quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Ilhas do Porto- I Parte

AS ILHAS DO PORTO   ( I PARTE )                                          -

As ilhas são ao nível do urbanismo o facto mais saliente da cidade na segunda metade do século dezanove e que perduraram até aos nossos dias.
Elas foram a resposta que a cidade conseguiu dar às populações que demandaram a urbe a partir de 1860, em busca de melhores condições de vida que a industrialização nascente prometia.
As ilhas são um fenómeno típico do Porto e dos municípios vizinhos, bem diferenciadas do fenómeno lisboeta.
Aqui, na capital, encontramos os pátios (locais onde alojaram os milhares de forasteiros que foram à procura dos empregos criados à boleia da nossa tímida industrialização). que se calhar vêm da influencia muçulmana.
As ilhas do Porto têm alguma semelhança com as “back to back houses”, de Leeds e outras cidades britânicas.
Esta realidade terá a ver a com a influencia que a comunidade britânica exerceu no Porto?
Numa forma simplificada, podemos dizer que as ilhas são filas de pequenas casas de um só piso, construídas nas traseiras das casas burguesas e com uma ligação à rua feita por um pequeno corredor perpendicular à artéria principal. A cidade do Porto passou de cerca de 90.000 habitantes em 1864 para quase 170.000 em 1900, isto é quase duplicou a população num espaço de pouco mais de 30 anos. Este acréscimo deveu-se quase todo à imigração das populações rurais do Norte que vieram para a cidade em busca de melhores condições de vida.
Só que os baixos salários que vinham usufruir apenas lhes permitiam o acesso às habitações mais económicas que existiam, as ilhas, O crescimento das ilhas acompanharam sempre o crescimento populacional, assim entre 1864 e 1900 foram construídas mais de 10.000 habitações nas ilhas o que correspondeu a 63 % do volume de construções na cidade!
A população das ilhas era constituída essencialmente por gente ligada à indústria. Em grande parte dos lares, ambos os adultos e pelo menos um filho trabalhavam nas inúmeras fábricas que do Bonfim (a Manchester portuense) a Cedofeita marcavam a paisagem da cidade. Assim não é de estranhar que num estudo efectuado pelo Dr. Ricardo Jorge se chegasse à conclusão que em 1899 11.129 casas, nas ilhas, albergavam 50.000 habitantes, tendo chegado a um máximo de 60.000 nos anos 40 do século XX. Hoje a população alojada em ilhas é de cerca de 11.000 habitantes.
As condições de vida eram péssimas. As casas eram fracas com deficientes condições de alojamento, insalubres e grande parte delas sobre ocupadas. As rendas, regra geral ocupavam 10% dos rendimentos disponíveis indo 80 % para a alimentação onde o pão ocupava lugar cimeiro. A população das ilhas vivia num outro mundo em relação à cidade burguesa e comercial e como estavam escondidas de todos logo foram chamadas de “ Ilhas “ .
Ilha do Vilar, na Rua do Vilar

“ Foi a eclosão da peste bubónica de 1899 que obrigou a cidade e os seus responsáveis a olharem de frente para o problema. Situação que só começou a ser um facto a partir dos anos 40 na vereação do Dr. Mendes Correia. Mas não foi só a Bubónica a dizimar a população das ilhas outras doenças encontraram aqui pasto fértil para a propagação e dizimação de uma população fragilizada pelas péssimas condições de vida. Por isso não é de estranhar que a Tuberculose (a tísica, como se dizia na altura) em 1833 a Cólera que repetiu em 1855 e 1892, febre-amarela em 1850 e 1855. De todas estas doenças não há duvidas que a Tuberculose é que dizimou mais vítimas, chegando a ser responsável por 1700 óbitos na zona do Porto, isto é um terço do país! Ainda hoje a Tuberculose tem uma taxa de incidência na zona do Porto três vezes superior ao do resto do país. Por isso ainda hoje ecoam as palavras do Dr. Ricardo Jorge que chamava ao Porto a sua cidade cemiterial!
Apesar das ilhas hoje já não serem a face mais visível da habitação popular, são os bairros sociais, o facto é que toda a gente da cidade se lembra de Ilhas emblemáticas, tais como: A Ilha do Leal, A Ilha Herculano, a Ilha do Vilar, Parceria e Antunes etc. Por isso não é de estranhar que alguns autores considerem as ilhas como o subconsciente do Porto e nelas apesar da pobreza sórdida (ou por causa dela) se tenham criado laços de solidariedade social entre os seus habitantes que ajudaram a minorar as condições humilhantes de existência.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Demografia-Parte II



