARTE


Rabi
 Palavra inglesa que significa rabino e que vem do hebraico Rav, que significa mestre, professor, estudioso da lei judia.

Rosh Hashaná
Ano Novo Judaico. É a primeira festa do calendário hebraico. Como o ano judeu é lunar, o Rosh Hashaná é celebrado nos dias 1 e 2 do mês Tishri, que equivale à lua nova de Setembro. É o início de dez dias de penitência que só termina no Kipur.

Sefardita
 Judeu oriundo da Península Ibérica, sendo que Sefarad é mesmo a expressão hebraica para a Península Ibérica. Por extensão designa todos os judeus que cumpriam na íntegra os costumes dos grandes centros rabínicos de Sefarad. Hoje também contempla os judeus oriundos do Norte de África e demais países muçulmanos.

Sefer Torá
 Significa Livro da Tora, o Pentateuco, palavra grega que quer dizer «Cinco Rolos». Trata-se de um pergaminho onde está escrito o Pentateuco (cinco primeiros livros da Bíblia) e de que deve ser lido numa parte no serviço religioso semanal.

Shabat 
Sétimo dia da semana e sagrado para os judeus. É consagrado à família, ao estudo e à oração. Vem de Shavat, que significa «descansou». A palavra sábado vem do latim Sabbatum que, por sua vez, vem do hebraico shabbat.

Shavuot
 Festa equivalente ao cristão Pentecostes. Comemora-se 50 dias após o Pessah (Páscoa). Também chamada Festa das Ceifas pois está ligada ao calendário agrícola. Dia festivo em que é tradição os judeus fazerem bolos com queijo e outros alimentos lácteos.

Shoá 
Termo de origem hebraica que significa literalmente «catástrofe». Expressão que, na prática, substitui a palavra holocausto: o extermínio dos judeus por parte da Alemanha nazi.

Sinagoga 
Ou Beit knésset quer dizer «Casa de Reunião». É o local de oração dos judeus e que também serve de escola.

Sucot
Também chamada festa dos Tabernáculos e Festa das Cabanas. É igualmente apelidada de Festa das Colheitas dado em regra coincidir com esta estação, ou seja, meados de Outubro. É uma das maiores festas do ano que consegue reunir dezenas de milhares de pessoas junto ao Muro das Lamentações. Relembra os 40 anos de êxodo do povo hebreu após o cativeiro no Egipto. Durante esse período o povo judeu habitou em cabanas, no deserto.

Tahara 
Ritual de purificação. Passa por lavar os corpos dos entes falecidos antes de serem sepultados, envolvidos numa mortalha.

Talit 
Xaile ou manto que os judeus colocam durante as orações.

Torá
Etimologicamente quer dizer «instrução», ou «orientação». É o texto mais importante do judaísmo. Reza a tradição que foi dada por Deus a Moisés. Também se aplica ao conjunto de ensinamentos do judaísmo e a todas as explicações da Tora escrita e da Tora oral vertida nos ensinamentos do Talmude e de outros documentos.

Yiddish
Em português ídiche. Contrariamente ao hebreu, língua oficial do Estado de Israel, que é uma língua semítica do tronco cananeu, o ídiche é uma língua de origem germânica e que incorporou vários vocábulos hebreus e também palavras de outras línguas europeias. É a língua falada pelos judeus da Europa Central e Oriental.

Yom Kipur
Dia do perdão ou da expiação. A mais importante festividade do calendário judaico. É um dia de reflexão, perdão e arrependimento. Entre 6 e 26 de Outubro de 1973 deu-se uma guerra, a quarta, entre Israel e uma coligação de países árabes chefiados pela Síria e pelo Egipto. A guerra começou precisamente no dia do Yom Kipur, motivo pelo qual é conhecida, e apanhou o Estado de Israel de surpresa. Refeitos do choque inicial, os judeus começaram um contra-ataque vitorioso que só terminou com um cessar-fogo promovido pelas Nações Unidas. A guerra terminou com uma retumbante vitória de Israel. Esta guerra vai ter como consequência a crise do petróleo em 1973 e os acordos de Campo David em 1978, onde pela primeira vez um país árabe, o Egipto, reconhece o estado de Israel.

sábado, 21 de julho de 2018

BREVE DICIONÁRIO de TERMOS JUDAICOS- IV PARTE

                                

                           BREVE DICIONÁRIO de TERMOS JUDAICOS- IV PARTE

Kipá
 Pequena cobertura para a cabeça, usada pelos homens judeus em sinal de respeito a Deus. Serve de lembrança permanente de que existe um Deus por cima de suas cabeças.