DEMOGRAFIA -PARTE II




Como se pode aferir do quadro abaixo mostrado, a população do Grande Porto em setenta anos duplicou a população, passando de quase 700.000 habitantes em 1940 para quase 1.700.000 em 2011.
Também se pode ver que há uma relação simétrica entre a perda demográfica da cidade do Porto em detrimento dos municípios que circundam a cidade, especialmente V.N. de Gaia que a partir de 2001, passou a ser o mais populoso concelho da região e é neste momento o terceiro maior do país, atrás de Lisboa e Sintra (como curiosidade é de referir que o fenómeno é o mesmo em Lisboa, pois a capital já chegou a ter 800.000 habitantes em 1960 e segundo os censos de 2011 tem cerca de 550.000. Por seu lado, Sintra que em 1960 tinha 83.000, tem hoje cerca de 370.000 habitantes. Antes da lei de Maio de 2012 que agregou freguesias, o concelho de Sintra tinha as duas mais populosas freguesias do país, Agualva do Cacém e Algueirão Mem Martins).
Se observarmos a população a nível de freguesia vamos encontrar dados muitos importantes no que respeita aos movimentos Porto, periferia e vamos perceber que as freguesias que mais próximas estão do Porto, mais crescimento tiveram em relação à cidade vizinha.
Por isso não é de estranhar que Rio Tinto, concelho de Gondomar, com os seus 50.762, seja a mais populosa freguesia da AMP (Área Metropolitana do Porto), Mafamude, com 38.579. Ermesinde com 38.804. Matosinhos com 30.682 Santa Marinha com 30.445 e Senhora da Hora com 27.676, são as freguesias mais populosas do Grande Porto.
De notar que nestas estatísticas não seguimos a Lei de 2012, que ao agregar freguesias criou verdadeiros “monstros” populacionais, sem razoabilidade e sem ter a noção histórica desta junção. Exemplos flagrantes encontramos a Un ião de Freguesias Matosinhos /Leça?
Historicamente separadas, e não só em termos físicos, pois o Rio Leça separa duas comunidades que apesar de pertencerem ao mesmo concelho tiveram desenvolvimentos totalmente diferente ao longo do processo histórico.
Podemos sintetizar estas diferenças no axioma; Leça é aristocrática, Matosinhos é popular.
Nada têm a ver uma com a outra, sociologicamente e economicamente são muitos diferentes, o que eu só por si justificava que a lei de 2012 tivesse tido isso em conta. Mas decisões tomadas nos gabinetes alcatifados do Terreiro do Paço fizeram nascer estas realidades, ao arrepio de qualquer lógica ou sensatez. Se de facto em alguns lugares do país este agrupamento ou uniões de freguesias como lhe chamam tem racionalidade e é pacifico, noutros foram tomadas decisões que urge reverter.


segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Demografia - I Parte


DEMOGRAFIA PORTUENSE

Como sei que existe uma grande confusão em relação à população da cidade do Porto, quero esta semana dedicar-me a esta temática, assim como aos Bairros Sociais da cidade.
Pelos censos de 2011 o Porto tinha 247.560 habitantes, assim distribuídos:



Como podemos observar as três maiores freguesias a nível demográfico são:

Paranhos, com 44.298. Ramalde, com 38.012 e Campanhã com 32.659.

Mas nem sempre foi assim,  ao longo do século XX, outras freguesias tiveram a primazia a nível populacional, mas com o processo de despovoamento que a cidade vive desde 1981, assistimos a uma perda de cerca de 1/3 da população nos últimos 30 anos.
Em 1981 a cidade tinha 330.199 habitantes, foi o n´vel mais elevado que o Porto atingiu a nível demográfico. A subida foi gradual ao longo do ´seculo XX, a tingindo no ano referido o seu zénite populacional.
Para terem um noção da quebra demográfico a que hoje assistimos,  vamos ver  a evolução da cidade ao longo da última centúria.
1900 - 167.955
1940 - 248.055
1960 - 303.424
1970 - 301.655
1981-  330.199 ( como já acima referi )
1991 - 307.600
2001 -265.710
2011 -247.560 ( como já acima referi )

Estes dados permitem aferir a longa sangria demográfica que o Porto sentiu, sendo esta população
literalmente expulsa para a periferia, como vamos ver no próximo capítulo deste tema.
Em 1900  a freguesia mais populosa era o Bonfim com 26.448, logo seguida de Cedofeita, com a mesma grandeza e a seguir Santo Ildefonso com 22.565.
Em 1940 o Cedofeita já tinha passado a dianteira ao Bonfim, mas ambos com cerca de 41.000 e Paranhos já surge em terceiro lugar com 34.498.
A partir daqui Paranhos toma a dianteira e também vamos assistir à lenta com contínua subida tanto de Ramalde, como de Campanhã que vão susbstituir as freguesias mais centrais como motores da dinâmica demográfica.
O que assistimos foi a uma lento esvaziamento  demográfico do centro histórico ( nos últimos 30 anos, as quatro freguesias do chamado Centro Histórico passaram no seu conjunto de 30.000 habitantes para cerca de 10.000 actualmente. E o actual processo de gentrificação da população desta zona da cidade, ( Chama-se gentrificação (do inglês gentrification) ao fenómeno que afecta uma região ou bairro pela alteração das dinâmicas da composição do local, tal como novos pontos comerciais ou construção de novos edifícios, valorizando a região e afetando a população de baixa renda local), permite nos concluir que o processo de declínio populacional ainda não terminou.
Mas para onde foi esta população? Porque as dinâmica populacionais estudadas permitem-nos perceber que inicialmente as populações foram expulsas do Centro Histórico e depois da chamada " Baixa", para as freguesias periféricas, mas dentro da urbe portuense, numa fase seguinte vamos assistir a que os filhos do Porto só conseguiram encontrar casa  fora da cidade, sendo V.N. de Gaia o caso mais clássico de acolhimento desta população, o que fez com que o concelho de Gaia se tornasse o terceiro maior do país a seguir a Lisboa e Sintra.
Mas também, Gondomar, Maia, Matosinhos, Valongo e outro municípios viessem a absorver a sangria portuense.
Esse vai ser o próximo episódio deste temática.