Kipur − Ver Yom Kipur.

Kasher ou Kosher
 Significa literalmente correcto ou apto de acordo com a lei religiosa judaica.

Ladino 
Idioma falado pelos judeus espanhóis e portugueses. Era uma mistura das línguas nacionais dos respectivos países, com maior preponderância das línguas castelhana e hebraica; tinha ainda a particularidade de juntar elementos linguísticos dos diversos países para onde os judeus ibéricos demandaram.

Marranos 
O mesmo que Anousim, Bnei Anousim ou Cripto-Judeus. O termo Marranos está a perder a forte carga pejorativa que sempre teve. Designava os cristãos-novos ibéricos que, secretamente, professavam o judaísmo. Eram descendentes biológicos dos conversos de 1496 (como, calcula-se, todos os portugueses) mas mantinham ainda as práticas judaicas, rezando a Adonai (Deus) e encetando casamentos com iguais, a fim de ser mantida a matrilinearidade judaica. A palavra «marrano» é de origem espanhola e significa «porco». No entanto, estudos recentes apontam para outra raiz etimológica: de facto a palavra pode querer dizer também «convertido à força» e foi o que, de facto, aconteceu. Actualmente ainda existem marranos em sertões do Brasil e na América do Sul. Tais marranos deparam-se muitas vezes com a desconfiança por parte das comunidades judaicas oficiais, dado que muitos são aqueles que se apresentam como marranos sem o serem, jogando um manto de descrédito sobre os verdadeiros marranos. Já houve tribunais rabínicos ludibriados por falsos marranos, de diversas nacionalidades, que conseguiram ser reconhecidos como judeus. As conversões estão sempre a tempo de ser anuladas quando realizadas numa base falsa. Infelizmente muitas vezes uma simples investigação à família dos que alegam ser marranos prova que mentem quanto às suas origens e pretensas tradições familiares. O fenómeno não é novo, nem é exclusivo do continente americano. No tempo em que o capitão Barros Basto era presidente da Comunidade Israelita do Porto, esta comunidade chegou a expulsar indivíduos que chegaram à sinagoga dizendo-se marranos e narrando histórias fantásticas e que mais tarde se veio a saber serem falsas. À conta desses episódios, a Direcção da Comunidade estabeleceu, no ano de 1935, por acta que ainda se encontra em vigor, que só seriam admitidos na Comunidade aqueles que «provassem absolutamente» a sua origem judaica. O regulamento actual da Comunidade Israelita do Porto prevê que qualquer indivíduo que ali se apresente dizendo-se marrano seja sujeito a diversos procedimentos: entrevistas pessoais, investigação às práticas judaicas da família, investigação à genealogia da família e seus casamentos de modo a ficar indiciada a manutenção da matrilinearidade judia, comprovação da veracidade das informações colectadas. A comprovação dos conhecimentos sobre a religião judaica é uma questão lateral.

Mazal Tov − Pode traduzir-se como «boa sorte», o que na tradução literal significa uma boa e favorável constelação zodiacal. Foi incorporada na linguagem moderna através do Yddish. É uma das expressões mais conhecidas da língua hebraica. O termo não é usado da mesma forma que «boa sorte» em português (por exemplo, «Desejo-te boa sorte»), mas mais ao estilo de «Parabéns!», para expressar que um bom evento ocorreu. Por exemplo, após um Bar Mitzva ou um casamento judaico é comum dizer-se aos visados: Mazal Tov!.
Mekor Haim 
Significa «Fonte de Vida», designação dada pelo Capitão Barros Basto. Já antes havia uma Sinagoga provisória com este nome na Rua Poço das Patas, actualmente chamada Rua de Coelho Neto.

Menorá 
Palavra hebraica que significa lâmpada. Trata-se de um candelabro de sete braços e é um dos símbolos mais conhecidos do judaísmo. Deus revelou o desenho do Menorá a Moisés e foi construído em ouro maciço. Terá sido levado aquando da destruição do segundo templo em 69 d.C. (3629, ano do calendário hebreu).

Mikvé − Tanque de águas naturais em que os homens judeus devotos submergem antes de datas especiais do calendário hebraico e que as mulheres também utilizam após o ciclo menstrual. É necessária a submersão no mikvé para a conversão ao judaísmo. Segundo os preceitos judaicos, todo o corpo tem que entrar na água para assim se purificar em pleno, com que um regresso às águas do Éden. Recentemente, em Dezembro de 2013, foi descoberto em Coimbra, após uma vistoria camarária a uma ruptura de canos num prédio no centro da cidade, uma estrutura medieval que se pensa ter sido uma mikvé destinada a banhos rituais judaicos.

Mitzvá 
Significa obrigação religiosa. É o singular de mitzvot. De acordo com o judaísmo, existem 613 mitzvot para os judeus e 7 mitzvot para os não-judeus.

Pessah − Páscoa judaica. Comemora a fuga dos hebreus do Egipto após um longo período de escravidão. Foi Moisés que guiou o povo hebreu para a Terra Prometida. (Há um longo debate entre os sábios de Israel sobre a duração da escravidão no Egipto).

Pogrom 
Quer dizer massacre, em russo. Designa, no sentido lato, os ataques a que ao longo da história os judeus de leste foram vítimas nos seus países: Rússia, Polónia, Ucrânia e outros.

Purim – A Festa do Purim comemora-se em 14 de Adar, que é o último mês do ano, sendo que, por vezes, é o penúltimo. Festeja a salvação dos judeus persas do extermínio determinado por Hamã, primeiro ministro da Pérsia.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Dicionário de Termos Judaicos- III Parte


BREVE DICIONÁRIO de TERMOS JUDAICOS- III PARTE


Diáspora 
Palavra de origem grega e que significa dispersão. O povo judeu desde tempos imemoriáveis que tem a diáspora como uma realidade incontornável.

Ehal Ver Aron.
Esnoga − Antepassada da palavra Sinagoga. Era assim que eram designados os templos judaicos no Portugal medievo. No Porto, as actuais escadas da Vitória da freguesia com o mesmo nome, perto da igreja paroquial e onde outrora, apesar de não termos provas documentais nem físicas mas reza a tradição, esteve a Sinagoga da Judiaria do Olival.
Estrela de David − Símbolo cuja origem não é clara e que se diz ter estado gravado nos escudos usados pelos soldados do Rei David. O seu nome correcto é Maguen David, que significa Escudo de David.
Hoje faz parte da bandeira do estado de Israel.

Gabay 
Significava literalmente o colector ou recebedor; era, na prática, um tesoureiro dos dias de hoje.

Gheto
 Quarteirão da cidade onde estavam confinados os judeus. No mundo latino é equivalente à judiaria.

Ha-Lapid (ou «O Facho»)
 Nome do jornal publicado pelo Capitão Barros Basto. Foi o periódico oficial da Comunidade Israelita do Porto. Foram publicados 158 números entre 1927 e 1958. Com intuitos pedagógicos foi uma verdadeira voz da Obra do Resgate, encetada pelo Capitão Barros Basto em prol de resgatar os marranos e trazê-los para a corrente oficial do judaísmo.

Holocausto − Ver Shoá.

Judeu (Ser)
Quem é de facto judeu? Existe alguma confusão entre os não judeus (gentios) na definição de judeu. Diz a lei mosaica ou rabínica (halakhá) que é judeu todo aquele que descenda de uma judia,mesmo que ambos não saibam da sua natureza judia ou até mesmo que pratiquem outra religião, tal como pode ser um praticante zeloso de religião hebraica sem, contudo, ser judeu. Atenção, o filho de um judeu e de uma não judia é apenas um descendente de judeus. Nos EUA, por exemplo, são hoje dezenas de milhares os filhos de pai judeu e mãe não judia. Não são judeus, ainda que pratiquem rituais da religião ancestral da família do pai. A única solução que possuem é a conversão através de um Beit Din ortodoxo. Para além do filho de mãe judia, é também judeu aquele que se converter ao judaísmo seguindo os rigorosos padrões da Halachá. Esta é a definição usada pelo judaísmo desde há 3300 anos e o único critério que é consensual. Em termos biológicos, a linha seguida é a linha matrilinear. Se contassem como judeus os seus descendentes por via paterna, o seu número no mundo multiplicar-se-ia vezes sem conta, dado que até os árabes seriam judeus por descenderem de Abraão. Só uma mãe judia ou um Beit Din ortodoxo podem conferir, no primeiro caso, ou reconhecer, no segundo, a qualidade de judeu a uma determinada pessoa. Na Bíblia existem mais matriarcas do que patriarcas: Sara, Raquel, Rebeca e Lea. Génesis, 21.12, «Deus diz a Abraão: tudo o que Sara te disser, escuta a voz dela!». A respeito da conversão, para se conseguir tal intento é necessário ao candidato dar mostras de que aceita praticar as 613 mitsvot (palavra hebraica que significa mandamentos, obrigações religiosas. O singular da palavra é mitzvá), o que em regra demora vários anos. Em termos de morfologia, os judeus oferecem traços típicos de todos os povos da terra, o que se explica por força de séculos de tribulações, mas não só. De acordo com a Torá, na conversão geral do Sinai ocorrida há 3300 anos, estavam presentes não somente os hebreus mas também uma mistura de povos, cifrada em centenas de milhares de pessoas, então também escravos do Egipto.