sábado, 24 de fevereiro de 2018

Quinta de Agramonte e Quinta das Águas Férreas



QUINTA DE AGRAMONTE
Chamada inicialmente de Quinta da Agra do Monte.
Foi considerada uma das quintas mais bonitas e produtivas da cidade do Porto.
Tinha uma casa de campo, árvores de belo porte e tudo, ou quase tudo vai desaparecer por causa do Cerco do Porto.
Os liberais vão arrasar esta quinta, Agosto de 1832, diz-se que por questão estratégicas e vão usar toda a lenha para ajudar a aquecer uma cidade que estava sitiada.
A quinta foi expropriada por um valor insignificante à esposa do capitão Joaquim de Pinho e Sousa, Joaquina Augusta Rossi de Pinho e Sousa. O marido tinha falecido em 1831, ela viria a falecer em 1833.
A partir de 1855 viria a transformar-se no Cemitério Ocidental do Porto, cemitério de Agramonte.
A capela data de 1870/71 e é da autoria de Gustavo Adolfo Gonçalves, posteriormente foi ampliada pelo arquitecto Marques da Silva.
Neste cemitério, que ostenta esculturas de Soares dos Reis e de Teixeira Lopes, podemos encontrar os túmulos de Júlio Diniz, o Conde Ferreira, Clara de Resende, Rocha Peixoto, Pedro Oliveira, Jaime Isidoro, entre outros.



QUINTA DAS ÁGUAS FÉRREAS
Começada a ser uma realidade a partir de 1760. Obra do fidalgo da Casa Real José de Sousa e Melo, Visconde de Veires, que dá o nome à rua onde hoje ainda existe a casa que mandou construir, apesar de bem modificada.
Também designada por Quinta do Melo, foi expropriada em 1921 para se instalar aqui a chamada Tutoria Central da Infância.
Existiu nesta quinta, no lado sul da mesma, onde agora se encontra um parque de estacionamento, na Rua das Águas Férreas, uma fonte com qualidades curativas.
, ”Havendo-se descoberto hum manancial de água ferrea, no sitio chamado da Nogueira, junto à Ponte de Cedofeita…”.
Como é facilmente deduzível foi a fonte que veio dar origem ao nome da rua.
Aquando da segunda invasão francesa, 1809, esteve aqui instalado o General Nicolau Trent e também aqui esteve um paiol de pólvora.
Também esteve aqui o Asilo de Mendicidade, um hospital provisório por causa de uma epidemia de cólera, depois o Colégio de Nossa Senhora da Guia, em 1857, e desde 1861 a 1869, o Hospital Militar do Porto.
Em 1880 a congregação religiosa das pelas Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora ou Franciscanas de Calais que nela instalaram a sede da Congregação no Porto, um colégio e uma casa de recolha de pensionistas, sobretudo enfermas. Aqui permaneceram até à expulsão das ordens religiosas do país e nacionalização dos seus bens logo após a implantação da República em 1910.
Aqui funciona o Tribunal de Família, além de outros departamentos do Ministério da Justiça.
Como curiosidade, e para terminar, foi esta quinta o primeiro local pensado, para a instalação do Palácio de Cristal, hipótese que, como sabemos, não foi concretizada, sendo aquele palácio construído na então Quinta da Marca.
Em 2009, e numa cerimónia solene, presidia pelo então primeiro ministro José Sócrates, e pelo ministro da Justiça, Alberto Costa, foi lançada a primeira pedra do futuro Campus da Justiça, que seria um conjunto de edifícios que iriam albergar duas dezenas de serviços judiciais que estão espalhados pela cidade.
Como sabemos tal desiderato nunca avançou de facto para lamento da cidade.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Quinta da China e Quinta de Nova Sintra


QUINTA DA CHINA

Quinta que ficava localizada junto à marginal, mas que subia encosta acima, entestava com a Quinta do Prado, actual cemitério do Prado do Repouso.
Para se rasgar a marginal desapareceu para sempre uma capela que aqui existia e que pertencia à quinta.
A mais antiga referência a esta quinta data de 1679 e sabemos que era propriedade de um cidadão do Porto, de nome João Freitas.
Em 1789 pertencia a João Lopes Ferraz e posteriormente a António Martins de Sousa, pai de Aurélia de Sousa, a mais notável pintora do seu tempo.
Esta quinta era também vizinha da Quinta das Oliveiras, de que falaremos brevemente, já que é mais conhecida pela Quinta dos SMAS.
Nesta quinta e já no século XX existiu um pequeno bairro de ilhas que foi demolido e os seus habitantes foram alojados em diversos bairros sociais do Porto, nomeadamente no Bairro Leonardo Coimbra, em Paranhos

QUINTA DAS OLIVEIRAS/WRIGHT/SMAS/ NOVA SINTRA


Mais conhecida pelo nome de Quinta de Nova Sintra, ou Quinta das Águas, esta é uma das muitas quintas da zona Oriental da cidade.
Entestava à quinta da China a sul e já foi pertença desta.  A norte fazia fronteira com a Quinta do prado, actual cemitério do Prado do Repouso.
Foi no seu belo palacete oitocentista que se instalaram os serviços das Águas e Saneamento.
Chamada de quinta Wright porque foi habitada por uma família inglesa com este nome.
Chamada de Quinta de Nova Sintra porque  pertenceu ao Barão de Nova Sintra, José Joaquim Leite Guimarães,
Nascido em Guimarães em 1808, Brasileiro de Torna Viagem, foi administrador da Companhia de Iluminação e do Gás. Ajuda a criar o Asilo da Mendicidade nas Fontainhas onde a sua marca vai prevalecer por muitos anos.
A sua obra de filantropia mais conhecida vai ser, no entanto o Asilo da Mendicidade da Infância que tinha o nome oficial de Estabelecimento de Artes e Ofícios e do Asilo da Infância desvalida. Tal estabelecimento vai ser erigido na então Quinta da China (rua que actualmente tem o nome do seu patrono). O novo estabelecimento veio a ser inaugurado em 1866 pelo rei  D. Luís.
O Barão de Nova Sintra morreu em 1870.
Em 1932 a Câmara do Porto adquiriu o espaço a uma empresa hortícola que aqui estava instalada de propriedade dos Irmãos Reid, herdeiros do anterior proprietário Robert Reid.
A partir daqui nasce a realidade que ainda hoje conhecemos com a bonita escultura de Irene Vilar defronte à casa que alberga os serviços das águas.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Quinta de Sacais/Cativo