Judaísmo 
É uma das três principais religiões abraâmicas e a mais antiga, definida como a «religião, filosofia e modo de vida» do povo judeu.

Judiaria 
Bairro judeu de uma qualquer cidade do sul da Europa.


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sábado, 14 de julho de 2018

DICIONÁRIO DE TERMOS JUDAICOS

BREVE DICIONÁRIO DE TERMOS JUDAICOS - II PARTE


Ázimo 

 Significa sem fermento, insípido, insosso. Matsá é o nome que os judeus dão ao pão não levedado e que é consumido durante os oito dias das cerimónias da Pessah, Páscoa hebraica. Em alguns processos da Inquisição aparecem expressões como pão santo, outra designação que era usada pelos cripto-judeus para designar este alimento.


Bar-Mitzvá 

Iniciação na idade adulta dos adolescentes masculinos. Essa passagem para a idade adulta é celebrada na Sinagoga e a partir daqui também já contam para o minyam, quórum mínimo de dez homens para que possa haver uma cerimónia religiosa sem limitações ao nível dos rituais. Em geral faz-se uma celebração festiva a convite dos pais do jovem adulto.


Ben-Rosh 

Significa literalmente filho do chefe. Nome que o Capitão Barros Basto adoptou.


Cabalah 

Estudo místico, esotérico. Uma espécie de ciência oculta ligada ao judaísmo. No entanto a palavra entrou na linguagem corrente para também designar uma conspiração e superstições.


Canaan 

A Terra Prometida por Deus ao povo hebreu.


Chanuká 
Festa do calendário judaico que festeja a libertação de Jerusalém. Em 3575, segundo o calendário hebreu, ou seja, em 175 a.C. no calendário gregoriano os gregos de Antíoco IV tomaram Jerusalém, obrigando todos os seus habitantes ao culto de Zeus. Dez anos depois os judeus revoltaram-se, conseguindo expulsar os invasores. No ano transacto, em 2013, a festa foi celebrada a 1 de Dezembro (o calendário hebreu é lunar) e, durante oito dias, todos os lares judeus mantiveram acesa a chanukiá, candelabro de 8
braços, mais um adicional denominado shamash.


Chérem 

Excomunhão, um anátema lançado pelas autoridades religiosas judaicas sobre um membro da comunidade judaica. Era uma forma de ostracização, não só religiosa como também civil.


Circuncisão 

 Remoção do prepúcio do recém-nascido. A cerimónia ocorre no oitavo dia após o nascimento.


Conversos

Nomeia, no que aos judeus diz respeito, os filhos de Israel que foram obrigados a ser baptizados na Igreja Católica. Esta situação aconteceu-lhes ao longo da história, pelo menos desde o período visigótico, mas teve o seu apogeu depois do Édito de Expulsão decretado pelo rei D. Manuel I, em 1496.


Cripto-judeus

cripto-judeus ou marranos são judeus (filhos de mãe judia) que praticam o judaísmo encriptadamente, às escondidas. São na prática os anusim
(forçados) e os Bnei Anousim (filhos dos forçados) que clandestinamente continuaram a rezar a Adonai e a praticar os rituais judaicos e as obrigações religiosas judaicas, caso da manutenção da matrilinearidade judia nos casamentos, sem a qual o cunho de «judeu» desaparece. O cripto-judeu é um praticante clandestino do judaísmo, ou melhor, da lei judaica (os rabinos contestam que o judaísmo seja uma religião) o que faz de forma secreta, encriptada. O cripto-judeu português ostentava rituais já abastardados, mas respeitava a matrilinearidade judia, pois desde o fundo dos tempos qualquer judeu (cripto ou não) sabia que os seus filhos só seriam judeus se a sua esposa fosse judia. O casamento de um judeu com uma mulher judia é uma espécie de primeiro mandamento para a sobrevivência do povo judeu. Qualquer indivíduo que excepcione essa regra, os seus filhos e filhas deixarão de ser judeus.

Cont.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Breve Dicionário de Termos judaicos


DICIONÁRIO JUDAICO

Abafadores 

Segundo relatos antigos, em Trás-os-Montes e Beiras os judeus ou cristãos- novos mandariam «abafar» os seus entes que já estavam em estado terminal. Era uma forma de não receberem os últimos sacramentos da extrema-unção dados por um padre católico. Era uma forma de o doente também não denunciar, mesmo que involuntariamente, a sua condição de judeu, num tempo em que muitos cristãos-novos muitas vezes não eram mais que cripto-judeus. Há quem afirme que tudo não passava de lendas e histórias inventadas pelos cristãos quando viam chegar junto da casa do doente os homens que vinham praticar os ritos fúnebres inerentes à religião judaica. O «abafamento» é uma forma de homicídio, logo é uma prática ilícita segundo a lei judaica.


Açougues 

 No Porto medievo existiam três açougues: o do Bispo, o do Rei e o dos
Judeus. O açougue judeu era liderado por um Shochet4 talhante profissional, que matava o gado segundo os preceitos religiosos.
Ado-nai − Significa «Meu Senhor», nome usado pelos judeus quando se referem a Deus.
Alheira − Associado aos judeus é, sem dúvida, o mais conhecido enchido português. Transmontano de origem, é um enchido que tem evoluído e sofrido mutações ao longo dos tempos. Na sua origem levava diversas carnes: pato, perú, vitela, faisão, etc. A tradição diz-nos que os judeus inventaram a alheira para fugirem aos inquisidores que, quando penetravam nas casas dos cristãos-novos, procuravam na despensa carne de porco ou se, na sua ausência, não estariam perante cripto-judeus. Ao misturarem as diversas carnes com o pão conseguiam disfarçar a ausência da carne de porco, dizendo que ela também fazia parte da mistura… Era uma forma velada de conseguirem respeitar as suas convicções religiosas.


Anti-semitismo

 Contra os judeus: expressão usada ao longo da história e que designa o ódio ao povo judeu consubstanciado nas perseguições, pogrom, conversões, etc. O Holocausto (Shoá) é o mais conhecido episódio da sanha contra o povo judeu.
Anus − Palavra hebraica que significa forçado. Era o termo aplicado aos judeus que eram obrigados à força a abdicar da sua religião. Os descendentes dos Anusim (forçados) que continuaram (alguns até ao século XX) a praticar rituais judaicos na clandestinidade e a manter a matrilinearidade judia nos casamentos tomaram o nome de Bnei (filhos) Anoussim. É importante dizer que, num certo sentido, todos os portugueses são Bnei Anousim, ou seja, todos são descendentes de judeus conversos. É um facto histórico incontornável que cristãos-novos e cristãos-velhos se foram unindo pelo matrimónio, de sorte que, à luz da genealogia enquanto ciência, é praticamente impossível que exista um só português que não seja descendente de conversos. No entanto, por Bnei Anousim devem entender-se somente aqueles que clandestinamente continuaram a rezar a Adonai e a manter o espírito de família nos casamentos, pois se a mãe não for judia, o cunho de «judeu» desaparece e os seus descendentes já não o poderão invocar.


Anusim, (plural de Anus) 

Termo usado para designar os judeus ibéricos obrigados à conversão forçada.
Apostasia − Acto de se renegar a fé recebida. Diferente da heresia pois esta apenas diz respeito à negação de algum, ou alguns, dogmas da religião.
Aron há-kodesh − Pequeno armário onde se guardam os rolos da Lei (como o encontrado na Rua de S. Miguel, nº 9, apesar de haver algumas dúvidas que assim seja). Este termo é mais utilizado pelos judeus ashkenazim. Os judeus sefarditas chamam-lhe Ehal.


Ashquenazis 

A Bíblia diz-nos que Achkenaz foi descendente de Yafet. Este termo aplicava-se na Alemanha. Ashkenazis são os judeus que seguiram os costumes dos grandes centros rabínicos da Alemanha. Hoje aplica-se esta designação aos judeus originários da Europa Central e de Leste. A língua comum é o Yiddish, em português, ídiche.
Ázimo − Significa sem fermento, insípido, insosso. Matsá é o nome que os judeus dão ao pão não levedado e que é consumido durante os oito dias das cerimónias da Pessah, Páscoa hebraica. Em alguns processos da Inquisição aparecem expressões como pão santo, outra designação que era usada pelos cripto-judeus para designar este alimento.