QUINTA de SACAIS

A freguesia do Bonfim tinha, e antes de um processo de urbanização acelerado, quatro grandes quintas; Reimão, Prado, Fraga e Sacais
A quinta da Fraga, vai dar origem às Ruas de S. Victor e à Rua Alexandre Herculano.
Em relação às outras iremos falar delas noutra altura.
A quinta de Sacais, foi também chamada quinta do Cativo, tal designação deve-se ao facto de ter sido pertença de um amigo do Bispo do Porto, D. Ayres da Silva, que ficou cativo em   Alcácer Quibir.
Uma quinta que teve diversos donos, a saber:
Começou por ser pertença de António José Guimarães, cavaleiro da Ordem de Cristo, por herança do seu pai, Domingos Francisco Guimarães.
Em 1812 passa para a posse de João Ribeiro Pereira e de sua mulher Maria Margarida Guimarães Ribeiro.
Falecido o marido esta casa em segunda núpcias
A quinta nos inícios do século XX, ainda com a capela 
Depois de um processo judicial movida por uma bisneta de Margarida Guimarães, a quinta é vendida a Manuel José de Sousa Araújo, falecido em 1869.
Em 1882 a quinta é vendida ao capitalista Ferreira Cardoso
Parte desta quinta e parte da Quinta do Cyrne, serviu depois para serem rasgadas as ruas de Ferreira Cardoso, Conde de Ferreira, Joaquim António de Aguiar, Duque de Palmela, Conde das Antas e Barão de S. Cosme.
A Casa da Quinta, hoje.
O restante da propriedade foi vendido ao banqueiro Francisco Borges em 1913.
Parte do terreno foi cedido para se rasgar a Avenida Camilo que inicialmente estava projectada para terminar na Rua de Pinto Bessa
O bispo do Porto, D. António Barroso, quando veio do exílio forçado (ordenado por Afonso Costa, no período conturbado da I República), na sua terra natal, Remelhe, Barcelos, habitou a casa de Sacais que se localiza na Rua de António Granjo/Avenida Camilo.
A quinta possuía uma capela de invocação a S. Domingos e não a Santa Bárbara como por vezes aparece referido.



quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Quinta da Bela Vista


QUINTA DA BELAVISTA


Quem passa na VCI (Via de Cintura Interna, e venha de sul para norte, antes de passar o estádio     do Dragão, vislumbra no alto um palacete que tem uma história que merece ser contada.
Actualmente ocupada pela PSP a sua história remonta ao inicio    do   século XX quando José Oliveira Lima adquire três propriedades rústicas e as unifica surgindo assim a Quinta da Belavista. Tudo isto custou-lhe em 1912, 4200§00.
Após a compra manda construir um edifício que viria a albergar o Colégio Moderno, instituição inovadora, usando os métodos mais avançados à época. Apesar da inovação, ou talvez por causa dela, o colégio, que funcionava com internato e como externato só durou até 1918, restando hoje e apenas o ginásio que também no seu tempo foi novidade.
Em 1918, e durante uma crise de tifo o espaço foi usado como dependência do Hospital Joaquim Urbano, vulgo, Goelas de Pau.
Em 1921 foi o imóvel adquirido pela GNR, onde instalou aqui a sua força militar.
Deve ter sido um bom negócio pois o Dr. José Lima recebeu 275.000§ pela venda.
Posteriormente e até aos dias de hoje, e como já dissemos, o espaço está ocupado pela PSP.
Para terminar gostaria de referir que o edifício é da lavra do Arq. José Teixeira Lopes (1872-1919), irmão do escultor António Teixeira Lopes.
Parte da antiga Quinta da Lameira está hoje incluída no Parque de S. Roque.


terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Quinta de Marques Gomes


QUINTA DE MARQUES GOMES
Palacete da Quinta de Marques Gomes - Canidelo . V.N. de Gaia