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quarta-feira, 4 de julho de 2018

Judeus Oriundos do Porto

JUDEUS  ORIUNDOS DO PORTO 


Aboab, Emanuel (1555-1628)
Intelectual, nasceu no Porto onde foi educado pelo seu avô, Abraão Aboab. Viveu em Itália, nomeadamente em Pisa e daqui partiu para Corfu, na Grécia, onde conviveu com Orazio del Monte, sobrinho do Duque de Urbino, que o protegeu. Posteriormente regressou a Itália, Veneza, onde foi rabino. Foi autor de um livro de direito tradicional, onde elencou as personalidades que mais defenderam esse mesmo direito, que foi publicado pelos seus descendentes em Amsterdão, em 1629.


Baruch, Ralph (1923)
Fugidos à Alemanha nazi, os pais de Ralph e este chegam a Lisboa depois de uma odisseia por vários países para, posteriormente, tentarem chegar aos Estados Unidos. De Lisboa vêm para o Porto e aqui são ajudados pelo Capitão Barros Basto e pela família. Daqui partem no navio Niassa para o continente americano e chegam a Nova Iorque, onde uma nova vida os espera. Tal situação só foi possível graças à ajuda de Max Azancot, cunhado do Capitão Barros Basto, que só à sua conta e valendo-se da sua qualidade de advogado, terá auxiliado a fuga de muitos judeus. Nos Estados Unidos, Baruch vai tornar-se anos depois o presidente de um império ligado à televisão, a Viacom, que englobava a CBS, e agora também a VH1, Viva, MTV, Paramount Pictures e mais. Ganhou um Emmy, além de outras distinções e é ainda hoje considerado uma referência no mundo audiovisual norte-americano.


Beigel, Eliezer
Judeu de origem polaca é filho de Nathan Beigel, o presidente da Comunidade Israelita do Porto que sucedeu a Barros Basto em 1948. Ainda hoje, aos 80 anos de idade, faz parte dos órgãos sociais dessa Comunidade a que também presidiu.
É também uma figura muito respeitada comércio portuense.


Castelo Branco, Camilo (1825-1890)
Um dos mais prolíferos escritores portugueses de sempre. É também um dos autores que mais usa a temática judaica na sua obra. Vários livros nos falam de judeus, rituais cripto-judeus e nota-se uma compaixão da sua parte pelas perseguições, ódios e incompreensões de que foram alvo ao longo dos tempos. Livros onde a temática judaica é central, ou importante: O Judeu, 1866 (este livro fala-nos de António José da Silva); O Olho de Vidro, 1866; Cavar em Ruínas, 1867; A Caveira da Mártir, 1875-76; Boémia do Espírito, 1886. Neste último livro Camilo diz-nos que a sua família, por parte do pai, é de ascendência judaica e estudiosos confirmam esta realidade, inclusive com a divulgação de processos encontrados nos arquivos da Inquisição onde se mencionam antepassados de Camilo que foram inquiridos pelos esbirros do Santo Ofício. O próprio Capitão Barros dizia que a leitura de alguns dos livros de Camilo o sensibilizaram para a questão dos marranos.

Costa, Uriel da

Uma das personagens mais controversas do judaísmo portuense. Nascido Gabriel da Costa, em 1579 na Rua das Flores e não em 1590, como muitos biógrafos afirmam. Foi o investigador Mendes dos Remédios que numa aprofundada pesquisa na Universidade de Coimbra onde Uriel cursou Direito Canónico, descobriu a data real do nascimento. Os seus pais, Bento da Costa e Sara da Costa eram cristãos-novos. Foi católico até aos 22 anos e, a partir daqui, as dúvidas começam a atormentá-lo o que o leva a estudar o judaísmo talvez para encontrar as respostas para as suas inquietações mais profundas. Abandona o Porto e vai viver para Amesterdão, cidade conhecida pela sua relativa, tolerância para com as confissões religiosas. É aqui que muda o nome de Gabriel para Uriel da Costa ou Uriel Abadot, mas também vai usar o pseudónimo de Adam Romez. Mas nem aqui o seu espírito belicoso vai ter paz pois edita o panfleto intitulado «Tratado da Imortalidade da Alma», onde nega a possibilidade da imortalidade da alma. Este libelo é uma resposta às acusações lançadas sobre si pelo seu adversário Samuel da Silva. Luta contra a visão mais ortodoxa do judaísmo e vai fazer muitas inimizades e rancores, o que leva a que seja excomungado não só pela Sinagoga de Amesterdão, como também pelas de Hamburgo e Veneza, com quem a Sinagoga holandesa mantinha estreitas relações. Uma situação que também deve ter perturbado Uriel da Costa é o facto de a sua mãe se ter reconciliado com a comunidade: O medo de correr o risco de ficar insepulta por causa das heresias do seu filho levaram-na a rever a sua atitude, o que deverá ter desgostado um homem perturbado e dado a desequilíbrios como era Uriel. Após avanços e recuos, a que não falta a acusação de que tentou assassinar um adversário e vendo-se totalmente ostracizado pela comunidade, vai suicidar-se em 1640. Agustina Bessa Luís, em 1984, dedicou a Uriel da Costa uma biografia intitulada «Um Bicho na Terra»: nesta obra a romancista vai afirmar que para ele a tragédia
era amar a sua religião e odiar a disciplina que ela impõe. Um homem que não acreditava na transcendência, nos dogmas, nos milagres, na imortalidade e afins não poderia sentir-se bem nem no catolicismo, nem no judaísmo, nem em religião alguma.

Cymerman, Henrique


Nascido no Porto em 1959. Filho de Ozias Leão Cymerman, já falecido, e de Cotta Benarroch. Seus pais estavam ligados à actividade industrial, mas o processo pós 25 de Abril, gerador de um caos no que respeita à actividade económica, fizeram com que saíssem do país, indo viver para Barcelona. Henrique Cymerman é licenciado pela Universidade de Telavive em Ciências Sociais, além de um mestrado em Ciências Políticas e Sociologia. Actualmente é correspondente de uma estação de televisão privada e de um canal público de rádio portugueses. Recentemente visitou o Papa Francisco juntamente com o seu grande amigo, o rabino argentino Abraham Skorka (professor de Bíblia e literatura rabínica no Seminário Rabínico da Argentina e no Jewish Theological Seminary of America), tornando‑se talvez no primeiro jornalista a visitar um papa na sua residência particular.


Dov, Ben (Menasseh Kniszinsky Ben‑Dov)

Judeu de origem lituana que fez parte das primeiras direcções da Comunidade Israelita do Porto. Os serviços que prestou à Comunidade foram de tal ordem importantes que
se tornou, juntamente com Barros Basto, num membro benemérito da Comunidade Israelita do Porto. Os alunos da yeshivá tinham por ele uma grande afeição e diziam que era tão grande a sua força física que era capaz de levantar dois homens ao mesmo tempo. Judeu ortodoxo, conta‑se que uma vez foi buscar a neta à escola e que ouviu um menino gentio dizer que um dia casaria com ela. Volvidos dois meses, Ben Dov abandonou Portugal, levando toda a família.


Lopes, Isabel Ferreira
Actual Vice‑presidente da Comunidade Israelita do Porto. Neta do Capitão Barros Basto. Seguindo as pisadas da mãe e da avó, foi ela quem requereu à Assembleia da República a reabilitação do avô, tendo a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias declarado, em 29 de Fevereiro de 2012, que «A condenação de Arthur Barros Basto pela decisão do Concelho Superior de Justiça Militar no processo de disciplina militar nº 6/1937 é justificada factualmente e motivada valorativamente por intolerância religiosa e por um preconceito anti‑semita verdadeiramente indisfarçáveis na análise dos autos daquele processo. Arthur Barros Basto foi «separado do exército» devido a um clima genérico de animosidade contra si motivado pelo facto de ser judeu, de não o encobrir, e, pelo contrário, de ostentar um proselitismo enérgico convertendo judeus portugueses marranos e seus descendentes. Numa época histórica matizada pelo sentimento anti‑semita, em que as mais abjectas teses acerca de raças superiores e inferiores pululavam pela Europa, Portugal não ficou totalmente imune a essas ideias — tal como nenhum outro país europeu desse tempo — e a sentença que vitimou Arthur Barros Basto é disso a prova mais plena e lamentável. Reabilitar Arthur Barros Basto é reconhecer um erro trágico cometido há mais de sete décadas, regenerando com isso o presente e o futuro dos portugueses, que se quer livre, democrático e tolerante. Com a reabilitação póstuma de Barros Basto serão todos os portugueses a serem ilibados de uma injustiça cometida contra um homem, mas que acabou por manchar todo um colectivo».


Jeffries, Dale
Actual presidente da Comunidade Israelita do Porto, à qual está ligado há 30 anos. É compositor musical. Divide a sua vida entre o Porto e Miami.