Manuel Marques Gomes (1867-1932), filho de um pescador de Matosinhos, chamado Albino Marques Gomes e de Ermelinda Rodrigues Ferreira.
Tendo ficado órfão, ainda muito novo vai para o Brasil onde como marçano, em Belém do Pará, entra para uma empresa onde consegue subir na hierarquia da mesma chegando a gerente e posteriormente vem a comprar a mesma, mudando-lhe a designação comercial.
Casa com uma mulher, também ela descendente de uma família oriunda de Portugal e os dois vão constituir a Empresa do Grão-Pará, empresa esta que estava ligada à exportação da borracha extraída dos seringais da Amazónia.
Aos 33 anos regressa a Portugal, constitui uma empresa em Matosinhos, que se vai dedicar à exportação de vinhos portugueses para o Brasil.
Vai ainda estar na génese de uma fabrica de conservas que vai ganhar o seu nome.
Entretanto mandou construir, numa quinta que tinha adquirido; a quinta do Morgado que ficava no lugar da Alumiara, Canidelo, um amplo palacete para dar guarida aos seus treze filhos.
O autor da obre foi o arquitecto Correia da Silva (1880-1963), que esteve ligado ao inicio da construção da Câmara Municipal do Porto, assim como ao Mercado do Bolhão.
Homem empreendedor, vamos encontrar o seu nome ligado às várias instituições do seu tempo, como a Misericórdia de Gaia, o que era normal nos homens poderosos de então.
Mas não se ficou por aqui, pois o edifício da antiga escola primária de Canidelo foi construído graças ao seu dinheiro, assim como o campo de futebol do Canidelo.
O apeadeiro da linha de caminhos de ferro de Coimbrões, além de outro melhoramentos vão também ser possíveis graças ao seu dinheiro.
Depois da sua morte a quinta vai parar à posse de um capitalista que residia em Lisboa, Manuel Pereira Júnior.
Depois da revolução de Abril de 1974, o espaço albergou o Centro Popular de Canidelo e posteriormente a CerciGaia.
Hoje encontra-se nas mãos de um fundo imobiliário que já deu ao inicio do processo de construção de moradias, além de habitações colectivas.
O projecto de arquitectura é de responsabilidade do gabinete Barbosa & Guimarães, autores, entre outros projectos, do edifício sede da Vodafone, na Avenida da Boavista.
Defronte ao campo de futebol do Sport Clube de Canidelo encontra-se uma escultura, de Daniel Silva, que homenageia esta grande figura gaiense e não só.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Quinta de Salgueiros


QUINTA DE SALGUEIROS 


A Quinta de Salgueiros (Antas-Porto) pertenceu a Augusto Geraldes de Mesquita (por herança de sua mulher Maria Balbina Carneiro e Silva), filho de Augusto de Carvalho Vasques de Mesquita.  a  Rua Vasques Mesquita fica bem perto da antiga quinta.
Em Parte da Quinta foi rasgada a parte superior da Avenida Fernão de Magalhães.
Aqui viveu a família Geraldes de Mesquita Ramalho até meados dos anos 40 do século XX, na década de 50 a casa esteve alugada, durante alguns anos, a uma senhora inglesa (daí ser apelidada, por vezes, de Quinta dos Ingleses) regressando a Família Mesquita Ramalho à quinta em 1956.
Até finais dos anos 70 a quinta permaneceu habitada e com caseiros.
No ano 2000 a Quinta de Salgueiros foi vendida pela Família Mesquita Ramalho ao Futebol Clube do Porto que posteriormente a vendeu à Câmara Municipal do Porto.
A Quinta de Salgueiros é actualmente propriedade da Câmara Municipal do Porto e está ao abandono apesar de um movimento cívico estar a lutar para devolver a dignidade a este espaço que poderia ser usado para lazer dos portuenses.

ALGUMAS DAS NOTAS FORAM FORNECIDAS POR UMA ANTIGA DONA DA QUINTA

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Quinta do Covelo


A Quinta do Covelo


“Foi n’este mesmo dia [16 de Setembro de 1832] que se lançou fogo á bella casa e ermida da quinta do Covello, para não servir de abrigo ao inimigo…”, diz Luz Soriano, historiador do Cerco do Porto.
A quinta foi fundada por volta de 1720 pelo fidalgo da Casa Real Pais de Andrade que lhe deu o nome de Quinta do Lindo Vale e depois Quinta da Bela Vista. A propriedade foi herdada por duas filhas e depois vendida ao comerciante Manuel José do Covelo. Este melhorou-a bastante, “chegando a produzir 40 pipas de vinho, além de muitos carros de cereal”, escreveu Horácio Marçal. A quinta, com 90.000 m2, tinha residência e capela anexa e passou a ser conhecida pelo nome de Covelo, do seu proprietário. Este faleceu por volta de 1829. Sucederam-lhe na posse da propriedade Manuel Pereira da Rocha Paranhos e depois o filho António Paranhos que a doou para a construção de um hospital que nunca chegou a ser construído. Entretanto, um filho, Isidro António Pereira da Rocha Paranhos, conseguiu, em processo judicial que deu muito que falar, que lhe fossem atribuídos 54% da quinta que veio a vender à Câmara Municipal do Porto. O restante é propriedade do Ministério da Saúde.
No entanto tem sido a Câmara do Porto a gerir praticamente a totalidade do espaço.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

LIVROS SOBRE O PORTO


Deixo vos aqui uma lista possível de livros sobre o Porto, ou livros de ficção onde o Porto é o palco geográfico da trama ficcional. prometo brevemente deixar aqui outras pistas, outros livros( menos os meus que são tratados noutro local deste blogue).Aproveitem e boa leitura

LIVROS SOBRE O PORTO /    ESCRITORES DO PORTO - I PARTE 

Crónica de D. João I – Fernão Lopes
Descrição Topográfica e Histórica da Cidade do Porto – Padre Rebelo da Costa
O Arco de Santana – Almeida Garrett
As Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado – Camilo Castelo Branco
Amor de Perdição – Camilo Castelo Branco
Um Prato de Arroz Doce – Teixeira de Vasconcelos
A Rua Escura – António Coelho Lousada
Uma Família Inglesa – Júlio Diniz
O Balio de Leça – Arnaldo Gama
Um Motim há Cem Anos -  Arnaldo Gama
Portuenses Ilustres – Sampaio Bruno
O porto há Trinta Anos – Alberto Pimentel
O Porto na Berlinda – Alberto Pimental
A Praça Nova – Alberto Pimentel
Os Pescadores – Raul Brandão
Os Famintos – João Grave
O Porto de 1900 – Arnaldo Leite
O Porto do Romantismo – Artur Magalhães Basto
Itinerário Romântico do Porto – Conde de Aurora
A Praça de Liège – António Rebordão Navarro
O Mundo à Minha Procura – Ruben A.
À Porta do Lino – José Saraiva
O Porto Por Fora e Por Dentro -  Alberto Pimentel
O Porto de Outros Tempos – Firmino Pereira
O Porto – Hélder Pacheco (além dos inúmeros livros do prof. Dedicados à cidade e às suas gentes)
Porto -Uma Cidade a Descobrir – Germano Silva (apenas um dos muitos livros do Sr. Germano sobre a cidade)
O Porto em Sete Dias – Júlio Couto
Lendas do Porto – Joel Cleto





sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Toponímia






TOPONÍMIA PORTUENSE

Num Porto pré industrial, a cidade tinha como referências toponímicas as suas vivencias rurais. Adaptava-se aos lugares e ao carácter da zona. O liberalismo trouxe uma nova realidade, nomes como: Heroísmo, Firmeza, Glória, Triunfo, Liberdade, Restauração, trouxeram a exaltação da vitória liberal para as ruas do Porto. Mais tarde os nomes políticos vieram reforçar o pendor antroponímico às ruas da cidade. Com a 1ª República, Estado Novo e pós 25 de Abril ainda se reforçou mais essa tendência. Mas num passado relativamente recente nada disto se passava, assim podíamos ver num roteiro de 1880,  nomes  como:
BECOS
De Cadavai, do Monte, Pedregulho, Pedreira, Panelas , da Rosa
CAIS
Da Paixão, das Pedras, Ribeira
CAMPOS
Grande, Pequeno, Regeneração, Rou
LARGOS
Aguardente, Anjo, Açougue Real, Boa Nova, Bom Sucesso, Cadeia, Calvário, Camarão. Castelo, Correio, Feira, Fradelos, Laranjal, Monte Belo Ourivesaria, Paço da Marquesa, Pena, Polícia.
SANTOS /SANTAS
Uma infinidade …
LUGARES
Aguada, Aldeia Nova, Agueto, Azenha, Barreiras, Bouça, Ribas, Cabo, Campo, Casal, Corujeira de Baixo e de Cima, Couto, Empegado, Esprela, Esteiro, Fonte Arcada, Formiga, Furamontes, Ilhéu, Godim, Luzares, Macedo, Mata Sete, Mazorra, Monte, Mouteira, Outeiros da Vela, e de Tine, Padrão, Passo, Ponte Escura, Pinheiro, Regueira, Tamonte, Telheiro, Tronco, Tirares, Travessa do Espinheiro, Vale…
MONTES
Lapa, Eirinhas, Fontinha, Germalde, Vilar


NOMES QUE FORAM…
Arcos, Bairro Alto, Valas, Banhos, Barreira, Bela da Princesa, Bica, Caramujo, Congostas, Direita, Germalde, Lavadouros, Liceiras, Monte da Carreira, Murta, Palma, Prata, Reguinho, Sacais, Senhora de Agosto, Senhora do Ferro,
TRAVESSAS JÁ DESAPARECIDAS
Banhos, Bouça, Calvário, Capuchos, Castanheiro, Estrela, Feiticeiras, Florida, Lage, Luciano, Nora, Pardieiros, Calca Frades, Calhaus, Cirne, Galinha, Gatos, Malmerendas, Neta, Pasteleiro, Pombas, Praia, Tintureiro, Val de Pegas


Nos próximos textos vamos aprofundar alguns destes nomes….

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Livrarias



Numa época em que as livrarias têm encerrado de uma forma sistemática (  Sousa & Almeida na Rua da Fábrica),  Livraria Leitura, na Rua de Ceuta, ligada ao livreiro Fernando Fernandes, que tinha vindo da Divulgação, e pelo editor José Carvalho Branco), e falando-se ainda em algumas que poderão encerrar, ou deslocalizar-se, será curioso conhecerem as livrarias existentes na cidade em 1910, nas vésperas da implantação da República.
Ainda está por fazer a grande história do mundo livreiro portuense. Aqui, neste blogue iremos dar a nossa contribuição para que parte dessa história seja conhecida.


LIVRARIAS DO PORTO EM 1910

Académica – Rua de Cedofeita, 46
António Dourado – Rua do Carmo, 3
Arquivo Jurídico – Rua do Bonjardim, 67
Camões – Rua do Almada, 24
Católica Portuense - Largo dos Lóios, 53
Centro de Publicações, de Arnaldo Soares, Praça de D. Pedro, 125
Companhia Nacional Editora, Largo dos Lóios, 41
Eduardo Tavares Martins, Rua dos Clérigos,8
Empresa de História de Portugal, Rua de D. Pedro, 116-2º
Empresa Literária e Tipográfica, Rua de D. Pedro, 178
Jacinto Silva (Viúva), Rua do Almada, 134
José Lopes da Silva, Travessa da Fábrica,20
José Ribeiro de Novais Júnior, Rua do Almada, 192
Livraria Chardron, Rua dos Clérigos,96
Livraria Elísio, Rua Formosa,282
Livraria Evangélica, Rua Mouzinho da Silveira,89
Livraria Moreira, praça de D.Pedro, 42
Livraria Moreira da Costa – Rua de Avis nº 36
Nova Livraria Económica, Largo de Santo André,31
Popular Portuense, Largo dos Lóios, 44
Portuense, Lopes & Ca, sucessores de Clavel & Ca. Rua do Almada, 123
Portuguesa, Largo dos Lóios, 55
Portuguesa Religiosa, Rua do Almada, 24
Religiosa e Científica, Rua de D. Pedro, 67
Sousa & Brito, antiga Casa Barros & Filha, Rua do Almada 104
Universal, de Magalhães & Moniz, Largo dos Lóios,12

 TOTAL DE LIVRARIAS 25

Como podem ver a única que ainda hoje existe é a Moreira da Costa. Bem haja ao trabalho que o Miguel e a sua esposa têm feito, resistindo aos tubarões do mundo financeiro que tudo têm feito para os desalojar daquele lugar....