Litvak, Daniel (Rabino)
É o actual rabino da Sinagoga do Porto e preside ao comité religioso da Comunidade Israelita do Porto. De origem lituana mas nascido na Argentina, Litvak divide actualmente a sua vida entre Israel e o Porto. A sua supervisão de produtos como sendo casher é reconhecida pelo Grão Rabinato de Israel e por grandes organizações mundiais de casherut.


Losa, Ilse (1913‑2006)
Escritora de origem alemã nascida em Bauer, Hannover. Em 1930 é obrigada a sair da Alemanha dado terem começado por esta altura a perseguição aos judeus. Vai para Inglaterra mas, devido ao anti‑semitismo que encontrou, parte para Portugal em 1934. A escolha da cidade do Porto como destino justifica‑se pelo facto de o seu irmão mais velho já cá viver. Aqui conhece o arquitecto Arménio Losa, com quem casa em 1935. A partir daqui enceta uma carreira literária que a vai tornar numa das mais famosas escritoras, especialmente de literatura infantil, da segunda metade do século xx. Os seus livros O Mundo em que Vivi e Sob Céus Estranhos, narram a sua visão da cidade do Porto nos anos de chumbo da guerra. Ao longo da sua vida profissional dedicou‑se à tradução e viu a sua carreira literária ser consagrada com a obtenção de vários prémios. Em 1992 é homenageada pelo Goethe Institut, vindo a falecer em 2006.


Roth, Cecil (1899‑1970)
Professor inglês, natural de Londres, Cecil Roth tornou‑se famoso por ter divulgado, num estilo que o notabilizou pelo brilhantismo, a existência dos marranos, no livro História dos Marranos, de 1932, mas só traduzido para português em 2001. Antes já tinha publicado The Religion of Marranos, em 1931. É membro benemérito da Comunidade Israelita do Porto.


Samuel, Schwarz (1880‑1953)
Judeu polaco, nascido perto de Lódz. Samuel Schwarz conclui o curso de engenharia de minas em 1904, vindo trabalhar para Portugal depois de ter passado por vários países, incluindo Espanha, onde tomou conhecimento da existência dos sefarditas. Em Portugal viveu em Belmonte e, após o contacto com os descendentes dos cristãos‑novos, escreveu a obra Os Cristãos‑Novos em Portugal no Século XX, em 1925. Escreveu ainda outras obras dedicadas ao judaísmo em Portugal. Apesar de não ser um historiador, Samuel Schwarz foi o responsável pelo conhecimento no estrangeiro dos marranos portugueses. Por causa da sua acção vão fundar‑se diversos comités de ajuda pró marranos e enceta uma amizade com o Capitão Barros Basto.


Santos, António Ribeiro dos (1745‑1818)
Nascido no Porto, na freguesia de Massarelos, em 1745. Homem culto e cosmopolita, Ribeiro dos Santos licenciou‑se em direito na Universidade de Coimbra. Homem inserido no Espírito
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das Luzes, dotado de conhecimentos enciclopédicos, sobressaiu na historiografia e nos estudos relacionados com a linguística. Os seus estudos sobre o povo e a cultura hebraica foram pioneiros e tornaram‑se uma referência. Reorganizou a Real Biblioteca Pública da Corte, antepassada da Biblioteca Nacional. Depois de uma vida dedicada à cultura veio a falecer em Lisboa, em 1818.


Steinhardt, Inácio Kremer
Judeu de origem polaca e nascido em Lisboa em 1933. É investigador, tradutor, empresário, jornalista, ensaísta e estudioso do judaísmo em Portugal. Desde muito cedo que se sentiu atraído para o estudo da história dos judeus em Portugal e para a pesquisa dos vestígios do judaísmo e do cripto‑judaísmo. Autor de inúmeros livros, entre os quais Ben‑Rosh. Biografia do Capitão Barros Basto, com Elvira de Azevedo Mea (1997) e Raízes dos Judeus em Portugal (2012). Foi homenageado pela Comunidade Israelita do Porto em 12 de Junho de 2012 por relevantes serviços prestados à Comunidade e ali considerado o maior conhecedor da história das comunidades judaicas portuguesas actuais.


Zimler, Richard
Escritor nascido em Nova Iorque em 1956 e naturalizado português em 2002. Apesar de não ser um judeu religioso é um amigo da Comunidade Israelita do Porto. Obras principais: O Último Cabalista de Lisboa (1996); Meia‑Noite ou o Princípio do Mundo (2003); Os Anagramas de Varsóvia (2009); A Sétima Porta (2010); A Sentinela (2013).