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Transportes


NOTAS SOBRE A FOZ

A Foz como parte integrante da cidade do Porto é algo recente: De facto só a partir de 1836 um decreto régio de D. Maria II pôs fim a uma independência concelhia que durava desde 1834. Tal situação não admirou dado que o concelho, formado por uma só freguesia (ainda por cima exígua) sem capacidade financeira estava condenada a desaparecer. De referir ainda que durante os dois anos de autonomia os vereadores reuniam-se num edifício já demolido na R. Padre Luís Cabral (antiga R. Central) junto à capela de Sta.Anastácia.

TRANSPORTES DO PORTO PARA A FOZ


Carroção para a Foz

   Os meios de transporte do Porto para a Foz e vice-versa, sofreram ao longo do tempo uma evolução natural não só no sentido de melhorar a qualidade do transporte, mas também de encurtar o tempo de viagem entre a então Praça Nova (Praça da Liberdade) e a Foz. De todas as linhas que existiram, a mais curiosa para os dias de hoje era a que se denominou o “Carroção “que era no dizer de Ramalho Ortigão” um pequeno prédio com quatro rodas, puxado por uma junta de bois”. Dentro havia duas bancadas paralelas, em que se sentavam os viajantes. Por fora sobre uma faixa de cor alegre, lia-se o nome do proprietário “Manuel José Oliveira” conhecido por toda a gente pelo nome de “Manel Zé”. Depois do carroção surgiram os chars – à – bancs, que, eram umas carruagens com assentos laterais e que levavam várias pessoas. Em 1870 o então Barão da Trovisqueira é autorizado pelo decreto de 15 de Agosto a “estabelecer à sua custa na estrada pública entre o Porto e a povoação da Foz, podendo prolongar-se até Matosinhos, um caminho-de-ferro para transporte de passageiros e mercadorias”, servido por cavalos. Em 1874 a Companhia Carris de Ferro do Porto inaugurou uma carreira de americanos entre o então Largo de Ferradores (actual Praça Carlos Alberto) e o Largo de Cadouços (Foz) que se manteve até 1910. A tracção a vapor fez a sua aparição em 1877, no trajecto entre a Boavista e Cadouços, sendo em 1882 prolongado o percurso até Matosinhos, e será para muita gente novidade que tenha existido uma linha de comboio a ligar a Rotunda a Matosinhos passando pela Foz.Em 1882 o trajecto era o seguinte: Boavista, Bessa, Fonte da Moura, Ervilha, Cadouços, R. Túnel, Gondarém, Castelo do Queijo, Matosinhos, (R. Brito Capelo). Será curioso ainda referir que o comboio antes de chegar à Ervilha atravessava uma ponte de pau (actual rua Correia de Sá) sobre a então R. de Serralves (actual R.Tânger) Em meados de 1910 a linha foi suprimida e pelos locais do seu trajecto foi aberto a Av.Marechal Gomes da Costa.Em 1914 é iniciado o processo que visava o prolongamento da linha eléctrica da Boavista ao Castelo do Queijo com a consequente supressão da tracção a vapor.Estas são em linhas gerais as principais notas a referir sobre a evolução dos transportes para a Foz e que ajudaram a fazer aquilo que ela hoje é. 


terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

D.Antónia - A Ferreirinha


ANTÓNIA ADELAIDE FERREIRA

Nasceu na Régua, em 1811. Filha de um abastado proprietário e negociante de vinhos, José Bernardo Ferreira e de sua mulher Margarida Rosa Gil.
 Em 22 de Outubro de 1834 casa, por conveniência, com o primo António Bernardo Ferreira, igualmente filho único e dono de uma grande fortuna.
Em 1842 nasce Maria da Assunção, filha do casal. Entretanto o casal de primos vai-se desentender: ele vai para Paris e aí morre, em 1844, ela radica - se nas suas quintas do Douro.
A sua filha, Maria da Assunção, então com onze anos, vai ser alvo da cobiça do Duque de Saldanha que era, à época chefe do Governo em exercício.
Este queria casar o seu filho com ela para daí aceder à fortuna da Ferreirinha. Com ajuda do irmão de Maria da Assunção, António Bernardo Ferreira, prepara um rapto que vai ser mal sucedido.
D. Antónia opôs se e, para se ver livre das insistências, transfere se para Lamego. Estávamos em 25 de Agosto de 1854. O filho do duque, tenta convencer D. Antónia, mas esta resiste e foge para Londres, onde permanece até 1856.
Ainda na Inglaterra vai casar, em segundas núpcias, com Francisco Silva Torres., um rico capitalista portuense.
Maria da Assunção vai casar, em 1860, com o conde de Azambuja. O casal entrega se a uma vida libertina e esbanja a grande herança que havia herdado do pai. Acaba por se abrigar junto da mãe, que a acolheu e ao marido. Em 1861 dá se um naufrágio quando a abastada família de D. Antónia regressava da sua Quinta de Vesúvio à Régua.  Nesse naufrágio morre o barão de Forrester. Em 1870 o filho de D. Antónia (António Bernardo Ferreira, casado com a irmã de Antónia Plácido Braga, irmã de Ana Plácido,), tal como acontecera à sua irmã, também abre falência. Nesse mesmo ano, a Maria da Assunção leva a mãe a tribunal, reclamando a totalidade da sua herança. Em 1877 D. Antónia arremata vários talhões e baldios no Monte Meão, concelho de Foz Côa e constrói, aí, mais um grande império. Essa quinta pertence hoje a um seu trineto: Francisco Olazabal. O marido de D. Antónia morre em 24 de Junho de 1880. Ela morre em 26 de Março de 1896 na sua Quinta das Nogueiras (Régua). Era a maior proprietária do Douro, com mais de vinte quintas, com capacidade para mais de 1500 pipas. Na época a sua fortuna estava avaliada em 5.907 contos. Era das maiores do país. Manuel Carvalho que fez o relato que nos serve de base, na revista Pública, de O Público, de 9/2/97, escreve: "no dia do seu funeral, os 4 km de distância entre a Quinta das Nogueiras e o Cemitério da Régua estavam pejados de populares que ajoelhavam à passagem do cortejo, chorando a morte de uma "santa" e de uma "mãe dos pobres". Em 1996 o historiador Gaspar Martins Pereira publicou um livro sobre a história desta importante família Duriense, para o que contou com a colaboração de Maria Luísa Nicolau de Almeida Olazabal que durante dez anos pesquisou em busca de uma investigação que ressuscitou uma grande Mulher: Dona Antónia Adelaide Ferreira. A Ferreirinha da Régua.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Freguesia de S. Nicolau


FREGUESIA DE S. NICOLAU


A freguesia de S. Nicolau nasceu em 1583, ano em que o Bispo do Porto, D. Frei Marcos de Lisboa (Bispo do Porto entre 1581 e 1591), dividiu a Sé em três novas freguesias: Vitória, S. Nicolau e Belomonte. No entanto esta última foi de efémera duração, já que o seu território depresso foi anexado à freguesia da Vitória.
A partir desta data a cidade passa a contar com quatro freguesias: as três já referidas e a da Sé que, a partir daqui, iria ter a concorrência económica e social da freguesia da Vitória, onde iremos brevemente.
Hoje a freguesia de S. Nicolau é a mais pequena da cidade em área, segundo os Censos 2011. Tem apenas 2 072 habitantes. Em 1981 tinha 10 914 habitantes! Foi a freguesia que mais sofreu com o despovoamento do Centro Histórico.


Freguesia da Sé



FREGUESIAS DO PORTO
1ª PARTE - CENTRO HISTÓRICO

FREGUESIA DA SÉ


Podemos dizer que foi aqui que tudo aconteceu. A Sé, o velho promontório rochoso da Pena Ventosa é (juntamente com a Ribeira?) o mais antigo local de ocupação humana, de uma forma perene, que o Porto conheceu.
A zona da Sé foi ocupada pela cultura castreja que, apesar de tudo, não nos deixou muitos elementos físicos da sua presença. Nada de novo, no que à civilização castreja diz respeito.
Segundo alguns autores, terão existido centenas de povoados no Norte de Portugal e, no que à Sé diz respeito, foi na vetusta Rua de D. Hugo que foram encontradas as provas dessa mesma ocupação. A datação aponta para a segunda metade do primeiro milénio a.C.
Depois vieram os Fenícios e chegamos à fase que nos interessa, a construção da muralha dita sueva que, hoje sabemos, é tardo-romana e data, possivelmente, do século III d.C.
No entanto, sabemos também que já tinha existido uma pequena cerca à volta do minúsculo povoado castrejo. A muralha tardo-romana cercava um pequeno território com cerca de três a quatro hectares e um perímetro que não chegava aos 800 metros. A muralha fernandina ainda vinha longe…!
O nosso passeio começa na Sé, centro fulcral e lógico de tudo o que temos vindo a falar: o zénite gravitacional do Portus Calem; até o nome se encontra envolto em polémica — porto de abrigo, será a tradução mais pacífica. Para outros, o nome Calem vem de Calleach, divindade, figura cimeira da mitologia Celta. Para complicar mais a situação poderá vir de Kal, ou Cal, termo celta que significa rocha ou pedra; este último serve para designar o promontório granítico da Pena Ventosa, que se tornou uma das referências míticas do Porto e que está indissociável da imagem que temos da cidade, austera e granítica.
Impossível falar do Porto deste tempo sem falar de D. Hugo. O prelado que engrandeceu o velho burgo portucalense.
Veio de França para a Península, numa altura em que a Catedral de Santiago de Compostela era motivo para a vinda de inúmeros religiosos. Foi nomeado cónego de Santiago e, em 1113, é nomeado bispo do Porto. No ano de 1120 D. Teresa doa-lhe não só a cidade como o Termo do Porto, ou seja, uma vasta área que ia desde Santa Maria da Feira, Penafiel, Terras da Maia, Gondomar entre outras mais e, em 1123, D. Hugo concede um foral à cidade que apenas consta de um conjunto de direitos e obrigações mas, elaborados de uma maneira tal, que vem a ser o responsável para que a cidade comece, lentamente, a crescer e a tornar-se ela mesma o centro de toda uma região.
Hoje, segundo os Censos de 2011, a Sé tem 3 650 habitantes, no entanto, em 1960 a Sé tinha 14 651 habitantes, cerca de quatro vezes mais, donde podemos aquilatar o despovoamento do centro histórico.